Estudo de mestrado comprova efeitos positivos do suco de uva branco para a saúde.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 11/08/2017 | Editado em 22/02/2024

Pela primeira vez um trabalho científico comprova os efeitos positivos para a saúde decorrentes da suplementação alimentar feita com suco de uva branco. Entre os resultados, chama a atenção dos pesquisadores, o aumento de HDL, popularmente conhecido como o colesterol bom, e a redução de peso e medidas, com um possível impacto na redução da incidência de doenças cardiovasculares.

A descoberta faz parte da Dissertação de Mestrado Efeitos da Suplementação de Suco de Uva Branco sobre as Medidas Antropométricas em Mulheres, que será apresentada no dia 18 de agosto, pela biomédica Caroline Zuanazzi, no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, da Universidade de Caxias do Sul.


A produção de uva encontra-se em 10º lugar no ranking de alimentos produzidos no Brasil. Em 2016, a viticultura no Brasil ocupou uma área de 81 mil hectares, onde foram produzidas 717,9 toneladas de uvas. O estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor de uva do país, com seis regiões vitivinícolas que, em 2016, produziram 300,3 toneladas de uva. Deste total, 268 toneladas são de variedades americanas e híbridas, usadas na elaboração de vinho de mesa e suco, e 32,3 toneladas são de uvas V. vinifera, usadas para elaborar vinhos finos e espumantes.
Dados do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) de 2016.
A professora Mirian Salvador (à esquerda) orientou o projeto de mestrado da biomédica Caroline Zuanazzi.

É sabido que os compostos fenólicos encontrados nas uvas e seus derivados podem reduzir o risco de doenças cardiovasculares e diminuir a pressão arterial.

A literatura científica já listou os benefícios para a saúde humana do consumo dos produtos derivados da uva, especialmente o vinho e o suco de uva, tais como, por exemplo, a capacidade de neutralizar os danos oxidativos causados pelos radicais livres, a prevenção da hipertensão e das disfunções cardiovasculares, e a atividade anticarcinogênica. No entanto, esses estudos sempre estiveram mais focados no consumo do vinho e do suco de uva tinto. Não havia na literatura, estudos que comprovassem que esses mesmos resultados se repetiriam com relação ao consumo de suco de uva branco.

O projeto de Mestrado de Caroline buscou, então, preencher essa lacuna de conhecimento. Seu objetivo era avaliar os efeitos benéficos da ingesta de suco de uva branco, estudando os possíveis efeitos da suplementação da bebida sobre medidas antropométricas, pressão arterial, glicemia, perfil lipídico e danos oxidativos em mulheres saudáveis.

Para auxiliar na comprovação de suas hipóteses de pesquisa, Caroline teve a colaboração de um grupo de 25 voluntárias (mulheres entre 50 e 67 anos) do Programa UCS Sênior – Educação e Longevidade, que reúne pessoas a partir de 50 anos para compartilharem experiências de aprendizagem e convívio social.

As voluntárias do Programa UCS Sênior em um dos encontros com as orientadoras e equipe do projeto.

 

Durante 30 dias, as voluntárias, mediante acompanhamento nutricional, foram orientadas a ingerir 7ml/Kg peso/dia de suco de uva branco, mantendo uma dieta ajustada para manutenção do valor calórico total.

No dia 18 de agosto, ao fazer a defesa pública da sua Dissertação de Mestrado, Caroline apresentará os resultados que mostram, pela primeira vez, a capacidade do suco de uva branco na modulação de parâmetros antropométricos e bioquímicos em mulheres adultas. Mesmo com menor teor de polifenóis do que o suco de uva tinto, o suco de uva branco foi capaz de aumentar o colesterol HDL, e diminuir o IMC e a circunferência da cintura e do abdômen. Não foram observadas alterações na glicemia, insulina e nos níveis de óxido nítrico ou nos marcadores de danos oxidativos.

 

Ineditismo, impacto científico e interdisciplinaridade

“Além do ineditismo e do impacto científico, já que pela primeira vez se analisam os efeitos do suco de uva branco como suplementação alimentar, os resultados obtidos por Caroline nos mostram que o consumo regular dessa bebida também pode trazer benefícios para a saúde humana. O aumento em 16% do HDL é um dado que merece ser destacado, pois não é comum conseguir-se um aumento tão expressivo com alimentos. Além do aumento do HDL, que pode ter impacto na redução de doenças cardiovasculares, os estudos comprovaram que a ingestão de suco de uva branco – duas vezes ao dia por 30 dias – resulta na diminuição da circunferência abdominal e do Índice de Massa Corporal (IMC), com perda de peso e medidas. Mesmo o suco de uva apresentando um conteúdo significativo de açúcar, não se registrou, entre as mulheres avaliadas, aumento da glicemia ou insulina, o que aponta para o possível consumo por diabéticos”.


O suco de uva vem ganhando cada vez mais espaço nas indústrias, com um crescimento médio de 28% nos últimos cinco anos, sendo o maior responsável pelo aumento da produção da bebida o suco de uva integral. O suco de uva integral destaca-se como o produto de maior potencial de vendas do setor vitivinícola no estado do Rio Grande Sul. A venda da bebida, passou de 4,1 milhões de litros em 2004 para mais de 76 milhões de litros em 2016. Este crescimento do consumo pode ser atribuído a diversos fatores, como a qualidade do produto e seus benefícios à saúde, já que a bebida é livre de álcool e pode ser consumida por diversas faixas etárias.
Em sua dissertação, Caroline utiliza dados atualizados do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN).

A professora Dra. Mirian Salvador, coordenadora do Laboratório de Estresse Oxidativo e Antioxidante do Instituto de Biotecnologia e orientadora do projeto de Mestrado de Caroline, está entusiasmada com os resultados obtidos nesses dois anos de pesquisas, importantes do ponto de vista acadêmico e científico, que podem gerar também um impacto positivo no mercado de derivados da uva, “que é muito forte em nossa região”.

A orientadora também destaca o perfil interdisciplinar do projeto, que envolveu a coorientação das professoras doutoras Josiane Siviero do curso de Nutrição, e Regina Vanderlinde, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, e ainda a participação de bolsistas de iniciação científica da área da Nutrição. “Este projeto é também um ótimo exemplo de como fazer ciência com pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento”.

O desafio de mergulhar em um tema desconhecido

Biomédica, graduada pela Feevale em 2010, Caroline atuou por algum tempo em laboratórios de análises clínicas. No entanto, logo percebeu que era preciso avançar na sua formação e encarar novos desafios. A descoberta do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em uma busca no site da Universidade de Caxias do Sul, trouxe-a de volta à cidade de São Marcos, onde vive a sua família, e abriu-lhe novas possibilidades de formação profissional.

Ao analisar as linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, Caroline interessou-se pela que abrange os “Danos Oxidantes e Antioxidantes”, em que se estudam os efeitos biológicos causados pelos radicais livres em células eucarióticas e analisar a proteção conferida por diferentes antioxidantes a esses danos. E, a partir de uma primeira conversa com a professora Mirian Salvador, responsável por essa linha de pesquisa, surgiu a ideia de ingressar como voluntária no Laboratório para se familiarizar com os estudos e rotinas ali realizados, antes de formalizar a sua inscrição no processo seletivo do Mestrado.

“Meu principal desafio foi mergulhar em um assunto até então novo pra mim. Não sabia quase nada sobre o que era estresse oxidativo e antioxidante e também sabia pouco sobre uva e derivados. Mas foi muito gratificante aprender sobre o tema e saber que termino o Mestrado ampliando meus conhecimentos, que era meu objetivo principal ao entrar na pós-graduação. Fiz novas amizades e estou terminando um trabalho com ótimos resultados de pesquisa que pode ser levado para a comunidade pois trata de um produto que é da nossa região e faz bem para o nosso organismo”.

Caroline e Paulina Maccari, acadêmica de Nutrição e bolsista de iniciação científica, no Laboratório de Estresse Oxidativo e Antioxidante.

Pelo seu caráter interdisciplinar, o trabalho de Caroline conjugou conhecimentos das áreas de química, biotecnologia e nutrição e resultou de uma grande colaboração de pesquisadores de outras áreas, além das voluntárias do Programa UCS Sênior. Aqui vale ressaltar a adesão das voluntárias, que ao participarem do experimento também passaram por uma formação sobre a importância da alimentação saudável.

“Entre as minhas aprendizagens, ficou claro que a pesquisa é algo que não se faz só. Meu trabalho foi, de certa forma, complexo, e necessitou da participação específica de algumas pessoas de áreas de conhecimento diversas. Cada uma delas contribuiu com seu conhecimento, fazendo com que este projeto fosse concretizado e desse certo. Vale lembrar que este é o primeiro trabalho que se realiza na Universidade de Caxias do Sul com suplementação de humanos. E, analisando todo o trabalho feito, estou muito feliz em saber que concluí mais uma etapa da minha formação profissional e adoraria continuar fazendo pesquisa, talvez me candidatando à seleção de Doutorado, pois sei que ainda tenho muito a aprender”.

Entre os que colaboraram para a realização do projeto de Mestrado de Caroline, Paulina Maccari, acadêmica de Nutrição e bolsista de Iniciação Científica, participou desde o início, o que nas suas palavras “foi uma experiência valiosa”, que lhe deu incentivo para também ingressar em um curso de mestrado, após o término da graduação.

Pesquisa para a promoção da saúde e a prevenção de doenças

O Laboratório de Estresse Oxidativo e Antioxidante faz parte da estrutura laboratorial do Instituto de Biotecnologia e dá suporte às atividades de ensino, pesquisa e extensão de diversos cursos de graduação e de pós-graduação. Além dos estudos envolvendo o suco de uva branco, estão em desenvolvimento vários projetos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, que, em última instância, visam produzir conhecimento sobre os efeitos biológicos causados pelos radicais livres, voltado para a promoção da saúde e a prevenção de doenças, destacando-se as pesquisas com:

  • Casca de pinhão para o tratamento do câncer.
  • Produção de biofilmes a partir de resíduos da produção de suco de uva orgânico e da indústria da maçã para embalar alimentos.
  • Uso de proantocianidinas da uva para tratamento de diabetes e redução de danos oxidativos.
  • Uso de laser na recuperação após exercício físico.

Fotos: Claudia Velho e Aldo Toniazzo (IMHC-UCS)