ALERTA CONTRA O HIV

O BRASIL E CAXIAS DO SUL ESTÃO NA CONTRAMÃO DO QUE MOSTRAM AS PESQUISAS MUNDIAIS: AINDA APRESENTAM DADOS CRESCENTES DE CONTAMINAÇÃO

VAGNER ESPEIORIN | vaespeio@ucs.br
Fotos de Claudia Velho

Em julho, o mundo recebeu uma boa notícia: os casos de infecção por HIV recuaram 27,5%, entre 2005 e 2013. Mas o Brasil, porém, não teve muito que comemorar. Por aqui, o índice de novos infectados foi positivo e ficou em 11%. Os dados do programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) ilustram uma preocupação: apesar do avanço da informação e das campanhas de conscientização, o rastro de contaminação se ampliou.

Em Caxias do Sul, a história se repete. Em 2010, a cidade calculava que 1.833 pessoas estavam cadastradas como portadoras do vírus HIV. Quatro anos depois, os dados ampliaram consideravelmente. Hoje, 2.684 pessoas estão relacionadas no cadastro do Serviço de Infectologia da Secretaria Municipal de Saúde.

O aumento de 46% de pessoas infectados não apresenta uma causa única. Conforme a coordenadora do Serviço Municipal de Infectologia, Grasiela Cemin Gabriel, a descentralização do teste rápido - que identifica o vírus - ajudou no diagnóstico de pessoas contaminadas e ampliou o contingente em tratamento. Apesar disso, a mudança de percepção em relação à doença tem sido um fator negativo. "A Aids se tornou uma doença crônica, que conta com tratamento. As pessoas ficaram menos preocupadas", explica Grasiela.

De fato, uma pessoa que desenvolvia Aids - gerada a partir da infecção do HIV - na década de 1980 era estigmatizada. Violenta, a doença levava as vítimas ao óbito em pouco tempo. "Quando se conheceu os primeiros casos, não se tinha tratamento. As pessoas morriam vítimas de infecções oportunistas. Tentava se tratar essa infecção, mas era ineficaz, porque não se tinha controle sobre a doença base", explica o professor de Infectologia da UCS e médico no Hospital Geral, Juliano Fracasso.

Na década de 1990, houve um avanço inicial com o desenvolvimento de pesquisas e a criação dos primeiros medicamentos mais eficientes. Mas foi em 2006 que ocorreu uma melhora considerável da qualidade de vida dos pacientes. "Até 2006, o tratamento era bastante rudimentar. Depois, com o surgimento de nova medicação, os doentes passaram a viver melhor", recorda o infectologista.

Foi nesse momento que a qualidade de vida dos infectados se ampliou e fez com que muitas pessoas desconsiderassem o potencial de maior agressividade do vírus. Apesar dos avanços relacionados à contenção da infecção, a Aids é uma doença bastante agressiva. "Ainda tem gente que morre de Aids. Especialmente, as que negligenciam o tratamento", reconhece o médico. Exemplo dessa afirmação, os números do relatório da Unaids consideram que 16 mil pessoas com HIV morreram em 2013, no Brasil. "A prevenção e a adesão ao tratamento antirretroviral ainda são as melhores armas na luta contra o HIV. Para conseguir bons resultados, o paciente soropositivo precisa não só de medicações adequadas, mas do uso regular delas", alerta a coordenadora do Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS da UCS, Rosa Dea Sperhacke.

Conforme ela, um dos maiores desafios está na erradicação do vírus do organismo, especialmente nos chamados reservatórios ou "santuários". Esses "locais" são compostos de células infectadas afastadas da corrente sanguínea e com o vírus em estado latente. Juntos, os fatores não permitem que essas zonas sejam atingidas pelos antirretrovirais. Apesar da dificuldade de se obter a cura, a pesquisadora mantém uma posição otimista sobre as pesquisas no mundo. "O que sabemos é que precisamos continuar em frente, porque há muitas evidências e muitos dados dizendo que podemos fazer progressos", projeta.

UM CENTRO DE ESTUDO

Localizado no bloco S da Cidade Universitária, o Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS - LPHA, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, atua no desenvolvimento de estudos relacionados ao vírus desde 2002. Trabalhando em quatro linhas de pesquisas, o laboratório analisa diagnósticos de HIV/AIDS e patologias associadas, promove estudos observacionais e intervencionistas, estudos sociocomportamentais e a validação de metodologias.

Em 2009, o laboratório se destacou pela criação de uma metodologia de validação de exames por meio da coleta de sangue seco em papel filtro. O método permite manter as propriedades do material coletado por 12 semanas, enquanto que, normalmente, as amostras de sangue devem ser testadas em até duas horas após a retirada.

Atualmente, o laboratório desenvolve dois protocolos de pesquisas internacionais. O primeiro tem relação com a rede IMPAACT (Internacional Maternal Pediatric Adolescent AIDS Clinical Trial) e busca estudar parturientes por meio da pesquisa Promise, que atua na promoção da sobrevivência materna e infantil. O segundo diz respeito ao Consórcio para avaliação e performance de testes de incidência para HIV (CEPHIA). O protocolo avalia indivíduos - com infecção aguda e recente - e seus parceiros com o objetivo de estudar os mecanismos relacionados à transmissão do vírus.

A TRANSMISSÃO

A forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade prevalece sendo por meio da relação sexual. Nas mulheres, 86,8% dos casos registrados em 2012 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Entre os homens, 43,5% dos casos se deram por relações heterossexuais, 24,5% por relações homossexuais e 7,7% por relações bissexuais. O restante ocorreu por transmissão sanguínea e vertical.

O VÍRUS

Atualmente, ainda há mais casos da doença entre os homens do que entre as mulheres, mas essa diferença vem diminuindo ao longo dos anos. Em 1989, a proporção de contaminados por sexo era de cerca de seis casos de AIDS no sexo masculino para cada um caso no sexo feminino. Em 2011, último dado disponível, chegou a 1,7 caso em homens para cada um em mulheres.

FIQUE LIGADO

A melhor maneira de se prevenir contra a Aids é utilizando a camisinha. O preservativo pode ser encontrado em Unidades Básicas de Saúde de forma gratuita.

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Revista UCS - É uma publicação mensal da Universidade de Caxias do Sul que tem como objetivo discutir tópicos contemporâneos que respondam aos anseios da comunidade por conhecimento.

O texto acima está publicado na décima quarta edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.

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