A década de 1960 produziu grandes mudanças. Com a consolidação das revoluções comportamentais, o mundo experimentava uma nova formatação. O rock dos Beatles se popularizava entre os jovens e, no cinema, Audrey Hepburn se eternizaria como ícone no filme "Bonequinha de Luxo". Se nas artes, a contracultura atacava com tudo, na política, o mundo era bipolar. De um lado os Estados Unidos; de outro, a União Soviética. A Guerra Fria dominava o cenário. No Brasil, foram os militares que se apossaram do poder. Em Caxias do Sul, no início daquela década, o contexto era de estímulo ao conhecimento. Em 1963, a Faculdade de Ciências Econômicas - que iria anos depois, com outras faculdades, dar origem à UCS - formava a primeira turma.
Em 1956, a Mitra Diocesana, sob o bispado de Dom Benedito Zorzi, resolveu lançar, em Caxias do Sul, o seu primeiro curso de Ensino Superior na cidade. Três anos depois, a Faculdade de Ciências Econômicas recebeu os primeiros acadêmicos. Mas foi em 1963 que os resultados do trabalho educativo ficaram mais claros: 33 acadêmicos receberam o título de bacharel.
O economista Raul Tessari, 76 anos, era um dos formandos que colou grau no dia 16 de março de 1963. Na época, a cidade já havia deixado de lado a base agrícola para dar vazão ao ímpeto industrial. A mudança exigia recursos humanos para atuar em novos setores da economia. "Era uma turma bastante heterogênea. Por ser uma das primeiras faculdades em Caxias do Sul, tinha alunos mais experientes e que já atuavam no mercado", recorda Tessari.
Ele mesmo tinha feito o curso técnico de Contabilidade, até então, maior titulação que alguém poderia obter sem precisar sair da cidade. "Tinha uma característica especial, porque era algo novo. Poucos eram os que faziam faculdade na própria cidade", reforça. Antes, quem queria fazer uma graduação precisava se deslocar a Porto Alegre.
Os vínculos com a capital, no entanto, não foram totalmente deixados de lado com a criação do curso. Se, para a solenidade, Caxias contava com um espaço amplo e aconchegante, como o antigo Cine Ópera, carecia à cidade as vestimentas para os formandos e professores. Tessari lembra que foi preciso buscar em Porto Alegre as togas que vestiram os 33 formandos e os professores. Mas engana-se quem pensa que a missão foi simples.
Ao lado do padre e professor Dalcy Fontanive, Tessari seguiu para Porto Alegre em busca das roupas para a formatura. A dificuldade maior ficou por conta do espaço destinado ao transporte das togas: um fusca. E foi o veículo popular o responsável por transportar as mais de três dezenas de roupas oficiais. "O espaço no carro era pequeno, e tivemos que colocar parte das peças no bagageiro e a outra parte nos bancos de trás para que coubessem todas elas", afirma Tessari.
Um curso diferenteNa década de 1940, o traçado da BR-116 se estendeu a Caxias do Sul e fortaleceu a logística local. Paralelamente a isso, a indústria metal-mecânica se desenvolvia e precisava, cada vez mais, de profissionais preparados, tanto na produção quanto na administração. Naquela época, os cursos de Economia tinham uma característica mais organizacional, formando profissionais que atuassem dentro das empresas. Hoje, o perfil se modificou e se projetou para a análise de mercado e para as as estratégias que envolvem os entes públicos e privados.
O próprio Tessari é um exemplo dessa busca por qualificação e competitividade empresarial. Após formado, o economista deu consultorias a diferentes empresas, antes de se tornar diretor da Agrale, em 1968. Em 1974, foi convidado para atuar na Marcopolo, onde permaneceu até 2004.
"Naquele tempo, as indústrias já demandavam por profissionais da área. O curso de Economia não deixava de ter uma parte que corresponderia à Administração", esclarece.
Diariamente, um grupo de Bento Gonçalves se deslocava para Caxias do Sul para ter aula. No grupo estava a única mulher que cursava a graduação: Mafalda Maria Michielon Neis.
De 1963 para cá, o curso experimentou consideráveis modificações. Entre elas, a presença mais forte de mulheres nos bancos escolares, que hoje dividem de igual para igual as estatísticas de ingresso. Outra mudança é em relação às alterações provocadas pelas especializações profissionais. Administração, Comércio Internacional e Ciências Contábeis exemplificam o processo de segmentação de conteúdos reunidos antes em Economia.
De olho em investimentosAtualmente, a graduação foca no mercado de investidores e busca instrumentalizar os alunos para a análise de oportunidades. Fabiano Scopel, de 30 anos, está no último semestre do curso. Atualmente, ele tem dupla rotina. Além de trabalhar numa loja de departamento, faz investimentos na bolsa de valores. O interesse por Economia nasceu justamente do prazer que nutria em relação ao mercado financeiro.
Quando ingressou no curso, em 2008, o mundo vivia um período de crise. Nos Estados Unidos, a bolha imobiliária assolava os investidores, e suas dificuldades se expandiam para outros países. Se diante de uma crise, algumas pessoas buscam oportunidades, Fabiano buscou a sua. De Flores da Cunha, onde mora, ele passou a deslocar-se para Caxias diariamente, com o objetivo de ter aulas de Economia.
Paralelamente às atividades de estudo, ele foi se dedicando a trabalhos associados à carreira. Atuou em um banco e mais recentemente vem aplicando investimentos na bolsa. Ambev, Cielo e Vivo são exemplos de organizações nas quais o acadêmico já investiu. Em 2011, por meio de uma viagem organizada pelo curso, o acadêmico matou a curiosidade por conhecer o local em que acontecem as maiores transações financeiras no país: a Bolsa de Valores de São Paulo.
Como bom economista - que pensa a longo prazo - os planos para o futuro já estão desenhados. Juntamente com dois colegas do curso, ele deseja criar um escritório de investimentos. O projeto se consolidou durante o próprio curso. A intenção é abrir o empreendimento em Flores da Cunha e o motivo da escolha é muito simples: "Lá não há um empreendimento desse tipo. Seria algo novo, num local que comporta bastante empresas, com um perfil empreendedor", explica, demonstrando uma regra importante que aprendeu na graduação: as oportunidades estão nas brechas de mercado.
Curso de EconomiaO curso de Ciências Econômicas da UCS possui turmas na Cidade Universitária, em Caxias do Sul, e no Campus Universitário da Região dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. A graduação tem duração média de 4 anos e conta, atualmente, com 370 acadêmicos matriculados.
(Texto: Vagner Espeiorin)
Revista UCS - Publicação da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.
O texto acima está publicado na oitava edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.