A religião é o que há de mais importante na vida de um ser humano. É ela que dá sentido à vida. Por isso, as doutrinas e as práticas religiosas ocupam lugar de destaque nas pesquisas das Ciências Sociais - incluindo a História. Max Weber, um dos maiores cientistas sociais de todos os tempos, construiu quase toda sua reputação intelectual sobre estudos em torno da religião e de seus reflexos nos demais âmbitos da vida dos seres humanos. Dentro da multiplicidade religiosa, que se acentua cada vez mais no Brasil, os luteranos foram vistos, por muito tempo, como algo meio exótico. Além de serem protestantes dentro de um país até então quase integralmente católico, suas igrejas também eram identificadas como as "dos alemães" - e não de "verdadeiros" brasileiros. Tudo isso fez com que, em situações de crise, fossem objeto de preconceitos e até de perseguições físicas. Este livro de Roberto Radünz lança nova luz sobre o tema. Com base em uma detalhada pesquisa histórica, os luteranos aqui estudados são apresentados como cidadãos que, em meio às densas florestas brasileiras, construíram comunidades religiosas com um espírito tão profundamente democrático que é, certamente, difícil encontrar exemplos semelhantes em outras partes do Brasil daquele tempo. Naturalmente, não é fácil avaliar o efeito dessas práticas sobre a constituição do espírito pluralista e da tolerância que, hoje em dia, perpassa ao menos determinados setores da sociedade. Mas será que aquela prática não teve nenhuma influência sobre aquilo que está aqui, hoje em dia? Ainda que a pergunta não possa ser respondida com segurança, o simples fato de ela ser legítima mostra a importância deste livro.