Sinopse
O homem e a natureza não são mais mundos afastados, definidos pela separação cartesiana entre um sujeito racional (res cogitans) e uma matéria estendida no espaço (res extensa) contraposta a ela, conforme uma ideia ainda frequente na linguagem ordinária. O homem não é apenas parte do sistema que podemos chamar de natureza, mas pode intervir no funcionamento dela, para mudá-la, até tornar impossível falar de natureza em um sentido objetivo. O estudo da natureza, portanto, não se esgota na dimensão epistêmica, mas implica também uma problematização ética e ascética. A filosofia da natureza pode estudar algumas condições dadas e as mudanças delas. Mas em uma perspectiva ética e ascética, envolve a questão acerca de isto que podemos fazer com estes conhecimentos. Não é possível uma ética e uma ascética da relação entre homem e natureza, sem um saber relativo às conexões que a definem. O problema das atitudes a serem tomadas diante da natureza não pode ser enfrentado de maneira irrefletida e acrítica. Torna-se, portanto, necessário desenvolver uma interpretação nova das maneiras como se forma este saber, que, além disso, tem que ser valorizado em relação à vida e às opções que tem para vivê-la. O trabalho epistemológico, que esclarece as estruturas e as conexões do que podemos chamar de natureza, assim como a interpretação que pode ser formulada a respeito dos seus resultados, é funcional à escolha relativa ao quanto temos que respeitar ou desconsiderar as conexões dadas e a como podemos mudá-las.