Escrevo estas linhas com devoção, porque sou parte desta história. Trabalho, na medida do possível, com isenção e imparcialidade, mas não com indiferença. Ao percorrer a trajetória das minhas famílias, o envolvimento é inevitável. Aliás, ninguém consegue ser totalmente isento e imparcial, mesmo nas matérias mais objetivas. Penso que seja possível ser exato com emoção. Como inúmeras outras, as famílias Migot/Migotto e Chies, assentadas no Rio Grande do Sul no final do século XIX (1879), merecem o apreço das novas gerações. Esses homens e mulheres rudes e simples à margem do cenário oficial edificaram uma civilização pioneira e diferenciada. Decorrido mais de um século (143 anos) desde que essa aventura teve início, eles e elas emergem do anonimato e apresentam-se à nossa consideração como rico material de pesquisa e reflexão. Compõem uma aventura que revela no gesto simples drama, fé, paixão e destemor. O teatro, a literatura e a ciência dos costumes estão trabalhando essa matéria espiritual e cultural de grande qualidade. Os descendentes dessas famílias descobrem surpresos, às vezes que têm um passado a resguardar e cultivar. Descendente dos Migot/Migotto e Chies que se estabeleceram em Santa Clara, no distrito de Montravel da Colônia Santa Maria da Soledade1, no Rio Grande do Sul, reporto-me, sobretudo, a essas famílias cuja história me envolve e me fascina, mas trago notícias, também, dos que foram assentados em outros estados e municípios, o que justifica o pretensioso título de Migot(to) no Brasil desde 1879. A história da imigração italiana no Rio Grande do Sul e no Brasil ainda não foi escrita. Não recebeu, ainda, o merecido acabamento. Até hoje foram pesquisados e editados tópicos valiosos, mas limitados, como este que estou apresentando. Resultado de muito trabalho, mas sem os recursos adequados e o apoio institucional.