KORSTANJE, M. Turismo. Ciencia de la hospitalidad. Revista de Investigación en Turismo y Desarollo Local, v. 4, n. 11, s.p., 2011.
PERAZZOLO, O.A; SANTOS M.M.C.; PEREIRA, S. Dimensión relacional de la Acogída. Estudios y perspectivas en turismo. V. 22, 2013, p. 138-153.
CARVALHO, A. D. Hospitalidade: do conceito à prática antropológica. In: Laços sociais: por uma epistemologia da hospitalidade. Caxias do Sul/RS: Educs, 2014.
MENDES, A. M. S. C. Sobre os conceitos de vida biológica: normas sociais e organizações humanas. In: Laços sociais: por uma epistemologia da hospitalidade. Caxias do Sul/RS: Educs, 2014.
BAPTISTA, I. Lugares de hospitalidade. In: Hospitalidade. Reflexões e Perspectivas. Célia Maria Dias (Org.). Barueri/SP: Manole.
KOPS, D. Hospitalidade: saberes e fazeres culturais em diferentes espaços sociais. Caxias do Sul/RS: Educs, 2014.
GONÇALVES, J. L. A.; SOUSA, J. E. P. de. Hospitalidade: experiências de dádiva que desenvolvem o self e renovam o laço social. In: Laços sociais: por uma epistemologia da hospitalidade. Caxias do Sul/RS: Educs, 2014.
WINGER, D. H. J. Turismo y cultura em la posmodernidad. Dificultades y nuevos rumbos desde una lectura de la ética aplicada. In: Investigación turística: hallazgos y aportaciones. Toluca, MX: Secretaria de Investigación y Estudios Avanzados, UAEM, 2012.
A temática escolhida na conjugação do 8º SeminTUR e do 1º COPEH tem como suposto, primeiramente, a hospitalidade como elemento constitutivo do turismo, portanto, como um dos eixos fundantes do próprio desenvolvimento turístico. O Turismo é a ciência da hospitalidade,
enfatiza Korstanje (2011).
Primariamente, tem-se: o turista, na posição de quem se desloca em busca de conhecer ("adquirir", "ver", "viver" o novo); e o acolhedor, na posição de quem recebe o visitante. Contudo, quando/se a hospitalidade ocorre, ambos se alternam todo o tempo, de sorte que, como propõem
Perazzolo, Santos e Pereira (2013), o processo de interação, nem sempre alinhado no tempo e no espaço e constituído na forma de trocas envolvendo moeda, produtos, afetos e saberes, efetiva e potencializa o fenômeno turístico.
Tal como ressaltado no documento-base do Programa de Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul (2011), o fenômeno da hospitalidade humana transcende assim não apenas os negócios ligados à hospedagem e à restauração, mas o próprio campo do turismo, ao possibilitar outros olhares para além daquele estritamente econômico e empresarial a partir do qual se os possa focalizar sob a pressão exercida pelo mercado de negócios e de trabalho. Nesse sentido, formas de "impregnação" de hospitalidade em hotéis, restaurantes, bares, shoppings, praças e outros espaços públicos, lugares de visitação, meios de transporte podem ser analisadas tendo presente relações que estabelecem com frequentadores e usuários e vínculos de identificação e fidelidade que delas se originam.
Hospitalidade remete, pois, à percepção/compreensão de relações entre os domínios cultural, social, privado e comercial, de comportamentos privados, semipúblicos e públicos, tornando-se assim um fenômeno a ser estudado, compreendido e levado à prática na confluência de diferentes áreas do conhecimento e sob diferentes óticas: a do anfitrião, do hóspede, de representações sociais de grupos sociais, como o dos turistas, de lugares hospitaleiros ou de como deveria ser acolhido o estrangeiro. Ela ganha características diferenciadas conforme se pauta por atitudes dominantemente afetuosas, filantrópicas ou empresariais, o que não implica, na predominância de uma, a anulação das outras. Mesmo quando planificada por uma racionalidade econômica, ela não perde seu caráter multifuncional, preenchendo déficits suscitados por condicionantes sociais ou mesmo por uma visão utópica subjetivamente construída (Carvalho, 2014).
No mundo das organizações humanas e da respectiva gestão, o partilhamento de valores expressos em missões, o partilhamento de significações sociais de pertença à organização, à sua cultura e às normas que a integram, a cooperação entre membros cujos valores pessoais nem sempre são convergentes, a complementaridade de comportamentos, a confiança mútua (Mendes, 2014) - vetores essenciais ao fortalecimento de sua identidade e de seu posicionamento -, pressupõem a experiência do processo relacional de troca, de abertura para o outro, para o encontro, para além da adoção de mecanismos automatizados, reflexos, padronizados que o contexto operacional possa demandar.
Com muita propriedade, lembra Baptista (2002, p. 159), radicando suas reflexões no terreno de pressupostos antropológicos, que a condição de "outro" daquele que vem de fora, ou do estrangeiro, deve ser valorizada, respeitada a ponto de nos sentirmos cúmplices de seu destino. Sob essa perspectiva, põe-se em questão a subjetividade autossuficiente, fechada sobre si mesma, conforme exaltado pela pós-modernidade. A construção da hospitalidade traz a exigência de um processo pedagógico "[...] capaz de redimensionar a visão individual que cada um possui e a visão coletiva que cada comunidade cultua a respeito do papel social a ser praticado na perspectiva de um protagonismo social", reflete Kops (2014, p. 67).
"A hospitalidade surge [então] como um acontecimento ético, por excelência", em que o encontro convoca cada uma das alteridades a uma experiência de descentração, relacional, de contornos éticos, aberta ao imprevisto, ao "outro" (Gonçalves e Sousa, 2014). Portanto, a hospitalidade requer, tal como ressalta Carvalho (2014, p. 180), o empenho numa atuação interpretativa da "[...] rica estranheza da vida, dos outros, da cultura em que vivemos, às vezes demasiado opaca, até roçar o incompreensível, o hostil, mas que está na origem dessa aprendizagem do novo, do contacto com o que é diferente e a harmonização do díspar em que consiste nossa vida".
No pensar o turismo, em suas diferentes dimensões, está, pois, implicado o pensar hospitalidade e ética, quando se o entende como um espaço político de estabelecimento de múltiplas relações, espaço que pode abrigar o diálogo fecundo da diferença ou a submissão do diferente; espaço em que consequências presentes e futuras das ações humanas podem/devem ser avaliadas eticamente.
Por oportuno, retomemos, com Winger (2012, p. 837), sua menção ao documento da OMT, O Turismo: Instrumento para a paz e o diálogo entre as civilizações (2001), quando aborda a necessária eticidade no papel desenvolvimentista de empresas multinacionais [e por que não também as nacionais?] do setor turístico, fator insubstituível de solidariedade no desenvolvimento e no dinamismo dos intercâmbios internacionais [e nacionais]. Independentemente da posição dominante que possam ocupar, deverão evitar de converter-se "[...] em transmissoras de modelos culturais e sociais que se imponham artificialmente às comunidades receptoras [...] independente da liberdade de investimento e operação comercial que se lhes deve reconhecer plenamente" [ Tradução nossa].
Turismo, Cultura e Sociedade; Turismo, Gestão e Sustentabilidade; Turismo, Epistemologia e Educação instituem-se assim como recortes relacionais, em interface, do universo conceitual da Hospitalidade e da Ética, que os permeia, redimensionando-lhes o pensar teórico e respectivas repercussões pragmáticas.