O planejamento da Universidade de Caxias do Sul para os novos períodos letivos é tradicionalmente um momento de qualificação e atualização docente com atividades que reúnem o corpo docente em torno de temáticas comuns. Com início nesta segunda-feira (30), a programação de volta às aulas para os professores começou com o compartilhamento de experiências sobre o Trabalho Discente Efetivo (TDE), um encontro de boas-vindas com o reitor Evaldo Kuiava, e, na terça-feira (31), reuniões por Área de Conhecimento. As aulas recomeçam nesta quarta-feira, dia 1º de agosto.

Inserida nesse contexto, a III Mostra de Boas Práticas na Docência do Ensino Superior da UCS promoveu o compartilhamento de experiências e a reflexão sobre a atividade docente e acadêmica. Conectada à nova realidade dos processos de ensino da UCS, vivenciada a partir desse ano por meio da reestruturação dos cursos de graduação e das metodologias de aprendizagem ativa, a abordagem permitiu a socialização de experiências na implementação do Trabalho Discente Efetivo (TDE). Elemento dos novos modelos curriculares, o TDE foi instituído para conferir maior protagonismo aos estudantes no processo de ensino e aprendizagem, com a realização de atividades acadêmicas extraclasse.

Distribuídas nos turnos da manhã e da tarde, as atividades – relatos de experiências ministrados por cerca de 40 professores – reuniram aproximadamente 600 docentes para o compartilhamento de práticas, percepções e resultados. As abordagens contemplaram, de forma integrada, diferentes dinâmicas e áreas do conhecimento.

Na abertura do evento, a pró-reitora Acadêmica, Nilda Stecanela, demarcou o momento como de consolidação de concepções e práticas. Definindo a Mostra como elemento de grande relevância e fortalecimento, a pró-reitora destacou o fato de as boas práticas e possibilidades de enfrentamento de desafios compartilhadas ao longo do dia terem sido desenvolvidas pelos próprios professores da UCS, dentro de um processo de reestruturação curricular dos cursos de graduação que os mobilizou para novas propostas e alternativas – e cujo elemento mais disruptivo é o TDE. “Há muitas coisas boas acontecendo, e talvez estarmos juntos aqui seja um elo para nos fortalecermos como docentes da Instituição, além do nosso senso de pertença à proposta que estamos desenvolvendo, para podermos desenhar outras alternativas para o projeto de formação profissional dos nossos acadêmicos”, afirmou. Elencando engajamento como palavra para traduzir o momento, convidou cada docente para se engajar na proposta, no projeto de consolidação da qualidade e da importância da Instituição na região.

Processo formativo

A qualificação docente para atuação nos novos modelos curriculares, propostos pela reestruturação dos cursos de graduação, é conduzida pela Coordenadoria Pedagógica a partir do Núcleo de Formação de Professores. O processo ocorre por meio de ciclos: o primeiro, iniciado em 2017, contou com a participação de cerca de 300 docentes, entre ministrantes das disciplinas de primeiro semestre dos currículos e apoiadores. A segunda etapa, em andamento, compreende cerca de 60 professores atuantes nas disciplinas de segundo semestre.

O trabalho do núcleo formativo para a implantação dos TDEs contou, além da qualificação e do acompanhamento dos docentes apoiadores, com a coleta de dados para analisar as estratégicas didático-pedagógicas. Além disso, docentes, por meio de formulários e reuniões, e acadêmicos, pela avaliação online, compartilharam suas percepções sobre o elemento curricular.

A coordenadora Pedagógica da UCS, Flávia Fernanda Costa, destaca o engajamento de professores e acadêmicos no processo, com compreensão da proposta do projeto de implementação, assumido como desafio pela maioria dos docentes. Segundo Flávia, a satisfação pelos resultados alcançados – por meio de um processo receptivo conduzido pela escuta e pelo diálogo – já é constatada. “Entendemos que, muito mais do que uma política institucional, esse movimento de reestruturação curricular vem atender às características e às demandas da contemporaneidade referentes a uma lógica nas relações de ensinar e de aprender que busca a construção de processos que deleguem, que gerem uma autonomia maior do estudante e façam com que ele se sinta participante do processo, protagonista, envolvido e responsável pela sua própria construção enquanto futuro profissional”.

Na abertura da Mostra de Boas Práticas, a coordenadora exaltou a riqueza do trabalho desenvolvido e a possibilidade de trabalhar entre docentes, contextualizando a atuação do Núcleo de Formação de Professores, responsável por estudos e desenvolvimento de atividades de formação continuada. “A terceira Mostra de Boas Práticas, dedicada ao compartilhamento sobre as atividades de TDE, propõe a socialização de experiências, êxitos, e também novas perspectivas na relação ensinar e aprender”.

Experiências positivas

O professor Lucas Fürstenau de Oliveira, integrante do Núcleo de Formação de Professores, apresentou ao público uma síntese dos Trabalhos Discentes Efetivos no período letivo 2018/2, reunindo percepções de alunos e professores registradas a partir de instrumentos avaliativos. Os relatos permitiram identificar o destaque das percepções positivas dos estudantes em itens como os relacionados à orientação dos docentes para os TDEs e seu planejamento ao longo do semestre, sua participação, enquanto acadêmicos, na realização das atividades, e a visão sobre a contribuição dos TDEs para a formação, além de pontos a serem trabalhados. Os resultados sugerem estudantes mais participativos e melhor preparados para a sala de aula, com maior desempenho nas avaliações. Ilustrando sua experiência, o professor ainda compartilhou o case da disciplina que ministrou durante o último semestre no curso de Psicologia – Bases Biológicas do Comportamento – com turmas em Bento Gonçalves e em Caxias do Sul (turnos diurno e noturno), em que aplicou o TDE, percebendo estudantes mais preparados e discussões mais fluidas.

As professoras Michele Otobelli Bertéli, do curso de Engenharia de Produção, e Renata Cornelli, da Engenharia Ambiental, apresentaram as Boas Práticas na Introdução à Engenharia, compartilhando com os colegas a atividade realizada com os alunos na Casa de Passagem Recanto Amigo. O TDE oportunizou a futuros engenheiros uma experiência social relacionada à formação, com revitalização de espaços, mobiliário, hortas, entre outras iniciativas voltadas para melhorar o ambiente. “Nos sentimos gratos pela oportunidade e muito envolvidos no desafio da prática com os alunos. Essa experiência é muito importante, como uma semente, para que os acadêmicos se envolvam ainda mais com a questão social”, considera Michele. Renata complementa que o projeto, desenvolvido em grupo pelos docentes das Engenharias, concedeu naturalidade e segurança para aplicação do TDE em sala de aula. “O resultado é gratificante e a troca entre os docentes é extremamente importante”, avalia, ressaltando que identificou na fala dos colegas possibilidades para replicar em suas disciplinas.

As professoras do curso de Direito Carla Simone Beuter e Marlova Jaqueline Macedo Mendes abordaram o tema Direitos da Personalidade na disciplina Direito Civil. Propiciando conhecimento sobre o tema visando sua aplicação em casos específicos, as docentes propuseram, no TDE, a busca de cases que ilustrassem o tema em veículos de imprensa. Surgiram exemplos relacionados ao direito de imagem, utilização de nome social, de ofensa à imagem, entre outros.

“Reconhecemos não só o desafio de ensinar, mas, também, de aprender, visualizando fragilidades e conquistando o aluno para participar do processo”. O resultado, segundo elas, foi a atitude pró-ativa dos acadêmicos na união de teoria e prática. Segundo as docentes, a Mostra oportuniza a socialização com os colegas de todas as áreas do conhecimento para a integração geral ao processo.

Fotos: Bruno Zulian