Projeto, coordenado por pesquisadora da UCS, desenvolverá um método mais rápido, eficiente e acessível, de diagnóstico de Zika vírus.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 04/11/2016 | Editado em 22/02/2024

Pesquisadores de cinco instituições participam do projeto que receberá cerca de 1 milhão de reais de agências de fomento do governo federal.

Com a aprovação na Chamada MCTI-CNPq/MEC-CAPES/Ministério da Saúde, do projeto de pesquisa que propõe o desenvolvimento de um imunossensor magnético-elástico para diagnóstico de Zika vírus (ZKV), a Universidade de Caxias do Sul passa a fazer parte do mutirão internacional convocado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a realização de ações voltadas para a prevenção e combate do ZKV.

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Da esquerda para a direita, a equipe que atua nos laboratórios do Instituto de Biotecnologia: os pesquisadores João Antônio Pêgas Henrique, Mariana Roesch Ely, Caroline Menti, Suelen Paese e Sidnei Moura e Silva. Na foto à direita, os pesquisadores Rosa Dea Sperhacke, Frank Patrick Missell e a coordenadora do Projeto, no Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS.

 

claudia-velho-9756O projeto é coordenado pela doutora em Biologia Molecular, Mariana Roesch Ely, que também coordena com o Dr. João Antônio Pegas Henriques, o Laboratório de Genômica, Proteômica e Reparo de DNA do Instituto de Biotecnologia. O Laboratório de Caracterização Magnética do Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia, coordenado pelo Dr. Frank Patrick Missell, será responsável pelo desenvolvimento dos sensores magneto-elásticos. Mais quatro laboratórios da Universidade participam do projeto: o Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde; o Laboratório de Produtos Naturais e Sintéticos e o Laboratório de Diagnóstico Molecular, do Instituto de Biotecnologia; e o Laboratório de Processos Metalúrgicos, do Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia. Além do grupo da UCS, também participam do projeto, pesquisadores do Instituto de Física da USP; do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas; da Universidade Feevale; do Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT) e o Laboratório Central (LACEN) da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS) ligada à Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul; e da Auburn University, compondo uma equipe multidisciplinar com competências específicas em Ciências da Saúde, Biotecnologia, Ciências Biológicas, Física, Química e Engenharia, que trabalhará em conjunto para alcançar os objetivos propostos.

Com duração prevista de quatro anos, o projeto receberá cerca de 1 milhão de reais para o seu desenvolvimento e envolverá também estudantes de mestrado e doutorado dos programas de pós-graduação em Biotecnologia, em Engenharia e Ciência dos Materiais e em Engenharia de Processos e Tecnologias.

Aedes aegypti
Mosquito Aedes aegypti. Crédito: Thinkstock

Níveis epidemiológicos exigem diagnósticos mais rápidos e seguros

Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti (o mesmo transmissor da dengue, chikungunya e febre amarela) ou por via sexual, o Zika vírus causa doença infecciosa em humanos, com risco aumentado para síndromes congênitas e distúrbios neurológicos em adultos e fetos. Em nível de epidemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registra que, desde 2015, o vírus já se espalhou por 70 países. No Brasil, os últimos números divulgados pela OMS dão conta de 190 mil pessoas infectadas, com cerca de 2 mil casos confirmados de microcefalia em decorrência da infecção por ZKV.

O diagnóstico de rotina é realizado através de análises laboratoriais de sangue ou outros fluidos corporais (urina, saliva ou sêmen). Nas análises de sangue, são utilizados testes como o MAC-ELISA e RT-PCR e de anticorpos neutralizantes, que são demorados e exigem mão de obra especializada.

Nesse contexto, entre os vários desafios que se colocam para a comunidade científica mundial para prevenir e combater o ZKV um deles é o desenvolvimento de métodos de diagnóstico mais rápido e mais acessível às populações, de modo a antecipar as decisões que envolvem o tratamento da doença.

E é este desafio que os pesquisadores da UCS e das demais instituições parceiras pretendem superar, com o desenvolvimento de um imunossensor magneto-elástico que, utilizando nanopartículas de ouro, tenha sua massa final sobre a superfície aumentada o que, consequentemente, deverá aumentar o sinal de ressonância, resultando em análises mais rápidas e precisas, se comparadas às metodologias de detecção atuais. Facilidade de operação, uma boa relação custo-benefício e a aplicabilidade no Sistema Único de Saúde são atributos desejados para este novo método. É intenção dos pesquisadores que os resultados do projeto possam embasar novas políticas públicas de saúde e que contribuam para a capacitação de recursos humanos na área.

A coordenadora do projeto explica que, na Universidade, os trabalhos com biossensores magneto-elásticos foram iniciados em 2012, com a cooperação entre o Laboratório de Genômica, Proteômica e Reparo de DNA e o Laboratório de Caracterização Magnética, da qual resultou, entre outros projetos, um estudo com sensores com a finalidade de capturar bactérias através de um método de detecção com ligação antígeno-anticorpo. Desses estudos, resultaram três dissertações de mestrado sobre biossensores e cinco pedidos de registro de patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), todos envolvendo sensores magneto-elásticos.

“Com base nos excelentes resultados do primeiro quadriênio, pensou-se em desenvolver um sensor voltado para a detecção de Zika vírus, partindo do mesmo preceito experimental, utilizando uma reação com antígeno-anticorpo para captura de antígenos e anticorpos virais”.

Interação interna e externa

As pesquisas devem começar no primeiro semestre de 2017. No momento, Mariana prepara-se para ir a Brasília, ainda em novembro, para as reuniões de detalhamento do projeto e definição do fluxo de recursos e ações necessárias ao atendimento aos objetivos propostos.

“A aprovação de um projeto desta importância comprova a excelência da UCS na liderança de projetos multidisciplinares e a extrema relevância dos temas de pesquisa propostos aos estudantes de pós-graduação da nossa Instituição. A integração dos programas de pós-graduação que envolvem o Instituto de Biotecnologia, o Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia, o Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS, coordenado pela Dra. Rosa Dea Sperhacke, e os grupos de pesquisa associados à nossa Universidade e a Secretaria de Saúde do Estado do RS, deve gerar resultados de relevância nacional e internacional”.

A partir da liberação dos recursos por parte das agências de fomento, iniciam-se os trabalhos e, se tudo correr conforme o planejado, daqui a quatro anos, estará disponível, com a marca da Universidade de Caxias do Sul, um produto final com um método de diagnóstico alternativo para ZKV, que viabilizará análises mais rápidas e precisas, em atendimento às recentes demandas mundiais para o diagnóstico do ZKV.

Fotos: Claudia Velho