Produção de plástico biodegradável a partir de resíduo de couro é destaque na FF Enterprise.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 08/12/2016 | Editado em 12/07/2017

Startup de pesquisadoras do Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia ficou com o 1º lugar em evento de entidades dos setores de couro e calçado, realizado no mês de novembro, na cidade de Novo Hamburgo, RS.

Quando escolheu fazer o seu estágio final do curso de graduação em Engenharia Química em um curtume na pequena cidade de Tapera (RS), Aline Dettmer – engenheira química pela UFSM, com mestrado e doutorado em Engenharia Química pela UFRGS – não sabia que estava escolhendo também um tema de pesquisa que a acompanharia em seus estudos de mestrado e doutorado e que isso lhe permitiria iniciar uma carreira na docência e na pesquisa na Universidade de Caxias do Sul, onde ingressou em 2011. Mais do que isso, em torno desse tema se formaria um grupo de pesquisa que reúne estudantes de graduação, mestrado e doutorado, que buscam soluções inovadoras e ecologicamente corretas para os diversos problemas que decorrem dos processos produtivos da indústria do couro e de calçados.

As pesquisadoras Elizete Baggio Brandalise, Patrícia Poletto, Júlia Mascarello, Camila Baldasso, Aline Dettmer e Bianca Santinon Scopel.

 

“Quando pensamos neste projeto não imaginávamos tanto sucesso. A questão dos resíduos de couro contendo cromo sempre me preocupou e ver esta ideia dando tão certo é muito motivador para mim e para toda a equipe. Nos mostra que podemos sim fazer pesquisa aplicada e também atender demandas da indústria e da sociedade”. Professora dos cursos de Engenharia e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos e Tecnologias, Aline divide com a professora Camila Baldasso, desde 2014, a coordenação do projeto de pesquisa que estuda a obtenção de filmes poliméricos biodegradáveis a partir de amido e gelatina recuperada de resíduos de couro curtido ao cromo. O projeto, desenvolvido no Laboratório de Energias e Bioprocessos (LEBio) do Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia, tem a participação de estudantes de graduação, mestrado e doutorado, e é realizado com recursos obtidos pelo edital MCTI/CNPq 2013 – Universal.

Projeto acumula premiações

claudia-velho-3778No dia 18 de novembro, uma equipe constituída por quatro estudantes integrantes do projeto foi premiada na primeira edição do Programa Future Footwear – FF Enterprise, torneio empreendedor realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), com a participação de universidades, aceleradoras de negócios e do Sebrae. Voltado para estudantes de graduação e pós-graduação, o desafio, lançado este ano pelas entidades dos setores de couro e calçados, visa incentivar ideias e soluções inovadoras que possam contribuir para aumentar os níveis de eficiência, competitividade e sustentabilidade do setor.

Para participar do desafio, Bianca Santinon Scopel, mestre em Engenharia de Processos e Tecnologias e doutoranda em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais, Elizete Baggio Brandalise, mestranda em Engenharia de Processos e Tecnologias, Júlia Mascarello, acadêmica de Engenharia Química, e Patrícia Poletto, doutora em Biotecnologia, com a orientação das professoras Aline e Camila, formaram a Startup BioPlas, com a proposta de transformar em plano de negócio uma experiência já comprovada na bancada do laboratório. Em linhas gerais, o projeto da BioPlas visa constituir como plano de negócio o processo de recuperação e purificação da proteína (gelatina) de couro, que se encontra nos resíduos sólidos de couro curtido ao cromo (RCCC), utilizando-a no processo de produção de plásticos biodegradáveis. Com a finalidade de contribuir para uma cadeia de produção mais sustentável – filmes poliméricos produzidos dessa forma são totalmente biodegradáveis quando expostos no solo -, a proposta premiada visa transformar esse material plástico em sacolas e embalagens, e a equipe apresentou três possibilidades de viabilização do negócio.

Com um prêmio de 5 mil reais, convites para incubação em quatro universidades do RS, e aprendizagens sobre estudos de viabilidade econômica que podem contribuir para aperfeiçoar o plano de negócios ou mesmo uma futura incubação, a equipe comemora os bons resultados de um projeto de pesquisa que, somente em 2015, foi premiado em duas mostras técnicas no Rio Grande do Sul (Mostraseg Caxias do Sul e Mostratec de Novo Hamburgo) e na EXPORECERCA JOVE, de Barcelona. Ecologicamente correto e sustentável, também foi premiado, na categoria de Gerenciamento do Meio Ambiente, na Feira de Negócios e Tecnologia em Resíduos, Água, Efluentes e Energia – Fiema Brasil 2015, evento anual que ocorre em Bento Gonçalves, RS.

Interação acadêmica para dar conta do desafio de pesquisar

producao-plastico-biodegradavelA equipe continua trabalhando no aperfeiçoamento das etapas do projeto, ao mesmo tempo em que a produção intelectual dos pesquisadores ganha visibilidade e projeção na conclusão de dissertações de mestrado e teses de doutorado e outras publicações científicas. “O próximo desafio será patentear o processo que está sendo desenvolvido em escala laboratorial para então passarmos à etapa seguinte: o aumento de escala para validação técnica e econômica da proposta”, explica a professora Camila Baldasso. O pedido de registro de patente de invenção ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial é o recurso que irá assegurar a proteção da propriedade intelectual desenvolvida pelos pesquisadores da UCS.

A proposta de negócio da startup BioPlas está baseada nos temas de dissertação de Mestrado em Engenharia de Processos de Bianca Santinon Scopel, defendida em março de 2016, e de Elizete Baggio Brandalise, em fase final do mestrado. O melhoramento do processo de extração da gelatina e da qualidade do filme produzido são os objetivos da tese de doutorado de Bianca, recém-iniciada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais, na UFRGS. A acadêmica de Engenharia Química, Júlia Mascarello, é bolsista de iniciação científica e, desde 2015, atua no projeto como bolsista CNPq Ensino Médio, acompanhando os aprimoramentos realizados ao longo do processo. A pesquisadora Patrícia Poletto, que atua na etapa de purificação da gelatina, faz seus estudos de pós-doutorado no LEBio – CCET e, desde a graduação em Engenharia de Alimentos, tem participado de diversos projetos de pesquisa voltados para o desenvolvimento de processos e produtos.

degradacao-plastico-biodegradavel
Etapas de biodegradação do plástico no meio ambiente, como apresentadas na dissertação de mestrado de Bianca Scopel.

 

No plano de negócio apresentado na FF Enterprise, as pesquisadoras justificaram assim a relevância da sua proposta:

“Acreditamos que os filmes produzidos a partir da gelatina extraída do resíduo de couro curtido ao cromo (RCCC), por serem totalmente biodegradáveis quando expostos no solo, podem ser de grande interesse para empresas que queiram associar a sua marca a produtos ambientalmente amigáveis. Folders, banners, brindes, embalagens e as tão utilizadas sacolas, representam um grande problema ambiental se descartados de modo inadequado, podendo transformar-se em fontes de poluição de solos e águas. As embalagens produzidas a partir da gelatina extraída dos resíduos de couro curtido ao cromo podem ser facilmente degradadas, e por sua composição rica em nitrogênio acabam agindo como fertilizante na terra”.

Ao parabenizar a equipe por mais esta premiação, o coordenador de Pesquisa, Guilherme Holsbach Costa, destacou o exemplo que está sendo dado aos demais grupos de pesquisa da Universidade que, na indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão trabalham para qualificar a Instituição no cenário da educação superior em nosso país.

Fotos: Claudia Velho