“A engenharia química me levou ao país mais feliz do mundo”.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 22/04/2019 | Editado em 23/04/2019

Eduardo Callegari Basso, 35, engenheiro químico formado pela UCS em 2007, trabalha na Haldor Topsoe A/S, em Copenhague. No dia 17 de abril, ele conversou com os estudantes do curso de Engenharia Química sobre os caminhos que o levaram ao país mais feliz do mundo.

O primeiro emprego como engenheiro químico, Eduardo perdeu em 2014. Depois de mais de 5 anos em Porto Alegre, trabalhando em uma empresa de projetos industriais, Eduardo Callegari Basso, egresso do curso de Engenharia Química da UCS, viu diminuírem drasticamente as chances de emprego em sua área, com a retração do mercado brasileiro para engenheiros químicos.

Apostas, propósitos e batalhas

Enquanto enviava currículos e analisava novas possibilidades de trabalho, Eduardo tinha apenas uma certeza: abandonar a Engenharia Química não seria uma opção. E, ele fez o que muitos fizeram: buscar fora do Brasil uma oportunidade de trabalho. Com um nível de inglês satisfatório – ele agradece aos pais porque o incentivaram a estudar inglês desde pequeno – e disposição para ultrapassar os medos que acompanham a decisão de iniciar uma atividade profissional longe de casa, Eduardo decidiu apostar que seria capaz de levar adiante seu propósito.

Enviar currículos, preencher formulários e não desistir quando a resposta não vem. Entre o envio de um currículo e outro, e mais outro, ele se lembrou que já tinha feito uma aposta como essa, alguns anos atrás, no dia em que, ao receber a prova da disciplina “Reatores Químicos” e constatar que não sabia absolutamente nada do que lhe era perguntado, se levantou e disse à professora Ana Rosa Muniz que preferia não entregar a prova, o que, obviamente não fazia parte das normas acadêmicas. Ao saber que poderia ter uma nova chance com a prova de recuperação, ele apostou que seria capaz de recuperar o tempo e as aprendizagens desperdiçadas naquele início de curso. A vergonha da sua performance como estudante foi uma espécie de incentivo que o fez estudar muito para encarar a prova de recuperação e conseguir a nota 9,8.

A partir daquele episódio, eu comecei a ver a Universidade de outra maneira. Entendi que eu tinha que batalhar muito para conseguir levar adiante meus propósitos. A gente aprende muito na Universidade. Meus melhores professores foram “os mais difíceis”, aqueles que mais exigiram de mim e, ao mesmo tempo, me ofereciam o apoio necessário para avançar e concluir o meu curso.

Para conseguir sua primeira contratação no exterior, Eduardo teve que dar um passo atrás nos seus propósitos iniciais: aceitou a vaga de projetista na filial tcheca da empresa Chicago Bridge & Iron Company (CB&I) – recentemente comprada pela multinacional MCDermott – que fornecia projetos para empresas de petróleo e gás e empregava pessoas de todo o mundo.

Eles apostaram em mim e eu consegui dar conta das tarefas como projetista. Logo, chamei a atencao de um engenheiro que me convidou para trabalhar com ele, oferecendo-me a possibilidade de participar de um pequeno projeto. Aos poucos pude mostrar o que eu era capaz de fazer com a minha experiência na Engenharia de Processos e, desde então, nos tornamos grandes amigos. 

Novos desafios no país mais feliz do mundo

Depois de três anos trabalhando em Brno, a segunda maior cidade da República Tcheca, com cerca de 300 mil habitantes e um percentual expressivo de estudantes universitários, com inúmeros prédios históricos, vinhedos e castelos, Eduardo viu que era hora de buscar novos desafios profissionais e, aproveitando as experiências e contatos obtidos na CB&I, ele participou, com mais 500 engenheiros de diversas partes do mundo, de processo seletivo para ingressar na Haldor Topsoe, empresa dinamarquesa líder mundial em catálise, fundada em 1940, com sede em Copenhague e mais de 2700 funcionários em todo o mundo. A Haldor Topsoe desenvolve catalisadores de alto desempenho, tecnologias, projetos de processos, engenharia, e serviços para a indústria de fertilizantes, indústrias químicas e petroquímicas e do setor de energia. Ingressar em seu quadro de engenheiros era uma aposta que valia a pena. Mais uma vez, Eduardo apostou consigo mesmo que poderia chegar à final e foi isso que aconteceu.

O processo de seleção foi complexo e envolvia muitos candidatos. Começou com uma entrevista online e os aprovados nessa fase viajaram a Copenhague para uma etapa que incluía a realização de tarefas relacionadas a testes de QI, personalidade e apresentação oral. Eu devia  também ler e montar uma apresentação a partir de um a artigo cientifico entregue pela empresa, em menos de 4 dias! Naquela época eu ia para o trabalho de trem e levava em torno de 1 hora para ir e voltar. Eu usava esse  tempo para estudar o artigo e durante a noite eu esboçava a apresentação.  Fiquei muito nervoso durante a minha apresentação e não acho que ela tenha sido muito boa. Mas, nós brasileiros temos a facilidade de nos conectar com as pessoas e mostrar nossa humanidade, mesmo nas situações adversas… Em menos de uma semana, recebi a ligação da empresa informando que eu seria contratato caso aceitasse as condições propostas. Fui o unico engenheiro contratato naquele processo seletivo.

Ele assumiu seu cargo e optou por viver e trabalhar na Dinamarca, um pequeno país da Escandinávia com cerca de 5 milhões de habitantes, conhecido como o país mais feliz do mundo, devido à filosofia Hygge, que, numa tradução simplificada, significa “viver a vida com simplicidade”.

Comecei na Haldor Topsoe em 2017, como engenheiro sênior na equipe de um projeto sob supervisao de uma equipe do escritorio da Índia. Fui responsavel pelos diagramas de processo e tive que viajar muitas vezes àquele país para reuniões com clientes. Depois de um ano já era líder de projeto e hoje coordeno uma equipe de 6 pessoas que desenvolve um processo de tratamento de óleo resultante da reciclagem de plásticos coletados de diversas partes do mundo para a producao plásticos novos e mais modernos.

E, como é viver no país mais feliz do mundo? Eduardo explica que não tem carro, vai de bicicleta para o trabalho e ocupa seu tempo livre com atividades físicas e um grupo de teatro amador. Quando é possível ele viaja e já conheceu muitos países e esteve em lugares que nunca havia imaginado estar. Na Dinamarca, faça como os dinamarqueses, por isso, além de estudar a língua do país, ele também está aprendendo a equilibrar a vida pessoal e profissional para ter mais tempo para ficar com os amigos e descobrir novos interesses, como é caso do teatro.

Eu não preciso de muito para ser feliz e me agrada viver uma vida mais simples, mais tranquila e confortável, sem cair nas armadilhas do consumo de coisas das quais não precisamos.

 

De volta ao começo

Nos cinco anos morando na Europa, Eduardo veio pela segunda vez a Caxias do Sul para duas semanas de férias, no mês de abril. Aproveitou a visita para aceitar o convite da professora Rejane Rech (com ele na foto à direita), coordenadora do curso de Engenharia Química da UCS, e conversar com os acadêmicos do curso sobre a sua trajetória profissional.

Com 35 anos e quase doze anos de formado, Eduardo já tem o que dizer aos mais novos, mas ele sabe que cada um é responsável pelo seu próprio caminho e que às vezes é necessário apostar…

Se eu pudesse dar um único conselho aos estudantes que fazem o curso de Engenharia Química da UCS, eu lhes diria que devem manter a “cabeça aberta” para novas experiências. Nós, como engenheiros formados pela UCS, temos muito a oferecer às empresas, dentro e fora do país e estamos no mesmo nível dos engenheiros formados pelas melhores universidades do mundo.

Antes da palestra com os estudantes, Eduardo reencontrou a professora Rejane e relembrou seus tempos de estudante na UCS. Docente do curso de Engenharia Química há 33 anos, Rejane tem interesse em acompanhar a trajetória profissional dos ex-alunos, o que não deixa de ser uma forma de também avaliar a trajetória do curso, que completa 40 anos de existência em 2019, comemorando a marca de 768 profissionais diplomados.

Num momento em que o papel do professor passa por tantas reavaliações, Rejane define com simplicidade a missão de cada um que se dispõe a educar e ensinar.

A missão do professor é acreditar em seu aluno. Acreditar que cada um tem habilidades, potencialidades e competências. É ajudá-lo a descobrir o que cada um é capaz de criar; é despertar suas capacidades; é desafiá-lo a superar as dificuldades que porventura possam surgir. E acreditar sempre que ele será capaz, de um jeito ou de outro, de encontrar o seu caminho e o seu lugar no mundo.

Ao longo da entrevista, Eduardo lembrou de episódios, dos colegas e dos professores que marcaram sua passagem pela Universidade de Caxias do Sul. Na despedida, um abraço e a promessa de voltar para continuar o seu relato. Talvez a Engenharia Química o leve a outros lugares, além da Dinamarca…

Fotos: Claudia Velho