A Geração Z chega ao mercado de trabalho.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 30/09/2019 | Editado em 30/09/2019

Jovens nascidos a partir da popularização da Internet, em meados dos anos 1990, cresceram em duas décadas de transformações exponenciais provocadas pela tecnologia digital. Agora, formam o contingente que aporta no mercado de trabalho inserindo-lhe um novo perfil de competências profissionais e de valores socioculturais ligados ao consumo. Na reportagem de capa da edição 30 da revistaUCS, professores com alta especialização de cinco áreas – Antropologia, Psicologia Social, Neurociências, Educação e Administração – analisam a constituição e as perspectivas da Geração Z.

Texto publicado na revistaUCS, edição de agosto e setembro de 2019. Acesse aqui.

Eles começaram a nascer junto com chegada da Internet no imaginário da maioria dos brasileiros – a rede mundial de computadores foi apresentada ao grande público nacional no final de 1995 por sua antecessora, enquanto mídia de massa, a televisão. Como fazia religiosamente havia décadas, a tradicional família brasileira postava-se defronte à tela todas as noites, dessa vez para acompanhar a história de amor da cigana Dara e do empresário Júlio Falcão, intermediada por chamadas de vídeo online. O que os espectadores – que viam a novidade como possibilidade de não gastar com ligações telefônicas e tinham como foco de atenção as reações do cigano Igor diante da paixão de sua prometida por outro –, não faziam ideia era que aquela tecnologia utilizada pelos personagens representados por Tereza Seiblitz e Edson Celulari na novela Explode Coração, da Rede Globo, inundaria residências (e mais tarde dispositivos móveis individuais) indiscriminadamente, e significava, desde então, uma transformação exponencial nos rumos da Humanidade.

“Responsabilidade social, ansiedade extrema, menos envolvimento em relações sociais, desapego das fronteiras geográficas e necessidade de exposição de opinião caracterizam a Geração Z”.

Essa mudança se deu, de início, em termos de equipamentos e recursos que viriam (e ainda virão) a ser desenvolvidos em virtude da Internet – tal como o YouTube, onde outro exemplo desses recursos pode ser conferido na própria abertura da novela, na qual o designer global Hans Donner mostra telas touchscreen em computadores 12 anos antes de Steve Jobs embasbacar o mundo com esta tecnologia na antológica apresentação do iPhone (cujo registro também está disponível no site de compartilhamento de vídeos). Mas a transformação primordial ocorreria, sobretudo, quanto ao pensar, ao sentir e ao agir humanos a partir dali. Mesmo que sem acesso à world wide web (www), nunca mais alguém nasceria em um mundo não interconectado. Surgia a Geração Z.

Nativos digitais – Denominados também de Gen Z, Plurais, iGeneration, Gen 2020, Centennials e Pós Millennials, os jovens nascidos a partir de 1995 foram chamados pelo pesquisador americano Mark Prenski de ‘nativos digitais’. Formam o nicho que nasceu com a internet e cresceu inserido nas redes sociais e com dispositivos de conexão instantânea. Têm a web como principal fonte de informação e de interação social (60% das pessoas entre 10 a 19 anos utilizam smartphone durante metade do dia), acessando múltiplas plataformas de informação, principalmente as redes sociais. No Brasil, os Z formam um contingente de 48 milhões crianças, adolescentes e jovens com idades entre 10 a 24 anos (23% da população).

O aspecto fundamental que caracteriza a Geração Z é a relação com o mundo através da tecnologia – cujos avanços nos últimos anos foram mais rápidos do que a compreensão de seus impactos pela ciência. Mais estudos são necessários para determinar o alcance de mudanças que podem fundamentar, inclusive, um novo tipo de ser humano, e, por conseguinte, de sociedade – especialmente no que se refere a transformações no desenvolvimento cognitivo e a alterações comportamentais e sociais influenciadas pela intermediação tecnológica. “Alguns pesquisadores afirmam que essa geração se caracteriza por ter responsabilidade social, ansiedade extrema, menos envolvimento em relações sociais, desapego das fronteiras geográficas e necessidade de exposição de opinião”, resume a mestre em Psicologia do Desenvolvimento e doutora em Informática na Educação Carla Valentini, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCS, sobre as principais tendências já verificadas a respeito dos nativos digitais.

Novo perfil social – E, agora, eles estão chegando – ao mercado de trabalho e de consumo, com potencial de, ao mesmo tempo, transformar e serem transformados nesses âmbitos. Dessa forma, compreender o fenômeno representado pela Geração Z é relevante para todo o tecido social. Com este intuito e o de traçar o perfil e as perspectivas desses jovens no universo profissional, a revistaUCS direcionou questões específicas a professores da Universidade de Caxias do Sul com alta especialização em cinco campos do conhecimento: Antropologia, Psicologia Social, Neurociências, Educação e Administração. Confira, na sequência dessa reportagem, como se configuram as relações transgeracionais que começam a abrir espaço para o protagonismo Z.

 

A LINHA DO TEMPO DAS GERAÇÕES

A Geração Z não é um fenômeno isolado. Compreender suas dinâmicas implica olhar para a linha do tempo geracional da segunda metade do Século XX. É próprio do processo antropológico que continuidades, adaptações ou contraposições às gerações anteriores resultem na identidade do agrupamento etário seguinte. No caso do pós-guerra, as demarcações geracionais estão diretamente ligadas às transformações geradas pelas mídias de massa. Vale lembrar que os anos de delimitação não são estanques, havendo uma intercessão de três a cinco anos nas transições de uma geração para outra.

1946-1964 – Os Baby Boomers

  • O ‘boom’ de nascimentos nos EUA e Europa denomina a geração surgida no pós-Segunda Guerra.
  • Em um mundo que precisava de reestruturação, adaptaram-se e mantiveram fidelidade às organizações e marcas, valorizando a estabilidade no trabalho, o status e a hierarquia.
  • Nascidos em um contexto de otimismo e prosperidade, e com possibilidade de estabelecer e manter uma carreira próspera, tiveram no consumo massivo a representação de sucesso pessoal e profissional.
  • A principal influência tecnológica foi a televisão, que mudou a forma do mundo acessar informação, influenciou na sociabilidade, nos hábitos de consumo e no entretenimento.
  • Estilo de vida marcado pelo casamento, compra da casa, do carro, e pela busca de tempo para o lazer.
  • São conservadores nos hábitos de consumo, optando por marcas tradicionais, com base em suas experiências anteriores com elas.
  • Em termos sociais, vivenciaram os movimentos pelos direitos civis, a contracultura, a liberalização sexual e a inserção da mulher no mercado de trabalho.

1964-1980 – A Geração X

  • Os filhos dos baby boomers nascem de meados da década de 1960 até o início da de 1980.
  • Apesar de herdarem dos pais a valorização da estabilidade no emprego e da família, priorizam crescer profissionalmente a manter-se indefinidamente em uma mesma organização.
  • A abertura para a mudança vale também para o casamento, com a normalização do divórcio incorporada à visão social.
  • É a geração da transição do mundo analógico (da infância e adolescência) para o digital (na juventude e adultez). A principal inovação tecnológica é o computador pessoal, no trabalho e em casa.
  • O consumo prioriza o conforto e insere o interesse pela tecnologia.
  • Surge uma nova organização social, em que as mulheres passam a integrar o mercado de trabalho com naturalidade e os homens começam a assumir tarefas domésticas.
  • Entre os avanços sociais, testemunharam o fim da Guerra Fria, a abertura à diversidade sexual e a conscientização ecológica.

1981-1994 – A Geração Y 

  • Os Millennials, ou Geração Y, nascem do início dos anos 1980 até meados dos anos 1990, época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica.
  • Formam a primeira geração globalizada, que cresceu usando tecnologias já plenamente desenvolvidas. A principal inovação tecnológica é a Internet.
  • A familiaridade com o mundo digital e com a comunicação em tempo real contribuíram para o perfil ‘multitarefa’ dos Y, sempre conectados e em busca de novas atividades.
  • A comunicação sem fronteiras gerou o paradoxo ‘conectados/isolados’. Partilham experiências com numerosos contatos, mas as relações se tornam instáveis e superficiais, sendo desfeitas com facilidade. A associação da identidade às redes sociais gera a ansiedade de ‘não ser visto’.
  • O costume de serem priorizados e atendidos pelos pais fomentou narcisismo e hedonismo nos Y, do que decorreu o apelido ‘Geração Eu’, o que os torna consumidores exigentes.
  • Essa seria a razão para sentirem-se desconfortáveis nas estruturas tradicionais de trabalho. Respeitam mais os cargos (como símbolo de conquista) do que as pessoas que os ocupam (por considerarem as gerações anteriores defasadas). É comum que queiram crescer trocando de emprego ou busquem trabalhos autônomos.
  • Tendem a colocar de lado as questões universais, dedicando-se às causas de grupos com que se identificam.

 

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Texto: Ariel Rossi Griffante – argriffante@ucs.br
Fotos: Claudia Velho – cvelho@ucs.br