A Geração Z na visão da Antropologia.

Publicado em 30/09/2019 | Editado em 30/09/2019

Mais equânimes e menos deslumbrados

De acordo com doutor em Antropologia Social Caetano Sordi Barbara Dias (que atuou na Área de Humanidades da UCS até o final do 1º semestre deste ano), após uma certa euforia nos anos 1990 e 2000 com a revolução digital e suas “promessas quase utópicas”, os nativos digitais parecem “mais céticos, menos deslumbrados e, por vezes, mais ansiosos” quanto às anunciadas transformações. “Nos países centrais se nota que esta é a primeira geração desde o final da Segunda Guerra em que a maioria das pessoas não acredita que terá um nível de vida superior ao dos seus pais”, pontua. “Em sentido sociológico mais geral, isso se refere aos efeitos disruptivos da 4ª revolução industrial, ao brutal crescimento da desigualdade de renda após a crise global de 2008 e, mais recentemente, às preocupações da juventude desses países centrais com os efeitos do aquecimento global”, discrimina.

Equanimidade de gênero e raciais, além de valores ecológicos, encontram mais uniformidade entre os Z.

Assim, explica Caetano, muitos jovens têm notado que o mundo do trabalho vem se tornando precário, e que há uma ideologia da flexibilidade que tenta justificar essa precarização. “A geração imediatamente anterior (Y) celebrava a flexibilização laboral como libertação. A mais nova (Z), por outro lado, já percebe que essa flexibilização possui um lado negativo e pode ser um elemento de frustração de expectativas a longo prazo”, aponta. Acentuada pelas crises políticas e econômicas, essa percepção mais cética e desencantada contribui para deixar os nativos digitais mais ansiosos e incertos com relação ao futuro, “o que explica algum retorno a valores mais tradicionais, como o apreço pela estabilidade laboral”, afirma o professor.

Influência social – De tal modo, no que se refere a trabalho, a Geração Z não avança automaticamente, como se esperava, para a busca de mais autonomia e independência em detrimento da empregabilidade estável. Para eles, a ideia de investir em uma única profissão perde força, sendo a realização de mais de uma atividade e a migração de carreira vistas como naturais. “Há que se considerar, ainda, que essas tendências são influenciadas pela condição social do indivíduo”, ressalva Caetano. “O jovem de classe média alta brasileira tem mais em comum, no que diz respeito a seus anseios, relação com a tecnologia e construção da subjetividade, com um jovem de Nova York ou da Europa, do que com uma pessoa da mesma idade, porém de classe baixa, de seu próprio país”, salienta.

Por outro lado, visões referentes a comportamentos e costumes, como a equanimidade de gênero e raciais, além de valores ecológicos, encontram mais uniformidade entre os Z. “Pautas que representavam grandes rupturas ou novidades em tempos anteriores, como a libertação sexual, já são vistas com mais naturalidade entre esses jovens”, confirma o antropólogo.

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Texto: Ariel Rossi Griffante – argriffante@ucs.br
Fotos: Claudia Velho – cvelho@ucs.br