Autores EDUCS em destaque: Cecil Jeanine Albert Zinani
Professora aposentada da Universidade de Caxias do Sul na área de Educação, com ênfase em Língua e Literatura, lança obra sobre a indústria calçadista de Farroupilha no sábado, 14 de outubro, na Feira do Livro
A professora aposentada da Universidade de Caxias do Sul Cecil Jeanine Albert Zinani tem sua história conectada aos livros ainda antes de ser alfabetizada. Farroupilhense, cursou no município de origem o Ensino Médio Normal, que na época se chamava Curso de Preparação para Professores Primários, e o Técnico em Contabilidade. Seguiu a trajetória formativa com a graduação em Letras – Português e Inglês na UCS, que abriu caminho para a especialização em Literatura Infantojuvenil, também na Universidade; o mestrado em Letras: Teoria da Literatura, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS); o doutorado em Letras: Literatura Comparada, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e o pós-doutorado na linha de pesquisa Literatura, História e Memória na PUCRS.
Atuou como professora das redes estadual e particular, ministrando aulas de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Língua Inglesa, e ingressou na UCS como docente nas áreas de Língua Portuguesa e Literatura. Foi finalista do prêmio Açorianos com a obra Dicionário biobibliográfico dos escritores da Região de Colonização Italiana no Nordeste do Rio Grande do Sul, da qual participou como organizadora, e escreveu um capítulo no livro Retratos de camafeu: biografias de escritoras sul-rio-grandenses, que recebeu o Prêmio Ages.
Cecil lança pela EDUCS na Feira do Livro de Caxias do Sul a obra A indústria calçadista de Farroupilha: o pioneirismo de Paulo Broilo, no sábado, 14 de outubro, às 17h. Com uma carreira consolidada na docência, muitos livros publicados e empenho na pesquisa, a professora compartilha aspectos da longa trajetória de dedicação como autora.
Quando e como os livros entraram em sua vida?
O livro entrou em minha vida muito antes de eu ser alfabetizada. Minha família era de leitores desde meus avós, que tinham uma biblioteca considerável para os padrões da época. Antes de dormir, minha mãe sempre lia para mim. Ingressei na escola já alfabetizada. Eu costumava ganhar muitos livros de presente. Minha mãe contava que eu era uma criança muito agitada, sempre em movimento, dando bastante trabalho para quem tivesse que tomar conta de mim. A partir do momento em que aprendi a ler, estava sempre quieta num canto, com um livro na mão. Foi uma mudança radical. Desde então, o livro sempre fez parte de minha vida.
Como a sua formação contribui para o processo de escrita dos livros?
Acredito que, de certa maneira, minha formação na área de Letras facilite bastante a escritura de um livro, ensaio ou artigo, devido à familiaridade no trato com a linguagem. Ao mesmo tempo, essa formação torna-se um elemento inibidor, em função da autocensura imposta, justamente, pela questão da linguagem, por ter em vista a adequação, a clareza, o estilo, entre outros aspectos.
Qual foi seu primeiro livro? Quando decidiu publicá-lo e quais fatores afetaram o processo?
Na verdade, quando recebi a versão original de minha dissertação de mestrado, que havia entregado ao meu orientador, o professor Juan Mosquera, ele falou que aquele trabalho já consistia em um livro e que ele fazia questão de escrever o prefácio quando fosse publicado. O projeto não prosperou, porém a ideia permaneceu. Quando comecei a trabalhar com pesquisa, na UCS, uma boa parte daquele trabalho foi aproveitado no livro que organizei, intitulado Transformando o ensino de língua e literatura: análise da realidade e propostas metodológicas, que reunia ensaios de outros grupos, além do nosso, formado pela professora Salete Rosa Pezzi dos Santos e por mim.
Quantos livros você já escreveu?
A partir da experiência inicial, seguiram outras obras. Houve grande apoio do antigo coordenador da EDUCS, tendo em vista que nossos dois primeiros livros (ambos coletâneas de ensaios) tiveram a primeira edição esgotada, sendo feita uma segunda edição. Minha tese de doutorado deu origem à obra Literatura e gênero: a construção da identidade feminina, livro que também esgotou a primeira edição, partindo para a segunda, tendo em vista que foi utilizado, em muitas universidades, como bibliografia básica para exame de seleção para ingresso em cursos de pós-graduação stricto sensu. Outro livro, cuja primeira edição também esgotou, foi Histórias da literatura: questões contemporâneas, resultado de meu estágio de pós-doutorado. Paralelamente, organizei e participei da organização de diversas obras, mais de 10, certamente.
Qual seu livro mais recente e do que trata?
Em 2022 foi lançada uma obra sobre Júlia Lopes de Almeida, da qual participei da organização. Na mesma época, já estava em processo de escrita bastante adiantado o livro A indústria calçadista em Farroupilha: o pioneirismo de Paulo Broilo, que será lançado na 39ª Feira do Livro de Caxias do Sul, no dia 14 de outubro, às 17h. Paulo Broilo fundou a primeira indústria no município, em 1918, que foi uma fábrica de calçados. A partir de então, surgiram muitas empresas que exploraram o mesmo ramo de atividade, delineando, provavelmente, a vocação industrial do município, anteriormente dedicado ao setor primário. Gostaria de, no resgate da figura pioneira de Paulo Broilo, destacar a relevância daqueles homens e daquelas mulheres, entre elas a personalidade ímpar que foi Dona Giacomina Broilo, que construíram a comunidade farroupilhense, a fim de que não sejam esquecidos e possam inspirar as gerações vindouras.
Quais conselhos você daria para quem quer se aventurar na produção de livros?
Partindo da experiência pessoal, acredito que, antes de escrever, a pessoa deve ler muito, não somente para ter conhecimento sobre temas que, porventura, irá abordar, mas também para conhecer o manejo da linguagem e ampliar seus recursos linguísticos. Antes de se aventurar a voos mais altos, sugiro começar com a escrita de textos curtos, observando se há início, desenvolvimento e conclusão, se a tese proposta é sustentada por argumentos e evidências adequados, ou, no caso da ficção, se existe coerência entre espaço, tempo, personagens, narrador. Acredito que um pouco de teoria não faz mal a ninguém.
Como pesquisadora, professora e gestora, que importância atribui às publicações em livros e revistas científicas?
A publicação é muito importante, pois é uma forma de disseminar o conhecimento e propiciar o avanço da pesquisa em qualquer área. No entanto, nem tudo o que é publicado é relevante, apesar da avaliação cega e de outros mecanismos utilizados pelos periódicos acadêmicos, no intuito de qualificá-los. Nesse aspecto, chama a atenção o desprestígio do livro em relação aos artigos, na avaliação realizada por órgãos de fomento, o que é lamentável, pois um livro implica muito mais pesquisa, esforço e dedicação do que um artigo de algumas páginas.
Poderia destacar os três aspectos mais significativos relacionados à experiência de publicar um livro?
Poderia destacar, em primeiro lugar, o ato de escrever, que não é algo simples. A escrita demanda muito envolvimento, muita releitura e reescrita. Feito o trabalho, o processo de publicação com todos os elementos envolvidos: aceitação pela editora, múltiplas revisões e discussões sobre aspectos que nem haviam sido cogitados, como os elementos paratextuais (capa, contracapa e orelhas). Em terceiro lugar, o recebimento do livro pronto, que produz uma satisfação indizível.