Campus 8 recebe a exposição “Tessituras Circulares: um resgate da arte têxtil de Ana Norogrando”
A partir de 8 de março, a comunidade de Caxias do Sul poderá prestigiar um conjunto de 12 obras da artista, professora e pesquisadora que, em cinco décadas, se tornou referência para a arte contemporânea gaúcha
A Galeria de Artes do Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul recebe a exposição Tessituras Circulares: um resgate da arte têxtil de Ana Norogrando. A abertura, no dia 8 de março, às 19h30, contará com a presença da artista em um bate-papo, que se inicia às 20h, sobre o trabalho desenvolvido, no Auditório Marelli. A visitação do público ocorre de 9 de março a 6 de abril, de segundas a sextas-feiras, das 8h às 22h.
A exposição consiste em um conjunto de 12 obras escultóricas em fibra metálica galvanizada, cobre e outros metais da artista, professora e pesquisadora que, em cinco décadas, se tornou uma referência para a arte contemporânea gaúcha. Esta mostra, especificamente, faz um resgate da produção têxtil da artista nos anos 1980/90, época em que o têxtil ainda era objeto de questionamento na arte.
A curadora e professora da UCS Silvana Boone, coordenadora dos cursos de graduação em Artes Visuais da Universidade, explica como isso se desenrolou. “À sua maneira, Norogrando dialogava com as mudanças acerca do objeto tridimensional descaracterizando o que nos acostumamos a chamar de escultura, rompendo com as definições pré-concebidas entre o objeto escultórico e a ideia bidimensional daquilo que, até então, era entendido como têxtil”, contextualiza.
Para ela, o termo têxtil é comumente associado a materiais maleáveis, moles, tecidos e vestidos, e durante muito tempo esteve mais vinculado à esfera artesanal do que à arte contemporânea. “Não adentrando nas diferenças e longe de promover um debate acerca da natureza fim de cada uma dessas esferas, a obra de têxtil de Ana Norogrando não se propõe ao contexto utilitário e por si só, afasta-se de qualquer possibilidade de associação ao fazer artesanal. Sendo as ações de tecer e tramar consideradas atividades femininas desde a antiguidade, também coube à literatura a atribuição do caráter simbólico de tais ações”, afirma Silvana.
A artista esteve na Universidade de Caxias do Sul, em 1992, na antiga Galeria de Arte da Biblioteca Central, dividindo o protagonismo com outros quatro artistas gaúchos. A curadora da exposição destaca que, assim como o título, o conjunto de obras apresentado vem resgatar pontualmente as tessituras circulares têxteis metálicas de Ana Norogrando, pensadas e construídas no movimento e na ação do tempo. Segundo ela, isso pode ser traduzido nas mais diversas formas simbólicas que o círculo emana, bem como vem desvelar, após mais de três décadas da sua concepção, nos anos 1980 e 1990. “Uma história que queremos apresentar ao público e especialmente aos nossos estudantes, já que na sua essência, a arte conecta-se ao design, à moda, e aos inúmeros conceitos interdisciplinares que envolvem a materialidade, a sustentabilidade, e as relações entre o fazer da mão e das tecnologias”, explica.
Silvana conta que o desejo é apresentar esses conceitos aos estudantes por meio das obras expostas e do pioneirismo de Norogrando – no final dos anos 1970 – que serviu como “ponto de partida e vem reverberar na consolidação de uma linguagem ancestral que hoje passa a ter maior visibilidade e valor no universo da arte”.
Sobre Ana Norogrando
Natural de Cachoeira do Sul, nasceu em 1951 e hoje reside e trabalha em Porto Alegre – RS. Dedicada em desenvolver projetos em escultura, objetos e videoinstalação, lecionou no Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal de Santa Maria e realizou projetos de pesquisa em arte junto às terras e comunidades indígenas Kaingang do Sul do Brasil, na comunidade da Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto Alegre – RS, e pelas águas da ria em Aveiro, Portugal.
A artista, que conta com obras em inúmeros acervos públicos e coleções particulares, também realizou diversas exposições individuais e coletivas no país e no exterior, tais como Sobre as Águas, no MAC – RS, em 2011; Sincronias, na Sala Janete Costa – PE, em 2013; a retrospectiva Ana Norogrando – Obras 1968-2013, no MARGS – RS, em 2013; Corpos e Partes, na Fundação Badesc – SC, em 2016; Corpos de Fábrica: Obras 2016 – 2017, no Museu Oscar Niemeyer – PR, em 2017; e Coreografia de Sombras, na Galeria Morgados da Pedricosa, Aveiro, Portugal, em 2021.
Além disso, ela participou de importantes exposições coletivas como a 10ª Bienal do Mercosul – Mensagens de Uma Nova América, em 2014; Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em 2017; Fora das Sombras, no Museu Oscar Niemeyer, em 2022; e Trama, na Fundação Iberê Camargo, em 2022.