A celebração fez parte da abertura da Semana Acadêmica “A Vida em Questão: Reflexões sobre Filosofia Prática”

Dos dias 26 a 30 de setembro ocorreu a Semana Acadêmica do curso de Filosofia da Universidade de Caxias do Sul. Promovida pela Área do Conhecimento de Humanidades, pelo curso de Filosofia e pelo Diretório Acadêmico do curso de Filosofia (DAFil), o evento foi nomeado “A Vida em Questão: Reflexões sobre Filosofia Prática”.

Durante a maior parte da tradição filosófica as reflexões sobre a vida estiveram associadas ao que diretamente afeta a humanidade. Mais recentemente, outras formas de vida, não humanas, passaram a também receber atenção da filosofia, que dialoga com as ciências a fim de compreender as responsabilidades que o ser humano assume frente ao ambiente em que age e transforma. É por isso que, neste ano, o objetivo do Simpósio é refletir sobre os modos de relação do ser humano com diferentes formas de vida presentes no ambiente a partir de referências teóricas da Filosofia prática e suas interfaces.

Ainda no dia 26 de setembro, antes da cerimônia de abertura, foi realizado um encontro informal com professores aposentados do curso de Filosofia. Juntamente com os atuais professores e demais convidados do evento, estavam presentes Décio Bombassaro, Aldo Migot, Jayme Paviani e José Carlos Köche. Esses professores também acompanharam a solenidade, na sequência.

O evento

A abertura do Simpósio de Filosofia, que também deu início à Semana Acadêmica do curso de Filosofia, contou com a apresentação do duo de violinos da UCS Orquestra, formado pelos músicos Rodrigo Maciel e Carlos Zinani, no dia 26 de setembro. Na sequência, algumas das autoridades presentes foram convidadas a se manifestar. O Presidente do DAFil, Erisson Teixeira Emer, falou em nome dos estudantes, reafirmando o compromisso dos acadêmicos junto à importância histórica e solidez que o curso desenha na memória de Caxias do Sul e da UCS.

A diretora da Área do Conhecimento de Humanidades, professora Terciane Ângela Luchese, citou um trecho do livro “Aula inaugural da cadeira de semiologia do Colégio de França”, de Roland Barthes, que diz que a fragilidade das ciências, ditas humanas, decorre talvez disto, são ciências da imprevisão. As ciências da imprevisão, avança o autor, que são as ditas humanas, são constantemente questionadas, posto que os tempos, os sujeitos, as condições culturais, sociais, políticas, econômicas e tanto mais se alternam, complexificam-se.

Por conta disso, Terciane destacou a importância de promover eventos que permitam debates qualificados para pensar, contrapor argumentos e avançar nos saberes. Para ela, momentos assim significam uma abertura para o aprendizado, para a escuta atenta e para a possibilidade de conviver.

Após isso, o reitor da Universidade de Caxias do Sul, professor Gelson Leonardo Rech, apresentou a conferência “A Faculdade de Filosofia de Caxias do Sul e seu Papel Histórico e Acadêmico para a Universidade de Caxias do Sul”. Esse momento teve participação especial em vídeo do segundo diretor da Faculdade de Filosofia, Dalcy Fontanive.

O professor aposentado explicou que, na época da criação da Faculdade de Filosofia (1960), a cidade tinha uma característica de desenvolvimento rápido com uma população jovem que demandava ingressar no Ensino Superior. Em paralelo, o ex-diretor compara o período em que surgiu o curso com a atualidade. “A cidade de Caxias do Sul e o país viviam um ambiente de muita efervescência de fundo ideológico, hoje nós vivemos outra efervescência que me parece ser mais de fundo político”, comenta.

Ele ainda afirma que se sente um homem feliz e realizado com os caminhos que a Faculdade de Filosofia seguiu. “A felicidade de um professor é quando ele vê seu aluno profissionalmente realizado”, conclui.

Na sequência, o coordenador do curso de Filosofia, professor Vanderlei Carbonara, explanou sobre como essa construção foi um marco civilizatório. “O curso de Filosofia ocupou, e ocupa, o seu lugar de promover o pensamento crítico, a análise e validação de argumentos, a especulação conceitual, a interpretação dos fenômenos do mundo da vida e a proposição de modos de compreensão da realidade a fim de apontar perspectivas de transformação. E o fazemos orientados pela excelência acadêmica e pelo compromisso com uma sociedade que vise à justiça para todos”, explica.

Atualmente a formação filosófica na UCS vai além da graduação, conta com Programas de Pós-Graduação – Mestrado e Doutorado voltados à pesquisa ética, filosofia política e filosofia jurídica. O coordenador do curso atribui também esse sucesso à Diocese de Caxias do Sul. “Agradecemos pela grandiosa iniciativa, se hoje estamos aqui assumindo tais posições e compromissos, muito o devemos aos nossos fundadores”, reconhece.

Com isso, representando o curso, o professor Vanderlei Carbonara convidou o reitor e o vice-reitor da UCS, professores Gelson Rech e Asdrubal Falavigna, a diretora da Área de Humanidades, professora Terciane Luchese, e os coordenadores dos cursos de História e Letras, professores Eliane Cardoso e Diego Chiapinotto, para juntos entregarem a placa de homenagem pela criação da Faculdade de Filosofia de Caxias do Sul ao Chanceler da Cúria Diocesana, padre Eleandro Teles.

Representando o bispo diocesano Dom José Gislon, Eleandro apresentou seu depoimento como ex-aluno da UCS, destacando a convivência com professores e colegas do curso de Filosofia. Em sua fala, o religioso ressaltou a importância dos estudos sobre a Doutrina Social da Igreja nos primórdios da Faculdade de Filosofia e fez um percurso sobre várias perspectivas do humanismo cristão, defendendo essa visão humanista como premissa formativa a ser perseguida.

Lançamento do Livro “Filosofia e o mundo da vida”

O primeiro dia do evento foi marcado por dois principais momentos: a solenidade em celebração aos 62 anos do curso de Filosofia e o lançamento do livro comemorativo ao sexagenário do curso – que estava planejado para ocorrer em 2020, mas foi adiado em função das medidas de distanciamento social adotadas pela Universidade. Elaborada pelo Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, professor Everaldo Cescon, e pelo professor Idalgo José Sangalli, que ocupou o cargo de coordenador do curso de Filosofia por mais de uma década, a obra é um compilado de contribuições de egressos, ex-professores, professores e de pesquisadores do curso, seja bacharelado ou licenciatura.

O livro “Filosofia e o mundo da Vida” traz relatos e reflexões sobre a importância do curso para a constituição e missão da UCS na comunidade regional, para a formação de pessoas com espírito crítico e humanista, para desempenhar com excelência as funções profissionais, nos diferentes âmbitos de atuação dos egressos e, por fim, para a educação democrática da sociedade. “O tema não poderia ser diferente, há 2.500 anos a gente tenta continuamente justificar a nossa existência enquanto pensadores da Filosofia […] e é paradoxal, ao mesmo tempo em que não há nada mais importante do que nós entendermos a nós mesmos, também temos que justificar porque temos de fazer”, explica o professor Cescon.

O professor Idalgo José Sangalli, contente com o lançamento da obra, agradeceu a todos os colegas e professores que colaboraram com os textos e a parceria para a elaboração deste material.

Atualmente o livro está disponível em versão on-line, no catálogo da Editora da Universidade de Caxias do Sul, mas segundo o reitor Gelson Leonardo Rech também será publicado de forma física.

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Conferência com o reitor Gelson Leonardo Rech

Com o intuito de apresentar um panorama histórico linear do curso de Filosofia que começou suas atividades como Faculdade de Filosofia, em 1960, por um Decreto Curial, o reitor Gelson Leonardo Rech conduziu a conferência “A Faculdade de Filosofia de Caxias do Sul e seu Papel Histórico e Acadêmico para a Universidade de Caxias do Sul”.

Ao longo do seu discurso, o professor Gelson Rech destacou o papel desempenhado pela Igreja Católica no Rio Grande do Sul, nas décadas de 1940 a 1960, com a criação de várias instituições de Ensino Superior, e enfatizou a participação da Diocese de Caxias do Sul nesse momento, ao criar, ao final da década de 1950, as Faculdades de Ciências Econômicas e de Filosofia que, mais tarde, iriam compor, com outras iniciativas, a Universidade de Caxias do Sul. “Uma das prioridades pastorais do Episcopado Brasileiro nos anos 50 era a formação católica de lideranças leigas. Inspirava-se nas experiências exitosas do Centro Don Vital no Rio de Janeiro, celeiro de influentes intelectuais no campo da Filosofia, Histórias, Literatura, Medicina e Política da PUC RJ, prestigiada universidade brasileira”, conta o professor.

As atividades relacionadas à Faculdade de Filosofia, que antes ocorriam no Colégio São José, passaram a funcionar no Campus-Sede, no bloco A, em 1970. Desde o início, por conta do impulsionamento, a faculdade sempre teve membros da igreja como diretores.

Ao longo do tempo, a Faculdade de Filosofia, juntamente com as Faculdades de Direito, Economia, Belas Artes e Enfermagem, originou a Universidade de Caxias do Sul. Para contextualizar, o reitor apresentou documentos importantes para o curso de Filosofia, como a programação da primeira Semana Acadêmica, o currículo do curso e fotos de momentos marcantes. “Era uma Faculdade aberta, conectada ao seu tempo”, afirma Rech.

O reitor explica que na década de 1980, o mundo era muito diferente, mas as necessidades de formar pessoas e profissionais eram muito semelhantes. “Inovação é uma palavra que se fala nos últimos 10 anos dentro das Universidades. Pesquisa e Extensão é uma questão que vem depois dos anos de 1980. Então a Faculdade de Filosofia nasce com o foco do Ensino, formação profissional”, indica.

Por acreditar que “os textos enriquecem a nossa Instituição”, Gelson Leonardo Rech também citou três obras alusivas à história da UCS: “O pensar e o construir: da Universidade da Serra Gaúcha à Universidade de Caxias do Sul”, de Eliana Gasparini Xerri; “Uma experiência universitária – Os primeiros anos da Universidade de Caxias do Sul e sua repercussão social (depoimento)”, de Jayme Paviani; e “Origens da Universidade de Caxias do Sul: As escolas e as faculdades isoladas”, organizado por Gelson Leonardo Rech e Jayme Paviani.

Fotos: Bruno Zulian