Encontro reúne primeira turma de médicos formados pela UCS, há 50 anos
Com muita emoção e memórias partilhadas, evento de “reformatura”, como intitulou o orador nas ocasiões da colação de grau, em 1973, e no Jubileu de Ouro, realizado na última semana, valorizou os pioneiros no curso de Medicina
Se a alegria é intensa ao celebrar a colação de grau em uma universidade, imagine comemorar os 50 anos da formatura. No dia 20 de outubro, o Bloco A teve pelos seus corredores 17 dos primeiros alunos do curso de Medicina, que percorreram, entre 1968 e 1973, os mesmos caminhos e salas de aula para estudar, já que as aulas ocorriam nas dependências do prédio que hoje abriga a reitoria. Ainda antes da homenagem que estavam prestes a receber, era possível encontrar com os egressos pelo Bloco, já togados, compartilhando abraços e lembranças.
A comemoração do Jubileu de Ouro da primeira turma formada no curso, no dia 20 de dezembro de 1973, ocorreu na semana em que é celebrado o Dia do Médico, e no contexto das celebrações dos 55 anos do curso de Medicina da Universidade de Caxias do Sul, completados em 2023.
Memórias na “Reformatura”
Primeira Turma
A primeira turma teve 46 formandos: Abdo Taufik Albdo Nader, Abrahão Epelbaum Laser*, Adir Fachinello*, Angela da Silva Ribeiro, Annie Gomes da Rocha, Aramis Duilio Segatto, Bento Velloso Rocha Júnior*, Carmen Lígia Borges Bandeira, Celso Irineu Rubman, Claudio Seferin, Daniel Juckowsky Filho, Dirceu Martins Filho*, Edison Renato Rössler, Enio Tschiedel do Valle, Enio Seibert, Fernando Antonio de O. Cyrillo*, Flávio Minghelli, Francisco José de Lima Bocaccio, Francisco Juarez de Almeida Karkow, Geraldo D’Elia Gallicchio*, German Arnez Claros, Gilberto Roveda*, Guido Tadeu Della Giustina, Higino José Silva Marçal Pessoa, Jean El Andari*, Joanna Baldiserotto*, João Gaetano Maia Reginato, João Otavio Zanettini, José Jaeger Bochehin, Lauvir Martins Nery, Luiz Carlos Tonet*, Luiz Sérgio de Araújo Ribeiro*, Márcia Ordovás Baldi, Maria da Graça Guimarães dos Santos, Norli Luchesi*, Pedro Paulo Madeira Machado*, Petrônio Fagundes de Oliveira Filho, Raphael Mario Ribeiro Papaleo, Rosalvo Ottoni Costa*, Samir El Ammar, Sérgio Roberto Petersen, Sérgio Lomando, Trajano Alfonso Henke*, Walter José Winkler*, Wilmar Wilfrid Rubenich e Zinid Ricardo Bittencourt Diniz.
*in memoriam
O evento de “reformatura”, como intitulou o orador da turma na ocasião da colação de grau em 1973 e no evento do Jubileu de Ouro, médico Samir El Ammar, foi movido a afeto e alegria. “Hoje, vamos conversar sobre nós e o que a gente quiser falar”, brincou com os colegas, anunciando que sua fala no protocolo seria leve, diferente da tradicional rigidez da solenidade de 50 anos atrás e de seu discurso que, à época, precisou ser submetido para aprovação da reitoria. Enquanto costurava lembranças e fatos, Samir saudava os colegas presentes, os que não puderam comparecer e os já falecidos, todos protagonistas de uma história de grande importância particular e que marcaria a UCS, com o início de uma trajetória que se perpetua até hoje na formação de profissionais na área da saúde. “Nos conhecemos há 56 anos, quando vieram 440 candidatos a pleitear uma das 40 vagas então oferecidas na nova faculdade de Medicina da UCS”, lembrou, citando a convivência na fase do vestibular e da busca por moradia em Caxias, período em que conheceram seus colegas. No caso de Samir, os primeiros a se tornarem próximos foram Enio Luís Tschiedel do Valle e Petrônio Fagundes de Oliveira Filho – Petrônio tornaria-se o primeiro pediatra de seu filho, Gibran, hoje também médico e presente na solenidade. Daqueles olhares tímidos iniciais a conversas e momentos bem vividos, o grupo se tornou uma grande família chamada ATM73.
Por serem pioneiros, aqueles alunos não contavam com colegas veteranos na Medicina para compartilhar angústias. Foram desbravando a formação e alcançando o desenvolvimento: no quarto ano de estudos, muitos já realizavam cirurgias completas, assistidos pelos docentes. As aulas passaram e se mesclar com as experiências de trabalho na área e, por fim, se tornaram médicos. Diante de conflitos decorrentes da convivência somados a fatores como dificuldade de adaptação, distâcia da família, saudade e solidão, Samir destacou em seu discurso uma colega famosa por gerenciar e apaziguar situações. “Fiquei 49 anos sem ver ou falar com essa pessoa. Ano passado nos encontramos para ajudar a organizar o evento de hoje, conversei com ela e bastaram cinco minutos para ver que ela continua a mesma: bondosa, caridosa e pacífica”. A colega, Angela da Silva Ribeiro, foi homenageada com uma placa.
Das vivências na UCS ficaram saudades, qualificação e todos os laços de amizade, além da gratidão aos professores. Diante de uma Universidade hoje com excelência reconhecida, Samir concluiu: “a nossa turma, com apoio de nossos professores, e com as 49 turmas que nos sucederam, ajudou a formar um conceito de Medicina”. E sobre a profissão constituída, cunhou: “é um orgulho ser médico sim, da UCS!”.
Celso Piccoli Coelho foi um de seus professores e saudou emocionado os ex-alunos, hoje colegas de profissão. “É uma grande satisfação estar representando meus amigos e colegas. Vocês continuam sendo os nossos alunos, e isso é o que vale. Colegas e ex-alunos, mas, principalmente, amigos”. Compartilhou ainda passagens de seu próprio ingresso como professor voluntário nas aulas práticas e depois docente na Universidade, onde permaneceu por 36 anos atuando pela formação de bons e éticos médicos e participando de momentos de evolução da Instituição, como a criação do Ambulatório Central e do Hospital Geral.
Além de Celso, também estavam presentes na solenidade os docentes da primeira turma Antonio de Oliveira Quevedo, Francisco Michielin, João Carlos Prataviera, Marco Túlio Zanchi e Vicente Gerardo Gallicchio.
Discursos
O reitor da UCS, professor Gelson Leonardo Rech, evidenciou a emoção do encontro. Reverenciou os jubilados e lembrou que o Hino Universitário Gaudeamus igitur, tema executado durante a entrada dos homenageados no evento, data dos anos 1270 e convida: “alegremo-nos, portanto; enquanto somos jovens”. Ambientando cerimônias de formatura ao redor do mundo, essa ode à juventude, como identificou, lembra também da importância de se alegrar pelas conquistas diante da finitude da vida. “Pela suas trajetórias, vê-se que a vida foi e está generosa, o que também estamos celebrando. Comemoramos nesta casa da ciência a formatura, a memória, mas também a vida que deu certo, a competência que foi elogiada, no processo de cuidar das pessoas e salvar vidas”.
Vice-reitor, o professor e médico Asdrubal Falavigna enunciou uma “fala do coração” sobre a felicidade e honra de se dirigir aos alunos pioneiros, que renunciaram à segurança ao ingressar em uma Instituição ainda sem conhecer sua qualidade de ensino na área. “Com certeza a Universidade já nasceu forte, porque originou médicos de alta qualidade, que assumiram o comando de suas trajetórias de sucesso”. O pioneirismo também agrega responsabilidade e desafios, demandando resiliência diante de acertos e erros, conforme enfatizou. “Vocês nos ajudaram muito a formar a base do atual curso de Medicina e permanecem nos corredores a partir de suas histórias que servem de modelo para os médicos que formamos”.
Diretor de Ensino do Hospital Geral, o médico Darcy Ribeiro Pinto Filho, que já atuou como coordenador do curso de Medicina, contou que sua formatura ocorreu dez anos após a dos pioneiros e que carrega o fato de “ser filho da UCS” na primeira linha de seu currículo. Reforçando a evolução da graduação, em projeto pedagógico e estrutura, celebrou: “esse curso hoje é um dos maiores e melhores do Estado e do Brasil. E estamos caminhando para uma excelência ainda maior”.
Atual coordenadora do curso, Ana Paula Agostini também se formou na UCS e enumerou seus professores dentre os presentes, parabenizando-os pela trajetória. “Hoje é um desafio formarmos médicos tão humanos e tão éticos frente a uma tecnologia que nos atropela”, contextualizou, afirmando a atenção em fazer com os que os profissionais usem a tecnologia na medida certa, sem perder a humanidade, a ética, a moral e o olho no olho.
A pró-reitora de Graduação, Terciane Ângela Luchese, contextualizou no âmbito da educação e da história, destacando a relevância de rituais universitários como a formatura. “Creio que esta celebração foi um grande convite para a memória de momentos, situações, pessoas e lugares que marcaram a história de cada um e cada uma. Rememorar é também compartilhar sentidos e significados da nossa existência”.
Com foco no reencontro e na valorização dos profissionais graduados na Universidade, a ação integra o escopo do UCS Alumni, programa de relacionamento com os egressos da Instituição.
Fatos e datas históricas do curso
O evento ainda teve o anúncio de que reitor e vice-reitor preparam um livro sobre os 55 anos do curso de Medicina, e nesta busca pela história já foram localizadas relíquias da trajetória. Entre elas, convite de formatura e fotos de momentos da vida acadêmica e social dos estudantes, que foram exibidas, assim como o vídeo resgatado neste ano que ilustra aulas e alunos da primeira turma.
Juntos, os colegas participaram de momentos como: a aula inaugural do curso proferida pelo reitor e um dos fundadores da UCS, Virvi Ramos; no dia 01/05/1968, da já tradicional passeata dos bichos junto aos aprovados nas Faculdades de Direto, Filosofia, Economia, Belas Artes, Engenharia e Enfermagem; no dia 04/05/1968, do baile dos calouros e escolha da rainha dos calouros da UCS, no salão de festas do Clube Guarani; no dia 17/10/1969, da criação do Diretório Acadêmico da Faculdade de Ciências Médicas Dr. Virvi Ramos; e nos anos 1970, passaram a ter aulas práticas nas dependências do hoje Hospital Virvi Ramos, à época ampliado com a construção de um prédio onde funcionou o Hospital Escola.
Cronologia
- 06/04/1967: criação da Faculdade de Medicina aprovada em reunião do Conselho Curador da Associação Universidade de Caxias do Sul
- 13/11/1967: autorização de funcionamento, conforme decreto federal 61.692. A Faculdade teve como seu primeiro diretor o professor e médico Renato Metsavaht
- Março de 1968: início das aulas do curso de Medicina
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19/05/1969: com a aprovação do Plano de Reestruturação da Universidade de Caxias do Sul, a faculdade passa a denominar-se Faculdade de Ciências Médicas (anteriormente era apenas Faculdade de Medicina)
- 16/03/1970: pela Portaria da UCS n.º 29, é criado o Hospital Escola da Faculdade de Ciências Médicas em convênio com a Associação Cultural Nossa Senhora de Fátima
- 28/04/1970: pela portaria da UCS n.º 36, é estabelecida a transferência da Faculdade de Ciências Médicas para o “Campus 2” da UCS, no edifício do antigo Colégio Sacré Coeur de Marie, atual Bloco A. Anteriormente as atividades do curso eram realizadas em diversos locais, como no Colégio Nossa Senhora do Carmo (Rua Os 18 do Forte, 1754), na Católica Domus (em frente ao Carmo) e hospitais conveniados
- 20/12/1973: realização da solenidade de formatura da primeira turma de Medicina da UCS. A colação de grau ocorreu no Salão de Atos do Colégio São José, e o baile de formatura no Clube Juvenil
- 07/03/1974: reconhecimento do curso de Medicina pelo decreto federal 73.761
- 1974: após estruturação administrativa e acadêmica, são extintas as faculdades, que passam a corresponder a centros acadêmicos. Sendo assim, a Faculdade de Ciências Médicas deixa de existir e o curso de Medicina passa a integrar o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, junto aos cursos de Enfermagem, Biologia e Educação Física
- 1982: inauguração do Ambulatório Central (junto ao prédio do SESI, que funcionava na Rua Pinheiro Machado)
- 21 de março de 1997: inauguração do Ambulatório Central no Campus-Sede
- Março de 1998: inaugurado o Hospital Geral de Caxias do Sul, que funciona como hospital de Ensino e Pesquisa
- 2001: inaugurado o Bloco S, no Campus-Sede, sede para as atividades do curso
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2011: gestão UCS nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e início do internato rural nos municípios de Nova Petrópolis, Barão, Santa Maria do Herval e Caxias do Sul
- 2013: melhoria das condições de ensino: Portal CAPES, ampliadas as atividades práticas, interdisciplinaridade, incremento dos laboratórios e reestruturação do internato: clínica-médica, cirúrgica, urgência-emergência, saúde da família, internato rural, pediatria, gineco-obstetrícia
- 2015: acreditação da Escola Médica pelo SAEME – Sistema de Avaliação e Acreditação dos Cursos de Medicina no Brasil
- 2015-2016: aprovado o Mestrado Acadêmico em Ciências da Saúde e formação do Serviço de Apoio à Área da Saúde (SAAS) – Mentoring Med
- 2017: Congresso Brasileiro da História da Medicina
- 2018: aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) o doutorado em Ciências da Saúde
- 2019: inaugurado o Instituto de Pesquisas em Saúde – IPS, no Bloco S, da junção do Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS e do Instituto de Pesquisas Clínicas para Estudos Multicêntricos
- 2019: aliando Administração e Saúde, UCS lançou seu primeiro MHB, Master of Health Business, especialização com ênfase nos negócios em saúde em Otimização de Processos de Saúde
- 2020: inaugurado o Centro de Saúde Digital, integrado ao Centro Clínico da UCS, dedicado aos serviços de Telemedicina e Saúde Digital
- 2020: em resposta à pandemia de Covid-19, o IPS iniciou a realização de testes e diagnóstico para a doença. Com diferentes frentes para oferecer soluções à comunidade, UCS atuou com professores, alunos e funcionários em iniciativas como a condução de pesquisas epidemiológicas, estudos para desenvolvimento de antiviral e participação em estudo sobre a disseminação do coronavírus
- 2020: convênio estabelecido com a Prefeitura para a Gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte
- 2022: qualificado para estudos clínicos, Instituto de Pesquisas em Saúde da UCS teve novas e ampliadas instalações inauguradas no Bloco S
- 2022: lançado o Centro de Coletas de Células-Tronco, em acordo de cooperação técnica e científica com a Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética – Anadem e a R-Crio Criogenia S.A.
- 2023: reestruturado, Bloco H foi entregue à comunidade acadêmica com um Centro de Simulação da Vida em uma das estruturas mais modernas para o estudo da Medicina
- 2023: curso de Medicina completa 55 anos na UCS
Fotos: Bruno Zulian