Filósofo e teólogo Leonardo Boff participa de encontro com professores e funcionários da UCS
O autor de mais de 100 livros sobre ecologia, espiritualidade e antropologia esteve em Caxias abordando o tema ‘A Emergência Climática e o Saber Cuidar da Vida’
“Devemos cultivar a esperança. Ela é capaz de grandes mudanças”. Proferida em tom de otimismo pelo filósofo e teólogo Leonardo Boff, a frase norteou o bate-papo com um grupo de professores e funcionários da Universidade de Caxias do Sul realizado na manhã desta quarta-feira, dia 27 de setembro. Otimista, porém não menos realista, Boff reforçou algumas ideias compartilhadas na noite anterior, no UCS Teatro, onde palestrou para um grande público sobre A Emergência Climática e o Saber Cuidar da Vida. Assim como na palestra, no encontro com os professores Boff alertou: “ou fazemos essa travessia juntos, ou não teremos futuro”, citando um recente tweet do Papa Francisco.
Essa “travessia”, no entender do filósofo, é o futuro a curto prazo do Planeta Terra, onde a temperatura climática deve alcançar níveis perigosamente históricos entre 2025 e 2027. “Não estamos apenas experimentando o aquecimento global, mas vivenciando uma mudança do regime climático. As recentes enchentes que atingem o Rio Grande do Sul são uma evidência desse fenômeno”, destacou Boff.
Aos 84 anos, o autor de mais de 100 livros sobre ecologia, espiritualidade, filosofia e antropologia foi recepcionado no auditório do Bloco E do Campus-Sede pelo diretor da Área do Conhecimento de Humanidades da UCS, professor Vanderlei Carbonara. A religiosidade e a compaixão também pautaram a fala do teólogo diante do público de aproximadamente 30 pessoas. O Papa Francisco foi novamente mencionado por ele quando falou da encíclica social Fratelli Tutti, um novo paradigma de sociedade mundial que propõe a mudança do Dominus (senhor) para o Frater (irmão). “É uma ilusão enganadora pensar que podemos ser onipotentes e esquecer que nos encontramos todos no mesmo barco. Temos que resgatar os laços da fraternidade, do paradigma do ‘irmão’. Temos que voltar a ser irmãos da natureza, e não donos dela”, sugeriu.
Boff esteve à frente da criação da Teologia da Libertação. Em razão de suas teses ligadas a esse movimento, publicadas no livro Igreja: Carisma e Poder, foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, condenado a um ano de “silêncio obsequioso” e deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Sua pena foi suspensa em 1986, após uma pressão mundial sobre o Vaticano. Em 1992, renunciou às suas atividades religiosas. Um dos religiosos que participaram do julgamento de Boff foi Joseph Ratzinger, que viria a se tornar o Papa Bento XVI entre 2005 e 2013. “Nós éramos amigos na época, trocávamos livros. Mas coube a ele a condenação. Eu o entendi, não o julguei, porque cabia a ele aquela responsabilidade”, lembra Boff, que anos depois seria perdoado pelo Papa João Paulo II, por intermédio do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. “O Papa João Paulo disse a Dom Evaristo: libera o Boff lá…”, comentou o teólogo, para risos do público.
Palestra no UCS Teatro
Centenas de pessoas compareceram ao UCS Teatro na noite da última terça-feira, dia 26, para prestigiar a palestra de Leonardo Boff promovida pela Universidade de Caxias do Sul e pelo Fórum das Entidades, Movimentos e Pastorais Sociais. “Essa é uma casa da pluralidade, de reflexão e de acolhida. E ter a presença de Leonardo Boff representa mais um momento histórico da Instituição. Suas palavras e seus escritos forjam as pessoas de bem, aperfeiçoam o senso crítico e conduzem a sociedade para uma comunhão”, ressaltou o reitor da UCS, professor Gelson Leonardo Rech, ao introduzir a palestra do filósofo.
Confira a palestra de Leonardo Boff no UCS teatro neste link
Fotos: Bruno Zulian