Aulas ministradas na língua inglesa propõem internacionalização em sala de aula.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 31/07/2019 | Editado em 14/08/2019

Para além dos cursos de idiomas, disciplinas curriculares dos cursos de Graduação ganham versões em inglês, oportunizando a aplicação da língua em uma nova perspectiva, com vivências diferenciadas e aprendizados simultâneos.

O idioma não é o mesmo que se está acostumado a escutar pelos corredores. A língua inglesa domina o ambiente, e não se trata aqui do ensino de idiomas — que ocorre na UCS no Bloco L — são disciplinas curriculares dos cursos de Graduação ministradas em inglês, conexão que permite o exercício de uma linguagem considerada universal consonante aos aprendizados previstos à formação dos estudantes durante o semestre.

Apresentação de pôsteres na disciplina de Neurociência.

A oferta de quatro classes na modalidade, para além dos cursos que demandam especificamente a linguagem, foi novidade no primeiro semestre deste ano e afirma-se neste novo período letivo, com a abertura das turmas de Entrepreneurship e Between Technology, Business and Human Rights: the new Challenges of International Law. A inovação foi proposta pela Pró-Reitoria Acadêmica como estímulo à internacionalização de alunos e docentes, para além dos mecanismos tradicionais de intercâmbio, missão de estudos e cursos de idiomas.

[Acadêmicos falam de suas experiências nas disciplinas oferecidas em língua inglesa]

Considerando a iniciativa promissora, Caetano K. Sordi Barbará Dias foi docente de Sociedade, Cultura e Cidadania, classe de formação geral aos cursos de Graduação, e ressalta que “ministrar uma disciplina em língua estrangeira – e não de língua estrangeira – é um desafio que requer um esforço e uma dedicação imensa por parte do professor”. Entre os acadêmicos participantes, de cursos e níveis de fluência variados, ele identificou a predominância de um sólido background. “O interesse em cursar SCC em inglês deriva da necessidade de aprimorar um idioma visto como fundamental para a inserção no mercado de trabalho e com o qual vários estudantes já tiveram experiência in loco”, conta, também alertando para um fator de desalento: muitos relataram não enxergar oportunidades laborais econômicas em médio e longo prazo em suas áreas de atuação tanto na região, quanto no Brasil como um todo. “O desejo de trabalhar e cursar pós-graduação no exterior, sem perspectiva de retorno, foi crescente e frequentemente tematizado nos debates”, observa.

Apesar de o plano de ensino original ser bastante ligado à realidade social brasileira – em temas como a promoção da cidadania a partir de conhecimento, compreensão e implementação das políticas públicas de inclusão, igualdade, diversidade e sustentabilidade ambiental – o professor explica que a oferta em outro idioma permitiu ampliar as referências bibliográficas. Incentivando a conversação, promoveu aulas intensamente dialógicas e com participação ativa dos estudantes, avaliados com base em debates periódicos que permitiram defender e contrapor teses, discutindo argumentos. No primeiro módulo, a globalização ganhou proeminência nos encontros, e no segundo período do semestre, foi constante o exercício de comparação entre a realidade brasileira e o contexto de outros países, com análise e reflexão sobre visões não-locais a respeito do Brasil.

Acesso a estudos megarrecentes
Reunindo acadêmicos de Psicologia e Biologia, a versão em inglês da disciplina Neurociência, que ministra também em português, oportunizou ao professor Lucas Fürstenau de Oliveira otimizar o plano de aula, dentro de uma temática que avança muito rapidamente. “Especialmente em Neurociência, a atualização é muito grande em língua inglesa, o que possibilitou acessar materiais de referência megarrecentes sem necessidade de aguardar pela tradução para compartilhar com os estudantes”, conta. Impulsionada por essa perspectiva, uma das atividades desenvolvidas durante o semestre propôs a apresentação de pôsteres de trabalhos científicos publicados por diferentes autores com a defesa dos resultados, experiência de iniciação científica em contato com estudos atuais ainda em seu idioma original.

Na dinâmica de aula, o professor se utilizou de soluções didáticas diferenciadas, considerando a condução da discussão e as intervenções, priorizando esquemas em relação a slides. “A qualificação dos alunos permitiu essa experimentação, por confiar na habilidade deles”. A fluidez se construiu com aprendizados multidirecionais, estabelecidos pela troca com a turma – não sendo a linguagem uma barreira, foi possível, inclusive, ampliar os tópicos de conteúdo previstos para cada aula.

Autonomia para encontrar respostas
Entre Tecnologias, Negócios e Direitos Humanos: os novos Desafios do Direito Internacional, ministrada pelo professor Leonardo de Camargo Subtil, reuniu alunos de variados níveis de domínio do inglês. Na primeira parte do semestre, as aulas tiveram um viés mais dialogado e expositivo, com discussões livres e seminários de pesquisa, em temas como Sociedade Internacional e Filosofia do Direito Internacional;  Cortes e Tribunais; e Direito Internacional dos Direitos Humanos. No decorrer do período letivo, o exercício de autonomia impulsionou a criação de um problema jurídico pelos próprios acadêmicos – na última aula, durante a simulação de um julgamento perante um ‘tribunal internacional’ composto por docentes, sustentaram suas teses jurídicas sobre temas como aquecimento climático, responsabilidade internacional de empresas por violação de Direitos Humanos e proteção ao ambiente marinho.

Turma de Empreendedorismo.

O professor relata o crescimento em formação técnica e jurídica dos participantes, além da oralidade em língua inglesa, que propôs mais integração e diálogo e proporcionou “o desenvolvimento da autonomia para encontrarem respostas a problemas da sociedade internacional”.

Pensamento ‘glocal’, projetos born globals
Seguindo o mesmo fluxo da cadeira ministrada em português, bem como o princípio da multidisciplinaridade, a classe de Empreendedorismo reuniu estudantes de Engenharias e Tecnologia, Artes, Comunicação, Negócios e até Gastronomia. “A partir da combinação de diferentes conhecimentos, aumenta a capacidade de novas ideias e, consequentemente, de inovação”, afirma o ministrante da disciplina, professor Mateus Panizzon.

Durante o período letivo, o grupo experimentou fundamentos na prática: vivenciou geração de ideias, formação de equipes e validação de modelo de negócio com algum grau de inovação, passando, inclusive, por mentorias de empresários e profissionais do mercado – em conexão com o Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade – TecnoUCS e com o programa de incentivo à criação de novos negócios StartUCS. A diferença relacionada ao idioma, pontua, foi a possibilidade de trabalhar com outras ferramentas de língua inglesa em cada etapa do processo, e ainda uma base de casos externos. “Como resultados, temos alguns novos projetos que já se caracterizariam potencialmente como born globals ou seja, já nasceriam com propensão a se tornarem internacionalizados em curto espaço de tempo”, além de negócios que se iniciariam na região, mas carregando ideias que partem do estudo das melhores práticas na Europa, América do Norte e Leste da Ásia. A partir do conceito de Glocalização, “que é como empresas podem adaptar seus produtos localmente para mercados globais”, o professor lembra que nada impede que elas monitorem e observem daqui o que há no mundo, trazendo soluções à sua realidade. “A disciplina não induz ao local nem ao global, mas ao pensamento glocal“.

A hipótese de Panizzon, no início do semestre, de que o grau de inovação dos projetos apresentados seria maior, ou mais expressivo, se observou na prática em sala de aula. O fenômeno, que havia estudado durante seu percurso no Doutorado, é de que a orientação empreendedora internacional amplia a capacidade inovativa das empresas, o que ele considera muito importante quando se fala em empreendedorismo criativo. “O acesso ao conhecimento externo e o exercício de pensar em uma língua diferente da nativa levaram a uma nova perspectiva em relação aos projetos”, afirma o professor.

Destacando a criatividade, participação e execução por parte da turma, o professor Panizzon identificou dois níveis de aprendizado: em relação às ferramentas de empreendedorismo e em relação à linguagem. “Vivemos em um mundo em que a maior parte do conhecimento está em inglês e, daqui a alguns anos, estará em mandarim. E esse é um fato. Sim, há discussões sobre língua e hegemonia, soberania de um país. Mas fato é que o conhecimento tecnológico, científico, de ponta está publicado em língua estrangeira. Se você espera que algo seja traduzido e convertido em livro, provavelmente está aguardando alguns anos para acessar esse conhecimento. Então, as disciplinas em inglês têm esse propósito”, justifica.

Internacionalização
A iniciativa das aulas ministradas em língua inglesa se conecta a uma das diretrizes institucionais da Universidade de Caxias do Sul, a inserção acadêmica nacional e internacional. Segundo o professor Panizzon, hoje se fala no termo internacionalização abrangente, que não inclui somente a mobilidade acadêmica – envolve ações na própria universidade, em que se tem contato com cultura e idioma estrangeiros, bagagem que abre mais portas em ensino e pesquisa no exterior.Também ilustram a movimentação da Instituição nesse sentido programas como o UCS Internacional, que movimenta parcerias com Instituições estrangeiras favorecendo a mobilidade acadêmica internacional em graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão; o programa UCS Línguas Estrangeiras, que propõe o ensino de idiomas, exames internacionais e atividades de imersão turísticas e culturais; o Summer School, que ofertará formações variadas durante o período de férias para público estrangeiro e brasileiro, ministradas em inglês e espanhol, promovendo aprendizado em outras línguas com colegas do mundo todo; e o programa Viagens do Conhecimento, dedicado a integrar ações que envolvam viagens nacionais e internacionais, sistematizando a atuação dos setores da Instituição cujas atribuições formam o processo de organização das viagens com fins acadêmicos e que envolvam a comunidade acadêmica. Ainda, novidade inaugurada no mês de junho no Campus-Sede, o UCS Writing Center funciona como um centro de suporte à escrita acadêmica para a comunidade universitária, que visa facilitar a inserção internacional de pesquisa e conhecimento desenvolvidos na Universidade. O trabalho volta-se, inicialmente, à organização e revisão de artigos científicos, resumos, apresentações, trabalhos de conclusão de curso, entre outros projetos na língua inglesa.

Fotos: Claudia Velho