O Design como ferramenta de transformação social: um caso de sucesso.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 25/05/2018 | Editado em 28/05/2018

O Design pode atuar como ferramenta de transformação social. É o que demonstra a egressa do curso de Design Analu da Silva, com seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no qual abordou o combate à violência contra a mulher. Seu projeto, apresentado no mês de dezembro de 2017, vem sendo implementado pelo Ministério Público de Vacaria, sua cidade natal.

Analu teve contato com o tema a partir do irmão, Matheus, estagiário de Direito que atua na equipe da promotora Bianca de Araújo – criadora do Programa Acolher, em 2015, que visa conceder maior amparo às vítimas de violência além do âmbito legal. “Sendo a violência doméstica e/ou de gênero um problema social, comecei a tentar identificar o que o Design poderia fazer pela causa”, conta a designer, que já atua formalmente na profissão há quase quatro anos.

A partir de uma pesquisa teórica, Analu constatou, pelos altos índices de violência doméstica e feminicídios, a gravidade e a urgência da questão. Para chegar a essa conclusão, ela utilizou a metodologia do trabalho (HCD – Human Centered Design), com a aplicação de um questionário online com 259 respondentes (metade, mulheres que já vivenciaram relacionamentos violentos) e de entrevistas com profissionais da Psicologia. Também acompanhou audiências e reuniões do Programa Acolher e conversou com assistentes sociais, numa imersão que deu ao projeto novos direcionamentos. “Eu acreditava que os fatores de maior peso para a permanência da mulher no relacionamento fossem dependência financeira e medo, mas a pesquisa indicou outras questões, já que muitas revelaram amar o companheiro ou acreditar que ele as ama, além de não quererem ficar sozinhas”. O questionamento sobre os motivos da submissão das pessoas a relações que machucam levou à conexão com a autoestima, e a percepção sobre a necessidade de oferecer mais do que uma fonte alternativa de renda ao público.

Ações

A ideia inicial, de criação de um kit de manufatura para que as mulheres atendidas pudessem desenvolver, em casa, produtos artesanais com design elaborado, diferenciado do artesanato convencional, foi ampliada no processo. Projetou-se um modelo de serviço estruturado nos eixos autoestima, capacitação e renda, com diversas atividades de contribuição ao empoderamento feminino. O eixo renda, por exemplo, projeta o desenvolvimento de coleções de produtos por designers voluntários que atuam com as mulheres, oferecendo apoio para divulgação e comercialização de seus produtos. Toda a ação foi pensada e planejada para influenciar na geração de autoestima.

É possível acompanhar as ações na página do Acolher no Facebook.

Como suporte, Analu desenvolveu uma nova identidade visual para o Programa Acolher – aplicada em suas redes sociais – um calendário editorial, um aplicativo, que vem sendo transformado em uma campanha, uma marca para os produtos que serão confeccionados pelas mulheres e um ponto de venda. Ela segue trabalhando no marketing digital da iniciativa, que vem ganhando mais consistência com o engajamento de voluntários. Apresentado no final de março à rede Acolher, com integrantes da Promotoria de Justiça, da Brigada Militar, do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e assistentes sociais, sua implementação foi validada. “Para dar certo, precisamos do engajamento da comunidade com voluntários, doação de materiais, valores e patrocínios, visto que, até o momento, o projeto não recebe verba pública”, considera Analu.

Implementação

Já está agendada uma ação de conscientização com banners nos semáforos de Vacaria para o dia 9 de junho, que arrecadará também donativos, e o primeiro encontro com as mulheres atendidas está marcado para 23 de junho, com apresentação do projeto e um workshop sobre tendência de moda – que concederá noções sobre o trabalho na área para o desenvolvimento de coleções com a participação de outros designers. Pensando no futuro das mulheres após as oficinas, “meu TCC fala no Design como ferramenta para o empoderamento, porque a proposta é que o Design (de serviço, gráfico e de produto) seja uma ferramenta para que elas possam ir além”, comenta.

Conexão com a realidade

“Os temas sociais são de extrema relevância ao Design, pois ampliam a percepção das possibilidades de atuação dos acadêmicos e os conectam com a realidade de nossa região ou país, incentivando a busca por alternativas para a transformação do ambiente de aplicação”, explica o professor da graduação em Design Julio Cezar Colbeich, orientador de Analu no TCC. No decorrer do curso, há o impulso para a busca de soluções para questões de ordem distinta, como a social, considerando parâmetros do Design como responsabilidade social, educação e sustentabilidade. “É preciso estar inserido na sociedade propondo soluções para problemas cotidianos a partir de um olhar diferenciado e de metodologias específicas”, considera. “O resultado pode ser observado em diversos projetos de cunho social, como o da egressa Analu da Silva. Se inicia uma trajetória para a conscientização e transformação na vida das pessoas envolvidas a partir de trocas entre o ambiente acadêmico e a sociedade”, resume. “O design social pode parecer utópico, mas não é. E como é bom poder dizer: sim, isso é Design. Ele tem potencial incrível em contextos sociais”, complementa Analu. Sobre a causa escolhida, ela avalia que “lutar contra a violência doméstica é lutar contra uma sociedade machista e patriarcal, e a favor dos direitos iguais, isso me faz ter um carinho ainda maior pelo projeto”, avalia, incentivando os graduandos a também implementarem seus trabalhos.

Foto: Márcia Slomp