Pesquisador Eduardo Falabella aponta UCS como referência para rede de química sustentável.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 18/08/2017 | Editado em 12/04/2018

Coordenador de Rede Brasileira de Química Verde, pesquisador da UFRJ e expert em biorrefinaria conheceu estrutura e pesquisas da Universidade em Biotecnologia e Engenharia Química e palestrou no IV Seminário de Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social.

Reunir os sistemas de conhecimento – instituições de ensino superior, centros de pesquisa, órgãos públicos e entidades – do Estado em torno de uma Rede Gaúcha de Química Sustentável, tendo a Universidade de Caxias do Sul como centro. A finalidade: incentivar inovações no setor produtivo a partir do reaproveitamento de resíduos do agronegócio, gerando produtos com valor agregado e novas aplicações, aperfeiçoando processos industriais e instalando modelos alternativos de geração de energia.

A proposta surgiu após visitação do coordenador da Rede Brasileira de Química Verde, Eduardo Falabella Souza-Aguiar, a diversos setores da UCS nesta semana. Professor doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dedicado à biorrefinaria desde a aposentadoria após 30 anos de atuação na Petrobras e consultor para Rotas Limpas e Tecnologias Verdes da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), entre outras atribuições, o especialista esteve na UCS para palestrar aos estudantes de Química, Engenharia Química, Engenharia Ambiental durante o IV Seminário de Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social, promovido pela Área do Conhecimento de Ciências Exatas e Engenharias.

Equilíbrio social, econômico e ambiental – De acordo com Falabella, a atuação da rede poderia se iniciar pela prestação de serviços, por meio do oferecimento do conhecimento e da estrutura de laboratórios existentes nas universidades em projetos de interesse das empresas. Primeiramente, para o desenvolvimento de inovações incrementais (aquelas que melhoram algo já existente), e abrindo espaço para inovações disruptivas (mudança de paradigma que torna o anterior obsoleto) com a implantação de processos e produtos sustentáveis – ou seja, caracterizados pelo “balanceamento racional entre as forças sociais, ambientais e econômicas”, explica.

E para um modelo sustentável funcionar, alerta o professor, uma condição contextual é fundamental: uma cultura ligada ao empreendedorismo. “Aqui é uma região ideal, porque muitos aprenderam a empreender desde cedo por causa da agricultura familiar”, considera Falabella. Assim, a proposição tem potencial de gerar efeitos desde o início da cadeia de atuação, com o fortalecimento da agricultura, se estenderia pela melhoria dos processos produtivos, tornando-os mais ecológicos e criando produtos com valor agregado a partir dos resíduos e, ao final, ainda resolveria o problema do descarte, pelo aproveitamento integral da matéria-prima.

Alinhamento com TecnoUCS – Tal configuração encaixa-se no conceito de atuação do Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade, o TecnoUCS, que propõe exatamente a disponibilização da estrutura e transferência do conhecimento gerado na Universidade para o setor produtivo e o poder público, aperfeiçoando processos, produtos e serviços, gerando soluções de mercado, modernizando diversificando e ampliando a matriz econômica regional por meio da inovação.

A qualidade do parque foi atestada por Falabella, que laboratórios do Instituto de Biotecnologia e do curso de Engenharia Química. “Aqui temos um verdadeiro conceito de Universidade, com estruturas, pesquisas, pessoas com vontade de fazer e suporte da alta gestão. A UCS tem tudo para ser uma das grandes universidades do Brasil”, sentenciou.

Movimentos sustentáveis são os que simulam os processos naturais

Sustentabilidade é o alicerce do trabalho atualmente desenvolvido em nível mundial pelo professor Eduardo Falabella Souza-Aguiar. E ele se sustenta no conceito Triple Bottom Line, pelo qual os resultados das organizações são medidos pelo equilíbrio entre três eixos: econômico, social e ambiental. “A sustentabilidade está diretamente associada à ética. Tem a ver com querer manter o mundo para gerações futuras”, define o pesquisador. E, citando o filósofo alemão Nietzsche, para quem a ‘ética é a moral dos processos que podem se desenvolver à eternidade’, arremata a conceituação: “Assim, movimentos sustentáveis são os que simulam os processos da Terra, são aqueles que permanecem”

Por isso, meio escolhido por Falabella para trabalhar pela sustentabilidade é a biorrefinaria, pelo qual é buscada a obtenção de derivados da refinaria tradicional (de petróleo) a partir de resíduos do agronegócio (biomassa). “O produto final é igual ao obtido do refino do petróleo, mas os processos são mais ecológicos e ocorrem 100% a partir de reciclagem”, pontua o pesquisador.

É o que permite, por exemplo, a criação de uma indústria alcoolquímica alternativa à petroquímica, com o processamento da cana-de-açúcar. Além da fermentação para produção de etanol (álcool) e polietileno, resíduos como o bagaço e a palha da cana são fontes de carbono. Ou seja, da mesma matéria-prima resultam combustíveis, plásticos, borrachas e defensivos agrícolas, entre outros. Cascas de frutas e cereais, madeira, óleos vegetais e óleos essenciais, entre outros, são fonte de biomassa.

Falabella conheceu trabalho de valorização da biomassa no Laboratório de Biotecnologia de Produtos Naturais, coordenado pelo prof. Thiago Barcellos (D).

Tudo se transforma – O conceito se estende para o de biorrefinaria integrada, pelo qual os rejeitos dos bioprocessos também são reaproveitados. É o caso, ficando ainda no exemplo da cana-ade-açúcar, do bicarbonato de amônia gerado na produção de etanol, que pode ser usado na produção de fertilizantes para a própria cana, “simulando os processos terrestres, que são de eterna reciclagem”, ilustra o professor.

A modalidade está alinhada com o conceito da Economia Circular, modelo que integra os processos industriais com o princípio da economia atômica – pelo qual é buscado o aproveitamento mais completo possível dos átomos da matéria-prima. Trata-se da aplicação plena do princípio sintetizado no enunciado mais famoso do ‘pai da química moderna’, o francês Lavoisier: ‘Na natureza nada se perde, tudo se transforma’,

É o caso de trabalhos desenvolvidos na UCS como as pesquisas sobre biogás conduzidas no Laboratório de Energia e Bioprocessos, coordenado pelo professor Marcelo Godinho, capazes de gerar biocombustíveis e energia térmica, ou as pesquisas para a transformação do glicerol, obtido como subproduto da produção de biodiesel, do Laboratório de Biotecnologia de Produtos Naturais e Sintéticos, coordenadas pelo professor Thiago Barcellos.

Nesse caso, explica Barcellos, um dos subprodutos é o glicerol, uma fonte de carbono versátil, pela qual se pode produzir moléculas de grande uso para a indústria química, como o ácido lático, visando à fabricação de polímeros e medicamentos. A conversão do glicerol em ácido polilático, por sua vez, gera um polímero biodegradável com várias aplicações – desde a produção de copos e garrafas plásticas e carretéis de impressora 3D até cosméticos, próteses e bioimplantes.

Fotos: Claudia Velho