Tecnologia monitora movimentos dos pacientes e busca detectar problemas de saúde, especialmente, em idosos.
A forma como se dorme pode indicar muito sobre a saúde de uma pessoa. E a afirmação não parte propriamente de um médico, mas do professor do Centro de Computação e Tecnologia da Informação, André Gustavo Adami. Com pós-doutorado em Engenharia Biomédica, ele desenvolve um projeto de pesquisa que busca criar uma tecnologia de hardware e software para monitoramento do comportamento de idosos durante o sono. Coordenado pela professora Adriana Miorelli Adami, o estudo examina como os sinais dos sensores instalados sob os pés da cama podem ser utilizados para identificar possíveis doenças que comprometam a qualidade do repouso.
Denominado de SleepSys, o projeto de pesquisa trata do monitoramento do sono por meio de células de cargas. Essas células são transdutores de força, e as variações causadas pelos movimentos e pela respiração do paciente podem ser detectadas pela tecnologia. Os dados são coletados simultaneamente a exames de polissonografia numa clínica de sono nos Estados Unidos. As informações de lá são mapeadas e encaminhadas aos pesquisadores brasileiros. A análise dos sinais digitais coletados e o desenvolvimento de algoritmos de reconhecimento de padrões permitem extrair medidas clínicas importantes.
O projeto de pesquisa surgiu nos Estados Unidos. Em 1999, tanto Adami quanto Adriana - que são casados - seguiram para o país com o objetivo de fazer doutorado. Ambos realizaram o doutorado em Engenharia Elétrica e desenvolveram projetos relacionados à área médica.
"A universidade em que nós estudamos é uma instituição de referência da área médica. E, assim, a pesquisa durante o doutorado foi se voltando para problemas relacionados à Medicina", lembra Adami.
Neste processo, ele e Adriana começaram a trabalhar no Point-of- Care Laboratory da Oregon Health & Science University, que fica no estado americano de Oregon. Desde aquela época, o objetivo dos estudos era pela aplicabilidade de sistemas que pudessem utilizar tecnologias já existentes e que não representassem custos elevados aos usuários.
Durante o período nos Estados Unidos, o grupo de pesquisa desenvolveu uma caixa dispensadora de remédios, onde os compartimentos dos comprimidos possuíam um dispositivo que identificava o instante do acesso. O dispositivo permite verificar em que momento os usuários da medicação, especialmente idosos, utilizavam o aparelho. Assim, pode-se saber qual compartimento (definido pelo dia da semana) e a que horas o usuário tomava os remédios. Isto permite medir a aderência do paciente ao regime de medicamento prescrito pelo médico.
O hardware foi criado com componentes facilmente encontrados no mercado, produzindo uma caixa dispensadora de baixo custo.
Apesar de importante, o aspecto financeiro não é a única preocupação dos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores na UCS. A principal característica é o uso de aparelhos que não sejam intrusivos, ou seja, que não modifiquem a rotina dos receptores da tecnologia. O emprego de células de carga tem essa finalidade: de que o idoso não o perceba e que não tenha sua rotina modificada ao fazer uso do sistema de monitoramento.
"O padrão para o diagnóstico de distúrbios de sono, a polissonografia, é intrusivo. Na clínica de sono o paciente, ao dormir, é aparelhado com eletrodos e uma série de outros instrumentos", reforça Adami.
Conforme o pesquisador, esse processo dificulta um diagnóstico. A polissonografia não necessariamente recria as condições normais em que um paciente dormiria se estivesse em sua própria casa. Adami cita ainda outras formas de diagnóstico, como a actigrafia, que usa um sensor demovimento para medir o nível de atividade do paciente. Normalmente colocado no pulso, o instrumento nem sempre tem boa aceitação pelos usuários, que se sentem incomodados com o objeto.
Pela característica da pesquisa e pela necessidade da precisão que envolve o desenvolvimento de um método de diagnóstico médico, o projeto já passou por diversas etapas. Atualmente, os pesquisadores examinam os sinais a fi m de determinar os estágios do sono. Em fases anteriores, o projeto analisou o emprego desta tecnologia na detecção da apneia do sono e de um distúrbio de movimento que provoca movimentos involuntários, chamado movimento periódico das pernas, o qual diminui a qualidade do repouso.
Segundo Adriana, o aprimoramento do sistema deverá ser capaz de produzir uma tecnologia alternativa que possa ser utilizada em clínicas de sono. Até mesmo os próprios pacientes, em suas casas, poderão ser monitorados continuamente por vários dias.
(Texto: Vagner Espeiorin)
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O texto acima está publicado na décima edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.