Por WAGNER JÚNIOR DE OLIVEIRA | wagner.oliveira@ucs.br
Ele cativa pessoas por onde passa. Suas turmas de "Ética Organizacional" e "Empreendedorismo Cristão", do curso de Administração da Universidade de Caxias do Sul, estão sempre repletas de alunos matriculados. Seu programa nas rádios São Francisco e Mais Nova tem público garantido e suas colunas publicadas nos jornais Correio Riograndense e Pioneiro levam palavras de otimismo periodicamente aos seus leitores. Seja através da fala ou da escrita, frei Jaime Bettega consegue fidelizar multidões que buscam conforto e respostas para situações do dia a dia.
Frei Jaime Bettega tem a rara capacidade de conquistar pessoas em diferentes situações que não ficam restritas às missas na Igreja Imaculada Conceição. Nos últimos anos, ele também se faz presente nas redes sociais, um fenômeno de audiência. A sua página no Facebook (facebook.com/freijaime) tem mais de 45 mil curtidas - já alcançou 200 mil visualizações - e o perfil no Twitter (@freijaime) conta com cerca de três mil seguidores. Suas publicações geram comentários como "sua mensagem nos faz refletir que realmente não precisamos de muito para sermos felizes. Obrigada!". "Realmente não precisamos de muito quando temos paz no coração", comentou outra leitora na página do frei. Em resposta à postagem "Ontem eu era inteligente, queria mudar o mundo. Hoje eu sou sábio, estou mudando a mim mesmo", um seguidor comentou que há 20 anos havia andado de ônibus em direção à UCS junto ao frei e que também gostaria de ser sábio. Bettega respondeu ao comentário: "gostei de ler a sua postagem. Obrigado! Juntos, em busca da sabedoria de cada dia. Forte abraço! Paz e Bem!". Aliás, "paz e bem" é praticamente a assinatura registrada do frei, que já é adotada pelos seus seguidores virtuais nas postagens. A saudação tem origem nos ensinamentos de São Francisco de Assis.
No último dia 13 de maio, frei Jaime levou o seu carisma online para o mundo offline. Ele palestrou para os funcionários da UCS na abertura da XXXII Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho. Leia a entrevista com o professor:
Como o senhor explica o sucesso nas redes
sociais?
Cheguei a ter três perfis no Facebook,
depois migrei para uma página. Existe
uma lacuna onde as pessoas estariam
buscando uma palavra com mais significado,
com mais profundidade e talvez
algo mais sobre o cotidiano. Porque o
grande desafio das pessoas hoje é viver
bem neste cenário, que depende muito
mais da interioridade do que daquilo que
se sucede fora da pessoa. Me assusto
com tantas pessoas seguindo e multiplicando
isso. Existia essa lacuna, a falta de
uma palavra que tivesse um significado e
que fosse uma palavra muito simples e
que relatasse o cotidiano das pessoas na
sua normalidade.
Na hora de escrever para os perfis online,
quais são as suas preocupações?
O contato com as pessoas permite
que a gente vá entendendo essa dinâmica
da vida. Temos endereços diversificados,
mas temos a mesma questão existencial:
a busca pelo sentido da vida.
Sou muito livre para escrever, mas com a preocupação de dar o entendimento muito simples para que a vida no dia a dia tenha um significado. Gosto de encostar as palavras na vida e, necessariamente, elas precisam ter um conteúdo vivencial.
Minha preocupação não é com a teoria, não é com o escrever bonito, mas é conseguir fazer com que as palavras deem um significado novo à vida.
A tecnologia afasta as pessoas?
As tecnologias, por si só, não causam tudo isso. As tecnologias têm encontrado pessoas
defasadas no sentido antropológico, isto
é, nem sempre a gente sabe o que é a vida.
Nem sempre a gente tem claro as metas, as
buscas, os sonhos. Então esbarramos em
problemas, não sabemos lidar com as nossas
carências. Para alguns, as novas tecnologias
te tiram do cotidiano. Eu já penso que muitas
pessoas estão ampliando os horizontes também
através das tecnologias, sem desmerecer
ou deixar em segundo plano aquilo que é
próprio: família, amigos, local de trabalho, etc..
As tecnologias dependem muito das pessoas
e elas estão defasadas no quesito antropológico,
humano e até filosófico. Quando bem
utilizadas, as tecnologias sempre vão permitir
novos horizontes, novos entrelaçamentos e
também vão confirmar que não existe distância:
o que está perto tem valor, mas o que está
longe também tem valor.
Com tantas atividades, como o senhor organiza o
tempo para escrever?
Tento buscar os momentos de maior silêncio
para escrever. No dia a dia de exigências
maiores, como atendimento a pessoas, planejamento
de aulas, eu não consigo. Mas eu me
programo e tento, por exemplo, em um domingo
à tarde, dar conta daquilo que vai acontecer
durante a semana e o que eu preciso deixar
escrito.
Hoje, o tempo é muito precioso, valorizo os minutos. Quando não estou escrevendo, estou pensando naquilo que poderia escrever. Na frente do meu computador tem um monte de bilhetinhos que vou fazendo durante a semana. Cada palavra ali vai inspirando um caminho. De vez em quando, tiro um tempo para pesquisa de frases, de ideias, de jeitos de pensar. Tu tens que ser muito organizado. Quando tu gostas de escrever, te identifica na escrita e sabe que isso tem impactado na vida das pessoas, tu te motivas ainda mais. Se tu não podes ajudar materialmente, se tu não podes ajudar com a tua presença, se não podes aliviar a dor de alguém, podes escrever. Isso se torna uma forma de ajudar muitas pessoas.
Essa leitura nas redes sociais faz com que as pessoas
expressem sentimentos pouco explorados?
Depois de um tempo, percebi e tive retorno
de que os escritos têm proporcionado o aprendizado
para a maturidade. As pessoas dizem
"tu estás me ensinando a viver" ou "estou
olhando a vida diferente". Vejo que nós temos
espaços em aberto. As redes sociais te pedem
disciplina. São textos rápidos, pois as pessoas
não têm tanto tempo. Tu tens que ser muito
fiel. Também aprende a não tratar de assuntos
muito polêmicos. Convém utilizar esse espaço
para falar sobre vida no cotidiano.
Revista UCS - É uma publicação mensal da Universidade de Caxias do Sul que tem como objetivo discutir tópicos contemporâneos que respondam aos anseios da comunidade por conhecimento.
O texto acima está publicado na décima segunda edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.