Por WAGNER JÚNIOR DE OLIVEIRA | wagner.oliveira@ucs.br
Assim como os 11 titulares da Seleção Brasileira que estarão em campo durante a Copa do Mundo, os órgãos do corpo humano desempenham funções específicas para trabalhar em conjunto. Do cérebro que dispara os estímulos ao músculo que responde, o corpo é uma máquina que funciona como um time: de forma complexa e muito bem esquematizada. Três professores da UCS explicam como alguns órgãos atuam quando acionados para uma partida de futebol.
CÉREBRO
No instante em que um jogador vê a bola sendo lançada, seu sistema neurológico entra em ação. Automaticamente o cerebelo (responsável pela precisão dos movimentos) e o lobo paretal (parte do cérebro responsável pela atenção) concentram-se no objeto. Estas partes do cérebro já estão atuando junto com o lobo temporal, calculando o momento em que essa bola vai chegar para o jogador. Ao mesmo tempo, a informação de como deverá ser realizado o movimento de parada de bola e o que deve fazer depois já chegou até as pernas. "É um processo extremamente complexo. Isso tudo é atenção. Por isso que é correto afi rmar que, se o jogador se distrair um pouco, o time perde", explica o professor Asdrubal Falavigna, neurocirurgião, coordenador do curso de Medicina da UCS. Inúmeras áreas do cérebro funcionam simultaneamente quando a ação exige resposta motora rápida. POR QUE TREINAR É TÃO IMPORTANTE O treinamento é indispensável para o bom desempenho de um jogador porque os dois períodos de 45 minutos em campo são de estresse intenso. "Além de todas as condições físicas, é necessário ter um controle neurológico de comando muito bem treinado. O treinamento faz com que os atletas tenham refl exos involuntários, que a gente também chama de movimentos automáticos, feitos sem pensar. É tão automático que o cérebro não os registra", detalha o professor Falavigna. CRAQUES DA MENTE A precisão dos movimentos e a capacidade de realizá-los de forma rápida e involuntária é facilmente adquirida durante a infância e a adolescência. Falavigna conta que os times de futebol não costumam apenas exercitar o físico de crianças e jovens com o intuito de desenvolver os talentos precoces. Os times também testam o modo como as promessas do futebol respondem a todas as táticas dos treinamentos. "Eles passam tarefas de execução e analisam a resposta do cérebro, aí defi nem quem será um bom jogador no futuro. O atleta não é bom com 15 ou 16 anos, ele já é bom aos sete", enfatiza o neurocirurgião. |
METABOLISMO
Metabolismo, o artilheiro da partida Durante os 90 minutos que os jogadores da Seleção Brasileira permanecerão em campo, o corpo passará por alterações cardíacas, musculares e respiratórias. As alterações provocadas pela prática esportiva têm predominância no metabolismo, que é o caminho que o nosso corpo faz para produzir e utilizar energia. O professor de Fisiologia do Centro de Ciências da Saúde da UCS, Rafael Colombo, explica que na prática do futebol predomina o metabolismo aeróbio, que ocorre na presença de oxigênio, com picos de metabolismo anaeróbio, sem a presença de oxigênio. "Uma das suas características é, primeiro, aumentar a frequência cardíaca. O coração bate mais vezes por minuto e a quantidade de sangue que gira pelo corpo passa dos cerca de 5 para 30 litros por minuto", explica Colombo. Segundo o professor, quando o jogador realiza um chute que atinge uma distância entre cinco e 10 metros, a frequência cardíaca aumenta e a força de contração do coração também, já que existe a necessidade do aumento da quantidade de sangue que está circulando pelo corpo. "A musculatura precisa contrair e relaxar numa velocidade mais alta. Por conta disso, a quantidade de sangue levada para os músculos é muito maior." INSPIRAR E EXPIRAR O jogo de futebol nada mais é do que um exercício físico de alto rendimento, que exige respostas de todo o organismo. Durante o período em que os jogadores estão em campo, diversas transformações ocorrem, como a sobrecarga do sistema respiratório. "Há um aumento da frequência respiratória. A respiração passa das 12 incursões por minuto (normalmente, em repouso, é essa a quantidade de vezes que inspiramos e expiramos), para um número muito maior, pois as células precisam de mais oxigênio. Esse volume maior de oxigênio vai chegar nas células e vai gerar a energia que vai manter as contrações musculares", descreve o professor Colombo. |
CORAÇÃO
Os jogadores profi ssionais vivem um paradoxo interessante: possuem uma frequência cardíaca baixa, na faixa dos 45 batimentos por minuto. Isso se deve ao treinamento pelo qual eles são submetidos. "Uma pessoa que não é atleta e tem essa frequência cardíaca merece atenção redobrada", ressalta a diretora do Instituto de Medicina do Esporte da UCS (IME-UCS) e cardiologista, professora Olga Tairova. A médica explica que o ser humano é portador de um sistema nervoso autônomo que regula também a frequência cardíaca. Ele é importante para o rendimento do jogador, já que é necessário que entre em campo com um alto número de batimentos cardíacos. Este sistema tem duas partes: simpática, que está ligada ao emocional, por aumentar a frequência cardíaca, e a parte parassimpática, responsável pela economia de energia e diminui a frequência cardíaca. O treinamento físico aumenta a atividade parassimpática. O organismo treinado conserva muito bem a energia e sabe usá-la de modo econômico. "Por isso os atletas têm baixa frequência cardíaca", ilustra Tairova. MOTIVAÇÃO, A CHAVE DA VITÓRIA Quando um jogo está prestes a iniciar, os técnicos estimulam seus atletas para que alcancem o objetivo maior da competição: vencer. E isso tem tudo a ver com o coração. "É uma estratégia fi siológica para que a frequência cardíaca aumente. Isso é bom, porque um coração treinado vai bombear uma grande quantidade de sangue para os músculos. Dessa forma, o jogador vai correr mais rápido. Vai render mais em campo", destaca a diretora do IME-UCS. Ela ainda reforça que a motivação é essencial: "se não tem um bom clima na equipe, isso refl ete no sistema nervoso autônomo e os atletas não terão um bom rendimento". |
Revista UCS - É uma publicação mensal da Universidade de Caxias do Sul que tem como objetivo discutir tópicos contemporâneos que respondam aos anseios da comunidade por conhecimento.
O texto acima está publicado na décima segunda edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.