PERCEBER E ATENDER AOS ANSEIOS DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA É AINDA DESAFIO PARA A MODA
ANA LAURA PARAGINSKI | alparaginski@ucs.br
KÉTLIN VARELA | kpvarela@ucs.br (estagiária de jornalismo AEC)
Foto: Tribo Arte/Divulgação
A 10ª edição do Colóquio de Moda realizada de 30 de agosto a 3 de setembro na UCS trouxe, em um de seus debates, o tema da Moda Inclusiva. Explorado pelas palestrantes Mariana Roncoletta, da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, e Daniela Auler, da Universidade Anhembi Morumbi, o assunto transmitiu as questões do universo dos deficientes físicos em relação aos produtos oferecidos pelo mercado, propondo que solucionar os problemas na prestação desses serviços é uma maneira de tornar a moda acessível e promover a sociabilização deste público.
Pesquisando a relação dos sapatos oferecidos para as pessoas com dificuldade na locomoção, Roncoletta propõe que as áreas de saúde, design e moda devem estar interligadas para oferecer, além de conforto, o prazer estético. Ela reitera que a satisfação em adquirir um calçado bonito deve ser considerada junto com a ergonomia, modelagem e acabamento, pois estimular o bem-estar físico e emocional do usuário é incluí-lo em seu meio social. Proporcionar qualidade de vida promovendo atos simples como a autonomia na decisão e na possibilidade de escolha trazem de volta a autoestima dos deficientes ou pacientes em reabilitação.
Abordando a área de vestuário, Daniela reforça que é dever da indústria criar produtos para os deficientes, mas também facilitar o acesso através de lojas virtuais e o atendimento especializado em lojas físicas. Este público tem deixado de ser atendido pelo mercado, o qual ainda não se deu conta da grande lacuna a ser preenchida. A vida social dos deficientes mudou. Eles trabalham, saem de casa, vão ao cinema e, assim, consomem. Apesar do enfoque reduzido da indústria, Daniela cita que as pesquisas e trabalhos vêm crescendo, assim como o espaço na mídia para o assunto.
Um dos cases apresentados, que sustentam a ideia da moda inclusiva, foi o da estilista Julia Sato, vinda de São Paulo para participar do Colóquio, que criou uma roupa para bailarinas deficientes visuais com cheiro, flores e escritas em Braille, estimulando a percepção sensorial.
Fato é que com a inclusão dos diferentes perfis de consumidores de moda, os criadores precisam levar em consideração as diferentes atividades e realidades que as pessoas podem ter. Pensar em sistemas de abertura para a fácil circulação de sondas, tornar as peças mais táteis pelas etiquetas em Braille contendo informações como cor e estampa, fechos em velcro ou imãs, tecidos confortáveis para a mobilidade de um paciente, são algumas das características que um produto precisa oferecer. Assim, a constante renovação do olhar para a moda é um dos pilares que, junto com o design, não deve ser deixado de lado.
Segundo a administradora, bailarina, funcionária da UCS e portadora de uma deficiência motora, Roberta Giovanaz Spader, de 30 anos, é importante que a moda pense os cuidados com as costuras e tamanhos adequados. "Muitas vezes, as pessoas como eu não podem usar calças com bolsos e muitas costuras porque esses detalhes podem acabar machucando e a gente só vai perceber quando já está bem machucado", ressalta Roberta.
Quando a moda cumpre seu o papel de fenômeno cultural nas novas realidades comportamentais, por consequência, cumpre também sua responsabilidade e gera sustentabilidade, dessa vez, social.
Revista UCS - É uma publicação mensal da Universidade de Caxias do Sul que tem como objetivo discutir tópicos contemporâneos que respondam aos anseios da comunidade por conhecimento.
O texto acima está publicado na décima quarta edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.