DA ECONOMIA À CULTURA, PROFESSORES DA UCS AJUDAM A ENTENDER OS MOTIVOS QUE LEVAM PAÍSES A PROMOVEREM ALGUNS DOS PRINCIPAIS EMBATES BÉLICOS PELO MUNDO.
VAGNER ESPEIORIN | vaespeio@ucs.br
Quando Hiroshima, no Japão, foi atacada por uma bomba atômica em 6 de agosto de 1945, o mundo paralisou. A humanidade tinha chegado ao auge da destruição. Apesar do espanto, o pavor não foi suficiente para controlar o ímpeto de guerra. No dia 9, outra bomba atingiu Nagasaki, espalhando ainda mais terror. De lá para cá, o mundo viveu uma Guerra Fria, de ânimos quentes entre Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS); criou o estado Israelense; e observou o Oriente Médio se tornar uma região explosiva. A professora de Direito Internacional da UCS, Remi Soares, explica que foi após a guerra que surgiu a Organização das Nações Unidas (ONU). A entidade congrega, até hoje, os principais países do mundo. Como reflexo das dificuldades enfrentadas durante o pós-guerra, a organização passou a contar com um Conselho de Segurança. O colegiado é formado por cinco membros permanentes: China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos da América; além de 10 membros rotativos. Não por acaso, os países permanentes foram os vencedores da Grande Guerra e até hoje são decisivos quando o assunto se refere aos conflitos no mundo.
"Qualquer um desses países tem poder de veto. Eles podem isoladamente dizer se determinado conflito será permitido pela ONU", explica Remi. Acontece que há o risco do interesse próprio prevalecer sobre a coletividade. Além disso, os maiores confrontos bélicos de que se tem conhecimento são motivados por algum dos países que integram o Conselho de Segurança. Confira alguns dos embates contemporâneos mais conhecidos e veja como eles se desenrolam em diferentes partes do globo.
"Todo conflito tem interesse econômico", avisa o professor de Economia e coordenador do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da UCS, Roberto Birch Gonçalves.
A fala do economista ilustra uma percepção geral quando se fala em conflitos pelo Oriente Médio. Em 2003, os Estados Unidos avançaram sobre o território Iraquiano. A justificativa era a eliminação de armas de destruição em massa do então ditador Sadam Hussein.
O Iraque, porém, sempre foi um grande produtor de petróleo. O interesse econômico pelas fontes energéticas também pesou na ação americana. "Museus foram bombardeados, mas as refinarias não foram atingidas", ressalta a professora do curso de História, Cristine Fortes Lia, ilustrando um exemplo da vocação econômica da guerra.
Mais de uma década depois do "fim" do embate, o Iraque se vê diante de um caos civil. Grupos rebeldes se popularizam. Com ele, os casos de terrorismo também se ampliam na região.
Vizinho, o Irã é outra nação que convive com o medo de um conflito com o Ocidente. Considerado um país com poder nuclear, tem sido visto com desconfiança pelos membros permanentes do Conselho de Segurança.
Além do Iraque e do Irã, o Egito e a Síria também precisam conviver com os grupos extremistas. Conforme Cristine, nesses países se observa a ascensão dos chamados Califados de Poder, que não reconhecem os poderes estatais constituídos e criam Estados paralelos. Nesse confronto, ações terroristas motivam ataques na região e pelo mundo.
O Oriente Médio sempre foi uma região tensa. Desde a antiguidade, a porção na Ásia abrigou diferentes povos, como assírios e persas. Apesar do histórico de disputas, a localidade toma os noticiários contemporâneos. E o motivo é uma disputa sem fim.
No final da Segunda Guerra Mundial, a pressão pela criação de um estado judeu se intensificou. A solução criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) foi estabelecer o país de Israel. A região, considerada sagrada para muçulmanos, judeus e católicos, à época, ficava sob controle do Reino Unido. Foi ali que surgiu o país judaíco. Mas para isso, os judeus tiveram que ocupar uma zona cheia de árabes.
"Se você passa a ocupar um território que não é seu, quem já estava no local vai entrar em confronto", frisa Cristine. E o embate permanece desde a década de 1940 até hoje. Entre um cessar-fogo e outro, pessoas são mortas. E não apenas militares. Há muitos civis envolvidos nos conflitos. Em julho, Israel promoveu uma ofensiva pela Faixa de Gaza - região palestina controlada pelo grupo Hamas. O resultado foi a morte de 2.130 pessoas pelo lado árabe e 69 pessoas pelo lado judeu. Mesmo com negociações, o fim parece distante.
Apesar de pequena territorialmente, a Europa sempre comportou muitas nações. Culturas diferentes, línguas específicas e interesses contraditórios resultaram em guerras. O continente, aliás, foi o cenário para os dois maiores confrontos. Atualmente, porém, os conflitos se voltam para o leste, onde a relação entre Rússia e a Ucrânia tem sido tensa.
Os dois países já foram muito unidos e formavam a União das Repúblicas Socialista Soviéticas. Com a crise do comunismo, a região foi esfacelada. Com exceção da Rússia - grande herdeira do poderio socialista - as nações antes soviéticas se voltaram para o Ocidente. Polônia, Eslováquia e Hungria viraram economias mais ágeis ao aderirem à União Europeia. A Rússia via seu poder econômico diminuir, mas não chegou a comprar briga. Até que a história chegou à Ucrânia.
O então presidente ucraniano Viktor Yanukovich - considerado Pró-Rússia - resolveu não assinar um acordo de aproximação com a União Europeia. Acontece que a população queria o acordo e foi às ruas reivindicar a negociação. Em fevereiro, Yanukovich, para alegria do Ocidente e fúria russa, foi deposto.
Na Criméia, península ucraniana de maioria russa, a queda do presidente não foi comemorada. Contrários ao governo de Kiev, a população local criou um movimento separatista apoiado pelo Kremlin, chegou a fazer um referendo e até nomeou um premiê pró-Rússia. É claro que o Ocidente não aceitou o nome e nem a separação. E a tensão se intensificou. Na região, a Rússia mantém tropas a postos. O mesmo ocorre com a Ucrânia, com medo de um ataque russo.
A União Europeia impôs sanções econômicas. Mas a Rússia promete reagir. Principal distribuidor de gás para o continente, ameaça cortar o fornecimento dos vizinhos. E já acena com o fechamento do espaço de voo para companhias aéreas, o que encareceria o transporte.
"Antigamente, se tinha uma polarização muito clara do mundo. E a Rússia era um desses polos. Hoje, porém ela perdeu poder. O que parece é que o país está tentando recuperar esse poderio", explica o professor Roberto Birch Gonçalves, apresentando as motivações russas.
Revista UCS - É uma publicação mensal da Universidade de Caxias do Sul que tem como objetivo discutir tópicos contemporâneos que respondam aos anseios da comunidade por conhecimento.
O texto acima está publicado na décima quarta edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.