Pesquisa abaixo de zero

Grupo da Biologia vai à Antártica para estudar comportamento de diferentes espécies de aves

VAGNER ESPEIORIN | vaespeio@ucs.br

Natal e neve formam uma combinação típica do cinema americano e, definitivamente, não fazem parte da realidade brasileira. Para um aluno da UCS, porém, os cenários brancos dominaram a passagem das festas de final de ano. Estudante de Ciências Biológicas, Rafael Redaelli seguiu em dezembro do ano passado com destino à Antártica.

No polo sul do planeta, o acadêmico ficou por 35 dias na Ilha Elefante, pesquisando sobre diferentes espécies de animais que habitam o continente gelado. Na companhia de mais três pesquisadores - entre eles o egresso de Biologia Gustavo Aver, uma participante da Unisinos e um alpinista - Rafael analisou o comportamento de diferentes espécies de aves, coletou materiais de indivíduos e ainda fez a contagem das populações que vivem em colônias na região.

"Todo dia com tempo bom era dia de trabalho. No Natal, passamos trabalhando", recorda o estudante, ao falar de como a estadia sequer poupou os dias comemorativos. Não seria para menos. Chegar até a Antártica não é tarefa fácil, permanecer por lá, menos ainda. Não passava de 18m² o espaço do alojamento em que o grupo ficou. O refúgio - como era chamado o local em que eles dormiam - era na prática um contêiner, que abrigava os quatro pesquisadores. Nos dias em que o sol não aparecia e a instabilidade dominava a região, era para lá que a equipe se estabelecia. Apesar de ser verão, as temperaturas eram bastante baixas. Chegaram a -8°C. Associada ao vento forte, a sensação térmica alcançava -20°C.

As formas de contato também eram escassas. Internet não existia e apenas um celular por satélite possibilitava a comunicação dos acadêmicos. Navios do Programa Antártico Brasileiro faziam a logística da operação e, diariamente, a tripulação entrava em contato com o pessoal da Ilha.

Preparando o terreno

Antes de Rafael e Gustavo analisarem o ciclo reprodutivo de diferentes espécies - que ia do acasalamento ao nascimento - no período de novembro, o professor Matheus Parmegiani Jahn e a professora Renata De Boni Dal Corno participaram de um operação na Antártica. Eles seguiram com o navio Ary Rongel por ilhas do continente também com o interesse de estudar o comportamento das aves.

Os pesquisadores se deslocavam do navio até a praia por meio de botes e trabalhavam em locais onde havia colônias de reprodução de aves marinhas. Assim como foi feito na Ilha Elefante dias depois, os professores realizaram a contagem de animais (censo) e dos pares reprodutivos. Durante as saídas, ocorriam ainda as medições de áreas ocupadas pelas colônias de reprodução e a coleta de materiais biológicos. A pesquisa analisava especialmente o Pinguim Antártico (Pygoscelis antarcticus) e o Petrel-gigante (Macronectes giganteus), espécies recorrentes na região antártica.

"Acabamos coletando diversos materiais biológicos, como sangue, penas, mucosa traqueal e cloacal. Nossas amostras foram reunidas com o material coletado pelo Rafael e pelo Gustavo. Elas serão trabalhadas aqui na UCS e em outros centros de pesquisa das universidades parceiras no projeto, como Unisinos, UFRGS e UFRJ. Essas análises envolvem dosagens hormonais e metabólicas, presença de poluentes, presença de contaminações virais, análise da cadeia trófica e análises genéticas", explica o professor Matheus, que coordena o curso de Ciências Biológicas na UCS.

Conforme ele, as análises dos grupos de aves marinhas que habitam ou transitam pela Antártica vão deixar informações sobre as condições de saúde dos animais, as variações populacionais, a dispersão de poluentes, dispersão de viroses, as influências humanas no comportamento e na reprodução. Assim, os pesquisadores terão um entendimento da cadeia trófica das espécies antárticas e das influências das variações climáticas sobre esses parâmetros.

Viabilização e parcerias para a realização da pesquisa na Antártica

A viagem de estudos dos pesquisadores da UCS foi realizada por meio de uma parceria com a Unisinos e contou com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para o projeto, eles tiveram a parceria do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA), órgão criado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT).



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O texto acima está publicado na décima sexta edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.

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