Técnicos e pesquisadores do Instituto de Saneamento Ambiental da UCS monitoram a água nas bacias hidrográficas de Caxias do Sul e da região.
Um dos maiores desafios da humanidade é encontrar soluções para a escassez crescente de água potável. A UCS desenvolve estudos que buscam avaliar as características da água na região.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), num futuro bem próximo, em 2025, dois terços da população mundial terá dificuldade de abastecimento de água. A água no planeta está distribuída em diferentes reservatórios, sendo que 97,25% encontram-se nos oceanos, 2,1% formam as calotas polares, 0,61% compõe as águas subterrâneas, 0,001 está na atmosfera e o restante está distribuído nas águas superficiais (rios e lagos). Do total de água doce, menos de 1% está disponível para a população mundial, já que a maior parte dessa água encontra-se na forma de gelo, nas calotas polares.
Assuntos relacionados à água recebem atenção de professores e pesquisadores da UCS na execução de diferentes projetos. No momento em que a ONU elege o ano de 2013 como "Ano Internacional de Cooperação pela Água", destacamos alguns projetos que envolvem a Universidade neste tema. Além de desenvolver pesquisas sobre a água, como as do Instituto de Saneamento Ambiental (Isam), a Instituição, como forma de viabilizar a integração com a comunidade onde está inserida, participa de dois comitês de gerenciamento de Bacias Hidrográficas: o do Rio Taquari-Antas e o do Rio Caí. Em 1996, a UCS assumiu o processo de formação dos comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas, contribuindo com o início das atividades dessas duas bacias. Até hoje, preside a Bacia Taquari-Antas e apoia a Bacia do Rio Caí.
Mas, o que cada um de nós está fazendo frente ao desafio da escassez de água potável e da perda da sua qualidade? O acadêmico Gregori Scopel Guerra, 23 anos, do curso de Engenharia Química da UCS, a cada dois meses, veste uma roupa impermeável, denominada "pantaneira", e faz coleta de água em 30 pontos localizados em cinco bacias urbanas de Caxias do Sul (Tega, Maestra, Belo, Pinhal e Faxinal) e em uma bacia com característica rural (Piaí). Ele é um dos alunos que participa do projeto desenvolvido pelo Institutode Saneamento Ambiental, em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Caxias do Sul: a ampliação de rede de monitoramento quali-quantitativo das bacias urbanas do Município de Caxias do Sul. Esse projeto avalia a qualidade e a quantidade (vazão) da água em função do uso e da cobertura do solo nas bacias hidrográficas situadas na área geográfica do município, cujas nascentes, em sua maioria, começam em áreas densamente urbanizadas e industrializadas, o que compromete a qualidade da água que chega à zona rural do município.
Gregori é bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e já atuou como estagiário em uma empresa que faz tratamento de águas industriais. Ele descreve que a experiência no projeto do Isam é diferenciada: "se aprende mais sobre pesquisa. Atuando nesta área posso notar de onde vem o auxílio para as pesquisas e onde estão as dificuldades." Quanto à coleta de água, Gregori enfatiza que esse é um ponto forte para verificar como está a situação dos recursos hídricos e "como estamos tratando esses recursos. Precisamos valorizar mais a natureza." Além do monitoramento das bacias em Caxias do Sul, pesquisadores e acadêmicos ligados ao Instituto de Saneamento Ambiental desenvolvem outros projetos (veja box na página ao lado) relacionados à água. Esses projetos visam a subsidiar a tomada de decisões, tanto por órgãos públicos como privados, para a gestão e o planejamento ambiental, quer seja no saneamento, nos recursos hídricos, quer no planejamento territorial e urbano.
Segundo a diretora do Isam, professora Vania Elisabete Schneider, "a água é a "matriz" de todos os eventos que afetam a qualidade de vida e dos ecossistemas. Ela é o "pano de fundo" em nossas pesquisas. Os projetos desenvolvidos, no aspecto territorial, têm seu foco nas bacias hidrográficas, o limite natural onde todos os elementos do meio interagem e as ações antrópicas - ação do homem sobre o habitat e as modificações dela resultantes - se efetivam." Os alunos dos cursos de Engenharia Ambiental, Ciências Biológicas, Química, Engenharia Química, Ciência da Computação, Enfermagem, dentre outros, que integram o Isam como bolsistas ou estagiários, participam das atividades de campo, com a coleta das amostras de água, medição de vazão e "aprendem a analisar os resultados obtidos durante o monitoramento, ingressando na carreira científica através de publicações técnico-científicas", explica Vania. A comunidade também ganha com esses projetos, pois tem a oportunidade de conhecer a qualidade da água da região onde reside, "podendo participar da tomada de decisões nas questões de investimento de recursos do governo. A população que entende sua realidade tem conhecimento para criticar e realizar cobranças quanto à questão da água, tanto em quantidade quanto em qualidade desse recurso", conclui a diretora do Isam.
O Instituto de Saneamento Ambiental, criado em 1999, atua no gerenciamento de resíduos sólidos e no gerenciamento e planejamento ambiental. Seus objetivos são: operacionalizar a gestão ambiental da UCS, como desenvolver projetos de pesquisas relacionados à gestão, ao planejamento, ao monitoramento e ao controle ambiental; oportunizar experiências de iniciação científica e técnica para alunos de graduação, pós-graduação e egressos, de forma interdisciplinar; atender demandas de órgãos públicos na realização de estudos, levantamentos, diagnósticos relacionados às áreas de atuação do Isam; e prestar serviços de diagnóstico e monitoramento ambiental aos diversos setores, particularmente nas áreas de recursos hídricos e resíduos sólidos.
Ludmilson Abritta Mendes, bolsista recém-doutor da Fapergs, especialista em hidrologia, salienta que todos podem cooperar com a preservação das águas. "Medidas simples que diminuem o consumo, desde o corte do desperdício até o uso da água da chuva ou o reaproveitamento da água servida para usos que não exigem alto nível de qualidade são medidas benéficas, que podem ser adotadas tanto pelo indivíduo como pelos moradores de um edifício ou por um industrial em sua fábrica." Para ele, o engajamento da sociedade deve estar amparado pelo conhecimento técnico, caso contrário ele pode ser menos efetivo, e esse conhecimento é obtido pela pesquisa. "Será que a forma como exploramos o solo ou como dispomos nossos resíduos prejudicam nossos mananciais? As substâncias contidas nos produtos que utilizamos podem trazer danos à água? Quais impactos a construção de uma usina hidrelétrica ou a implantação de uma hidrovia podem trazer aos rios de uma região? Não basta constatar que nossas águas estão poluídas. Precisamos saber quais ações, ou fatores, geram essa poluição; até que ponto é possível reverter a degradação já causada; quais são as ações mais adequadas para isso, e quanto irá custar sua implantação. É através da pesquisa que podemos responder a essas questões", conclui.
Fotos: Daniela Schiavo
Alunos de Engenharia Ambiental, Ciências Biológicas, Sistemas de Informação e Ciência da Computação participam de outro projeto desenvolvido pelo Isam: o Sistema de Informações Ambientais (SIA) para as Hidrelétricas da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, em convênio com as Companhias Hidrelétricas instaladas no rio Taquari-Antas. O SIA sistematiza informações e caracteriza a região de abrangência da Bacia Taquari-Antas, de forma a gerir recursos e ações nesse contexto. São coletados dados variados sobre o meio ambiente dessa região: na água, na fauna e no clima. A Bacia Hidrográfica Taquari-Antas abrange 119 municípios. A UCS preside o Comitê de Gerenciamento dessa Bacia Hidrográfica, por meio do professor Daniel Schmitz. Segundo ele, "essa bacia atinge um quarto dos municípios do Rio Grande do Sul".
Schmitz também é presidente do Fórum Gaúcho dos Comitês de Bacias Hidrográficas, que prepara, para outubro, em Porto Alegre, o Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, que reunirá 130 comitês do Brasil. "Estamos sensibilizados também com a cooperação pela água, conforme define a ONU. O universo dos comitês pode ser diferente, mas a água é comum a todos eles. A água é o fator de desenvolvimento de uma região, mas pode também ser o fator inibidor desse desenvolvimento, quando não há a preocupação pela preservação dos ambientes naturais", enfatiza.
A UCS também está representada na vice-presidência do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Caí, através da professora Cláudia Hansel. Essa bacia é composta por 42 municípios de duas regiões distintas: os situados na Serra Gaúcha e os do Vale do Caí.
Os Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas são organismos instituídos pelo Poder Público, com base na Lei 10.350/94, como parte do Sistema Estadual de Recursos Hídricos, com atribuições específicas no gerenciamento dos usos e da conservação da água e dos corpos hídricos, tendo como base de planejamento e gestão a bacia hidrográfica.
Revista UCS - Publicação mensal da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.
O texto acima está publicado na segunda edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.