Pessoas criativas veem oportunidades em coisas simples e suas ideias são capazes de gerar transformações surpreendentes. São características que têm tudo a ver com a necessidade de reciclagem e aproveitamento de materiais que, em muitos casos, seriam dispensados.
Pensando de maneira sustentável, o que você faria com materiais como uma bicicleta ergométrica antiga, algumas peças de outras bicicletas e latões de óleo? O acadêmico do penúltimo semestre de Agronomia, Róger Castro, 25 anos, juntou esses e alguns outros materiais que tinha à disposição e criou uma Ergotrilha. Sim! Uma trilhadeira movida à bicicleta ergométrica, carinhosamente apelidada de "La bicicleta".
Róger uniu seus conhecimentos de proprietário de uma mecânica com os conhecimentos do curso de Agronomia na hora de definir o tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado no final do último semestre, denominado "Construção e avaliação de um protótipo de máquina trilhadeira de grãos para pequena propriedade". "Enquanto trilham-se os grãos aproveita-se para perder calorias", brinca o futuro engenheiro agrônomo.
O aluno comenta que o Brasil possui um grande potencial na agricultura vindo da pequena propriedade rural, maior produtora de alimentos no País. Porém, a mão de obra nessas propriedades é escassa e predominantemente familiar. E a tecnologia muitas vezes não chega até esse setor, devido ao elevado custo de investimento. Com isso, a busca de alternativas técnicas, que se ajustem às necessidades de pequenas propriedades, é uma proposta com alta prioridade para suprir a mão de obra do produtor; melhorar os índices produtivos e aumentar a rentabilidade de sua produção. "O meu trabalho avaliou a eficiência de uma máquina trilhadeira de baixo custo, construída com materiais em desuso e reutilizáveis. Nos primeiros testes, o equipamento apresentou uma eficiência de grãos trilhados sem dano mecânico de 90,6% e alta capacidade de separação da palha dos grãos pelo seu ventilador", explica.
O orientador do TCC foi o professor Carlos Danilo Sánchez-Chacón, responsável por lançar o desafio a Róger. O professor ressalta a importância da pesquisa nesse tipo de trabalho: "Sem dúvida, o TCC como disciplina formativa no curso de Agronomia atende a necessidade de o aluno conhecer o método científico, suas hipóteses, objetivos, metodologias e resultados conclusivos. Desperta a criatividade para o desenvolvimento das inovações tecnológicas para responder a uma determinada demanda. Novas ideias já estão borbulhando na cabeça do Róger, isso mostra que o objetivo maior através deste exercício, foi exitosamente alcançado", destaca o docente.
Soluções que vêm do lixo
Também na onda da sustentabilidade, um grupo de jovens pesquisadores não se importa em passar horas dentro do Laboratório de Pesquisa de Química dos Materiais, testando soluções para resíduos de poliuretano, um polímero que, se descartado na natureza, pode ser altamente poluente.
Marcos Vinicius Rizzo, 21 anos, e Willian Belincanta Ribeiro, 20 anos, do curso de Engenharia Química, e Yasmin Eccel Petereit, 19 anos, do curso de Engenharia Civil atuam no projeto APOTA (Avaliação do Potencial Termoacústico de Materiais Recicláveis para a Construção Civil), coordenado pelas professoras Maria Fernanda de Oliveira Nunes, do Centro de Artes e Arquitetura, Mára Zeni Andrade e Ana Maria Coulon Grisa, ambas do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia.
Os acadêmicos estão pesquisando alternativas para transformar resíduos de poliuretano, de descarte da indústria calçadista, em placas aglomeradas com adição de fibras naturais, como fibra de eucalipto e de bananeira, para serem utilizadas como isolante térmico e acústico na construção civil.
"É interessante como a pesquisa tem a capacidade de formar projetos multidisciplinares, em busca de um objetivo comum. O APOTA, por exemplo, conseguiu unir a necessidade de diminuir os resíduos poliméricos dos aterros sanitários e a demanda por materiais inovadores para solucionar o problema de conforto térmico e acústico gerado pelos grandes centros urbanos", destaca Marcos, que é bolsista de Iniciação Científica Probic/Fapergs.
Para Willian, que neste projeto é bolsista voluntário, "o uso da ciência, a criação de novas técnicas e a adaptação de técnicas existentes de modo criativo, visando à inovação e ao desenvolvimento sustentável, pode ser o diferencial de sucesso em um projeto, em uma empresa e até mesmo em uma nação". Tudo isso gera experiências que promovem avanços na vida intelectual do pesquisador. "Ocorre o aprimoramento do conhecimento, que vai além da sala de aula, com a aplicação da teoria na prática", ressalta Yasmin, bolsista Probic/Fapergs.
Para o Encontro de Jovens Pesquisadores deste ano, Yasmin desenvolveu o trabalho "Avaliação do desempenho acústico e térmico de aglomerados de poliuretano rígido com fibras de bananeira" e Marcos, "Avaliação do comportamento antichama de placas aglomeradas de poliuretano rígido com adição de fibras naturais".
(Texto: Juliana Rossa, Fotos: Daniela Schiavo)
Anualmente, a UCS realiza o Encontro de Jovens Pesquisadores, reunindo seus bolsistas de Iniciação Científica e de outras Instituições de Ensino Superior. Nesse ano, cerca de 300 estudantes participaram do XXI Encontro de Jovens Pesquisadores e da III Mostra Acadêmica de Inovação e Tecnologia. O Encontro e a Mostra apresentam os resultados da atuação dos acadêmicos em pesquisas, sob orientação de professores pesquisadores. No evento estavam inscritos 331 trabalhos, sendo 102 na área de Ciências Exatas, 113 na área de Ciências Humanas e Sociais e 116 na área de Ciências da Vida.
Revista UCS - Publicação da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.
O texto acima está publicado na quarta edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.
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