As discussões sobre o impacto das evoluções tecnológicas, ocorridas no início deste século, no futuro da humanidade soam obsoletas, pois aquele "futuro distante" já é parte do nosso dia a dia: aplicativos em celulares nos ajudam a achar o táxi mais próximo, a saber qual a rua menos movimentada em horários de pico e, até mesmo, a evitar lugares onde pessoas que consideramos desagradáveis se encontram. Expomos nossa vida em tempo real por meio de redes sociais, que estão entre as empresas mais lucrativas da atualidade. Mas de que forma esse "admirável mundo novo" está transformando instituições de ensino e a inserção no mercado de trabalho?
Nesse cenário de transformações tecnológicas, hoje qualquer dispositivo conta com elementos interativos, e tudo se integra através de conexões sem fio. É uma mudança tão impactante quanto irreversível, a ponto de colocar em xeque instituições tradicionais da sociedade, como é o caso da escola. "O ensino tem que mudar. Aquele modelo tradicional, com professor escrevendo no quadro e alunos copiando, não funciona para essa nova geração. Recursos tecnológicos são uma ótima ferramenta", comenta o coordenador do curso de Tecnologias Digitais da UCS, André Zampieri.
Se os Ensinos Fundamental e Médio, de modo geral, ainda não se adaptaram aos novos tempos, o mesmo não acontece com o Ensino Superior. É difícil imaginar a formação universitária sem o uso de um Ambiente Virtual de Aprendizagem, como suporte acadêmico; este é apenas uma possibilidade entre uma ampla gama oferecida pelas novas tecnologias. O ensino a distância já é uma realidade bem-estabelecida, e outra tendência que começa a ganhar espaço é a dos objetos de aprendizagem. Esses "objetos" são programas ou produtos tecnológicos voltados para o ensino - como jogos digitais, os chamados serious games. "Um jogo educativo, por exemplo, prende a atenção, tem desafios, interação, e até o fato de ganhar pontos e competir com colegas é um atrativo", explica Zampieri.
A demanda por profissionais especializados no desenvolvimento desse tipo de produto digital (que abrange centenas de áreas, desde simuladores industriais, passando por websites e chegando até o desenvolvimento de advergames, jogos online com fins publicitários) cresce a cada dia. Para Zampieri, a formação em Tecnologias Digitais é o caminho certo para os interessados em trabalhar na área. Ele explica que o curso é uma mistura entre "arte, comunicação e informática", e esse caráter interdisciplinar é ideal para as exigências de um mercado com necessidade cada vez maior por profissionais multidisciplinares.
Mas os planos futuros para o curso miram não apenas no panorama atual do mundo de trabalho, mas também em mercados ainda "a serem desbravados". Um deles é o de jogos de videogame, que ainda dá seus primeiros passos no Brasil. "O brasileiro tem a cultura de jogar. São 65 milhões de jogadores regulares no País, ou seja, que jogam pelo menos três vezes por semana. O sonho de uma indústria forte é possível", declara Marsal Branco, coordenador do curso de Jogos Digitais da Feevale, que, em parceria com a UCS, trará uma pós-graduação em Jogos Digitais para Caxias do Sul no início de 2014.
A palavra-chave para essa nova era de convergência tecnológica é "informação". Graças à internet, qualquer um pode se tornar produtor de conteúdo, e a oferta de conhecimento se tornou imensurável. Os ganhos são inegáveis: a democratização da informação possibilitou, por exemplo, o surgimento de organizações como o Wikileaks, dedicado à divulgação de documentos secretos de governos e corporações multinacionais. Mas já estamos começando a sentir o ônus desse avanço: o excesso de dados.
"Quanto mais estímulos chegam até o indivíduo, mais dificuldades ele tem para interpretá-los. Há o incomensurável número de dados, mas há igualmente o problema de assimilar isso e traduzir em informação útil. Dos vários estímulos que recebe ao mesmo tempo, qual será a profundidade no atendimento de cada um deles?", questiona a psicóloga organizacional Silvana Marcon (também diretora do Centro de Ciências Humanas da UCS), referindo-se ao fato de estarmos conectados às diversas plataformas simultaneamente.
"É a era da informação e desinformação. É o tempo da complexidade, em que as coisas conseguem conviver, mesmo sendo antagônicas", explica Marlene Branca Sólio, coordenadora da Pós-graduação em Comunicação Digital da UCS, explicando que hoje o mundo está dividido entre indivíduos que estão perdidos nesse "mar" de informações e entre indivíduos que conseguem filtrar e crescer graças a essa oferta. Essa problemática, portanto, não é um exagero: fala-se até em "dieta de informação". E como fica o profissional da Comunicação nesse turbilhão de mudanças?
Em 2008, o curso de Jornalismo na UCS passou por uma reformulação de currículo, quando foram adicionadas as disciplinas de Jornalismo Online e Laboratório de Jornalismo Online. A jornalista e professora Ana Laura Paraginski explica como essas mudanças ajudam o futuro profissional: "Não precisamos pensar somente no formando de Jornalismo, por exemplo, buscando emprego em um jornal, rádio ou TV. O profissional autônomo ganha maior espaço, visto que as ferramentas digitais que hoje existem possibilitam a realização de um bom trabalho sem estar atrelado a um grande veículo de comunicação", comenta, acrescentando que a assessoria de imprensa e o gerenciamento de mídias sociais são áreas que crescem cada vez mais.
Para o coordenador do curso de Jornalismo, Álvaro Benevenuto Júnior, apesar da mudança, a essência do exercício jornalístico continua a mesma. "No meu entendimento, não muda o jornalista, mudam, sim, as ferramentas que esse jornalista vai utilizar". E para ele, nem tudo é um "mar de rosas". Ele explica que as possibilidades de apuração de fatos via internet empobrecem a qualidade da produção de conteúdo. Além disso, a exigência de que o novo profissional da comunicação seja multimídia, para se adequar à área online pode constituir-se em um abuso do mercado: "Apostando no jornalista multimídia, faz-se uma opção por economia, mais trabalho para o profissional e menor gasto com pessoal. Mas o mercado esqueceu que o ambiente virtual necessita de designers, programadores e assim por diante", ou seja, a parceria entre as diferentes áreas do conhecimento em favor de objetivos comuns.
Você está sendo observadoEm maio de 2013, o estadunidense Edward Snowden tornou público, por meio de documentos internos da Agência de Segurança Nacional dos EUA, que o governo norte-americano monitora milhares de e-mails, troca de mensagens e históricos de navegação de internautas no mundo inteiro - incluindo aí civis brasileiros. A confirmação da existência desse Grande Irmão virtual, apesar de assustadora, soa longínqua. Mas práticas semelhantes já são comuns em nosso próprio "quintal", muda apenas o cliente - ao invés do governo, o mercado de trabalho.
Uma das ferramentas mais comuns em processos seletivos, hoje, é a análise de perfil em redes sociais, tanto para avaliar candidatos a empregos, quanto para buscar futuros empregados. "Atitudes e opiniões não se enxergam no currículo e, às vezes, conforme a maneira que o indivíduo se expõe, tem-se a possibilidade de avaliar que comportamento essa pessoa poderia ter na empresa e em grupos de trabalho", explica Silvana Marcon. Branca Sólio, porém, aponta a margem de erro nessa atividade. "Os usuários criam personagens para si próprios. Então, muitas vezes o personagem não condiz com a pessoa da vida real."
A partir da consideração de que nossas informações disponíveis em redes sociais são, teoricamente, eternas, esse processo de monitoramento pode se tornar um problema no futuro. A geração atual, que já cresceu inserida nas redes, poderá responder por seus comentários, postagens e ações de agora daqui a décadas, em entrevistas de emprego para empresas que utilizem esse sistema, por exemplo. Mais do que adotar produtos tecnológicos em sala de aula, a "escola do presente" deverá educar seus alunos a lidar com esses produtos. O salto evolutivo que a internet nos proporcionou é inegável, mas ele nos cobra o preço de parar para reavaliar hábitos e instituições.
A leitura é prerrogativa da vida acadêmica, seja para a busca de livros referentes às áreas de aprendizagem ou até mesmo pela literatura em geral. O avanço da tecnologia também influencia o mundo da leitura. Ao seguir essa linha de mudanças, os e-books começam a ganhar espaço em prateleiras - virtuais - das bibliotecas e no dia a dia das pessoas.
Os livros digitais podem ser lidos em eletrônicos como computadores, smartphones, tablets e nos apropriados e-readers. A maior vantagem dos e-books, em relação às obras físicas, é a portabilidade. "Os e-books são o futuro", comenta o coordenador técnico do sistema de bibliotecas da UCS, Marcos Leandro Hübner. Contudo, explica que isso não é um sinal do fim das obras físicas. Ele acrescenta que o novo formato tem uma aceitação alta por parte dos estudantes da universidade. Outro fator relevante, ainda segundo o coordenador, é a facilidade para o empréstimo dos livros, pois os e-books podem ser lidos por vários alunos simultaneamente.
A UCS teve o sistema de e-books instalado em abril de 2011, com a implantação da Biblioteca Virtual Universitária (BVU). Atualmente, conta-se com a assinatura de três bancos de livros digitais e cerca de 6 mil exemplares de e-books. Segundo Hübner, cerca de 20% dos acadêmicos têm um acesso regular à base. Mais uma vez, é a tecnologia a serviço da vida acadêmica.
As mudanças tecnológicas que tomam conta do século atingem também a educação. Assim, surge uma nova modalidade de ensino em expansão. O ensino a distância (EaD), sistema no qual a maioria das aulas é online, ganha espaço no meio acadêmico, principalmente por proporcionar flexibilidade de horário aos estudantes. Nos dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), referentes ao Censo de Educação Superior de 2012, o EaD representa cerca de 15% das matrículas no Ensino Superior.
Na UCS, o ensino a distância foi adotado para 11 cursos de graduação e dois de pós-graduação. A coordenadora da assessoria de EaD, Laurete Zanol Sauer, explica que atualmente nem todos os cursos da universidade podem ser realizados desta maneira e aqueles habilitados para essa modalidade de ensino possuem uma aula presencial para a aplicação de avaliação. Além disso, ela destaca a qualidade do ensino, que permanece igual à do modo presencial. "Nós temos muito a ganhar com a tecnologia", comenta a coordenadora, mas ressalta que é preciso uma adaptação por parte dos envolvidos.
As atividades realizadas nas aulas proporcionam autonomia para o aluno, ainda que não deixem de lado o acompanhamento do professor. Por meio do ambiente virtual, os estudantes tiram dúvidas e conversam com seus docentes. O EaD vem como uma nova oportunidade de aprendizagem para aqueles que não têm o tempo hábil para frequentar as aulas presenciais ou apreciam o uso das tecnologias na educação.
(Textos de Maíra Moraes, Mayara Bergamo e Pedro Rech, estagiários de Jornalismo do Frispit Portal - Agência Experimental de Comunicação)
Revista UCS - Publicação da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.
O texto acima está publicado na quarta edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.