"As medidas para se melhorar a qualidade de nossas águas envolvem obras de saneamento, mas não se restringem a elas"
Aproximamo-nos do fim do Ano Internacional da Cooperação pela Água. Por sua relevância, o assunto mereceu algum destaque nas mídias, geralmente com foco na necessidade de se fazer o uso racional desse recurso, e motivou diversos eventos ao longo de 2013. Dentre eles, dois dos mais importantes no País para o gerenciamento de recursos hídricos ocorreram no Rio Grande do Sul: o XV Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, realizado em Porto Alegre em outubro, e o XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, em Bento Gonçalves neste mês de novembro, do qual a UCS foi coorganizadora.
No primeiro, representantes das bacias hidrográficas de todo o Brasil trocaram suas experiências em gestão das águas, a qual registra muitos avanços desde a implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos há quase 17 anos. No segundo, publicaram-se os trabalhos desenvolvidos nas principais instituições de pesquisa científica do País em gestão de recursos hídricos e saneamento ambiental.
Se é um privilégio para o Rio Grande do Sul sediar eventos tão importantes, ainda não é motivo de orgulho a situação das águas no estado. São conhecidos os graves problemas de poluição de rios como o Sinos, o Gravataí e alguns tributários do Taquari-Antas. Sua degradação é resultado, principalmente, do lançamento de efluentes domésticos e industriais sem tratamento. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, o índice médio de tratamento de esgotos no Rio Grande do Sul, em 2011, era de apenas 15% do total gerado, o sexto pior resultado entre as unidades da Federação.
Outros fatores que também concorrem para a poluição dos rios se relacionam à drenagem das águas da chuva, que ¿lavam¿ a superfície das cidades e das áreas rurais. Na zona urbana, os resíduos sólidos dispostos de forma inadequada alcançam o leito dos rios e impactam negativamente o ecossistema aquático e as áreas ribeirinhas. Podemos observar o acúmulo de resíduos nas margens do rio Tega por quase dez quilômetros desde a saída do perímetro urbano de Caxias do Sul. Na zona rural, os dejetos da criação animal e os fertilizantes aplicados na lavoura aumentam nos rios a concentração de nutrientes como fósforo e nitrogênio. Tal impacto já se nota em alguns afluentes do Carreiro, do Prata e do Guaporé, com reflexos no próprio Taquari-Antas.
As medidas para se melhorar a qualidade de nossas águas envolvem obras de saneamento, mas não se restringem a elas. Projetos de Educação Ambiental que reforcem o vínculo do cidadão com os rios de sua vizinhança, de sua região, muito podem favorecer as boas práticas ambientais pela comunidade. A tarefa exige esforço; trata-se de um exercício contínuo, porém os reflexos serão percebidos positivamente na saúde pública e na qualidade de vida de todos nós.
Dr. Ludmilson Abritta Mendes, especialista em Recursos Hídricos do Instituto de Saneamento Ambiental
Revista UCS - Publicação da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.
O texto acima está publicado na sétima edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.