Leia, a seguir, trechos da entrevista feita com Paulo Ribeiro,
no dia 18 de agosto, pelo jornalista Jonas Rigotto, do Setor de
Imprensa da UCS.
Como foi o processo de escolha
"O processo de escolha do patrono é feito pelos integrantes
do Programa Permanente de Estímulo à Leitura (PPEL), órgão criado ainda na gestão
de José Clemente Pozenato, na Secretaria da Cultura. O PPEL também participa da
organização da Feira, juntamente com a
Academia Caxiense de Letras e os livreiros e editores de
Caxias. Na escolha do patrono, todos votam. No processo, são
sugeridos os nomes e a escolha é feita em assembléia. Antes, a
organização era responsabilidade da Biblioteca Pública".
A escolha
"E junto com a escolha do patrono vem o conjunto da obra.
Estou publicando agora em outubro, na Feira, meu nono livro.
Já tenho nove livros publicados. No ano que vem,
lanço meu 10º livro, sobre Iberê Camargo. Sem dúvida, a
escolha é pela trajetória, por esses livros publicados. E
também por um certo reconhecimento de crítica que tenho, que é
muito bom. Não sou um best-seller, nunca vendi rios de livros,
sou um escritor que vende pouco até pela natureza da literatura
que faço, é uma literatura mais elaborada, de trabalho
com a linguagem, de texto mais curto, não-linear, que expressa
uma fala de uma maneira simples dos meus personagens. São textos
de muita invenção, que exigem uma co-participação do
leitor, numa interatividade".
"Como não sou best-seller, tenho,
em contrapartida, uma boa leitura crítica. No próprio
meio literário, meus colegas reconhecem que Vitrola dos Ausentes
é uma novela que possa ficar. Porque além dela ser inventiva,
dou voz, pela primeira vez, a um pedaço do Rio Grande do Sul,
que nunca tinha sido contemplado pela literatura gaúcha, que é
esse cantão que se chama nordeste do Rio Grande do Sul, região
que compreende toda a região de São Francisco de Paula,
Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Bento Gonçalves,
Caxias do Sul, Bom Jesus, Vacaria. É uma parte do Rio Grande
que ainda não tinha sido mapeado pela literatura. A região
da campanha foi muito bem feita por vários autores, desde
Érico Veríssimo e Simões Lopes Neto, aí a fronteira
aparece muito. Mas nessa região, fora o Quatrilho, temos
poucas obras que
retratam nosso meio. Então, em função disso, pela inventividade
do Vitrola,
acredito que a escolha tenha sido em cima disso e também
pela minha trajetória. Vou para 25 anos de dedicação exclusiva
à literatura, inclusive com investimento
pessoal. E também, literalmente, porque vivo da palavra".
"A escolha é também uma homenagem da Feira à nossa diversidade
cultural, às etnias que formam Caxias do Sul, até porque a
cidade venceu a escolha para
ser a Capital Brasileira da Cultura e o lema da nossa candidatura era a
diversidade cultural. E também porque represento isso, por
ser um imigrante moderno, não nasci aqui, mas estou fazendo
minha vida e carreira em Caxias, e sou uma mistura de
negro com italiano, represento bem essa mistura de raças".
O comunicado
"Na verdade, nunca tive projeto de ser Patrono da
Feira de Caxias. No dia em que fui
comunicado, foi uma surpresa. O Antonio Feldman, secretário da
Cultura, me ligou para comunicar, e fiquei entre a surpresa
e alegria".
Ser patrono
"O patrono é o porta-voz da Feira, uma espécie de
Relações Públicas, alguém que chega para ajudar na
divulgação. O trabalho do patrono, além de colaborar
com sugestões para a programação, é participar de eventos
e de palestras que ajudam a divulgar a Feira. Além de ser o
anfitrião, o cicerone, vou estar na praça para
receber as pessoas.
A Feira de 2007
"A Feira de 2006 já havia sido muito bem organizada. A
Feira do Livro de Caxias cresceu muito, por ter começado
nos anos 70 com iniciativa de livreiros e escritores
muito humildes".
"Por volta de 1984, a Feira foi assumida pela Secretaria da
Cultura da Prefeitura. A partir daí ela nunca mais teve
interrupção, estamos
indo para a 23ª edição da Feira e o que se percebeu é que
a Feira cresceu muito, ela se profissionalizou e criou
muitas atrações paralelas, como debates, painéis,
mesas-temáticas, além disso tem diversos
programas vinculados à Feira, como o "Passaporte da Leitura",
o "Leitura nas Fábricas", que é levar o autor para
dentro de uma fábrica para conversar com os
trabalhadores. Esses programas paralelos e a estrutura –
hoje a praça está toda cobertura, pode chover que
não tem mais problema – aliado ao número de
escritores que aumentou, deve fazer desta Feira, uma das
maiores já realizadas".
"Este ano, haverá um Encontro Regional de Escritores para o qual
estão convidados escritores do Rio de Janeiro e São Paulo, como Zuenir Ventura,
Antonio Torres e Nelson Mota, e autores argentinos.
Temos a expectativa que, nesta edição, 200 mil pessoas
passarão pela praça Dante".
Capital Brasileira da Cultura
"A Feira do Livro tem essa grande responsabilidade que é o
primeiro evento depois da escolha de Capital Brasileira da
Cultura, então tem que ser uma feira especial, bem organizada,
de muito bom nível. Não diria que isso seria uma prova, até
porque Caxias do Sul não tem que provar nada para ninguém, mas
uma espécie de comprovação que a cidade merece o título".
Leitura constrói cultura
"É o tema da Feira do Livro 2007. A leitura constrói o
ser humano, como cidadão. Com leitura, a pessoa tem muito
mais capacidade de discernimento do mundo, de enxergar o
que é certo e errado, de não se deixar explorar ou manipular
e ter uma vida digna. Por mais que se tenha conselhos
ou vivência, na verdade, a formação do ser humano está
nos livros. Não vejo outra saída, principalmente
para aqueles menos favorecidos, a não ser uma boa educação e
uma formação paralela com a leitura. A partir disso é que se
pode pensar em ascensão na vida, em um mínimo de
horizonte no futuro. O maior legado que se pode deixar a
uma pessoa é a formação e um pouco de nível cultural".
|