Pesquisadores da UCS fazem o "Inventário da Diversidade Cultural da
Imigração Italiana".
A Universidade de Caxias do Sul aceitou o desafio
de participar de um projeto-piloto do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional - (Iphan), do
Ministério da Cultura, de realizar
o Inventário da Diversidade Cultural da
Imigração Italiana. O Iphan montou um grupo de
trabalho de Diversidade Linguística do Brasil, que
se dedica à criação de um inventário de línguas
brasileiras.
Segundo o coordenador deste projeto-piloto, o professor e
pesquisador José Clemente Pozenato, "há uma política da
Unesco de preservação da diversidade
linguística, inclusive no salvamento de línguas em extinção.
Coube a nós
realizar o levantamento do talian, uma variante do
dialeto vêneto". O talian nasceu no Brasil e é
praticado na região da Serra Gaúcha, porém não há um
registro oficial do número de pessoas que o utilizam.
"No entanto, o projeto-piloto irá atingir todo o país", enfatiza Pozenato.
O talian foi incluído entre as cinco primeiras
línguas a serem inventariadas no Brasil.
A professora Marley Terezinha Pertile, coordenadora
científica do projeto,
explica que um grupo (foto acima) de bolsistas da UCS –
dos cursos da área de Informática,
História, Geografia, Letras e Psicologia – já foi selecionado e
está trabalhando, há um mês, na localização desta língua: qual é
a população que a conhece; se ainda se fala e se é entendida;
se a comunidade identifica ou não o
talian; quais as instituições da comunidade
que trabalham com ela; qual faixa etária; entre outros aspectos. A pesquisa não é da Universidade
de Caxias do Sul, é da comunidade
que quer ver reconhecida o talian como língua brasileira,
construída aqui, mas
de origem da imigração italiana", explica a professora.
O estudo surgiu de uma demanda da comunidade local,
liderada pela Federação das Associações Ítalo-Brasileiras do
Rio Grande do Sul – FIBRA/RS, no sentido de seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial do
Brasil. O Iphan acolheu a solicitação e indicou o talian
como língua objeto para o projeto-piloto de inventário. Assim, três
entidades são parceiras na construção deste
inventário: a UCS, o
Instituto Vêneto e a FIBRA/RS. "A Universidade
de Caxias do Sul aceitou esse desafio pela responsabilidade
social do trabalho. Trata-se de uma
manifestação linguística que tem origem na região da UCS
e daqui se propagou em
outros estados. É o movimento da preservação do talian", afirma Pozenato.
"A comunidade deve se sentir copartícipe deste projeto.
Muitas línguas estão em
perigo de extinção e o mundo luta pela diversidade
linguística. No momento em
que se perde uma língua, se perde todo um saber, o
conhecimento. Quanto mais
línguas as pessoas dominarem, melhor para o mundo. Por si só,
a língua é uma riqueza", salienta a professora Marley, uma
vez que os idiomas são patrimônios
porque guardam a alma de um povo, sua história, seus
costumes e conhecimentos,
passados de geração em geração.
Culinária
O inventário inclui também a culinária da
imigração italiana. Essa parte da
pesquisa é coordenada pela professora Dra. Cleodes Maria
Piazza Julio Ribeiro,
diretora do Instituto Memória Histórica e Cultural da UCS.
Ela explica que "a pesquisa inicialmente busca detectar,
através do exame de correspondência das
administrações da colônia, que sementes eram distribuídas
aos colonos na
década de 70 até meados da década de 80 do século XIX.
A primeira pesquisa está
sendo feita no Arquivo Histórico Estadual de Porto Alegre,
mas é preciso saber
também o que se plantava na Itália, nesta mesma época".
O projeto tem como premissa teórica que a cozinha é um
discurso cultural, tem
seu léxico que corresponde ao nome das matérias-primas
com as quais se elabora qualquer prato. "E tem sua sintaxe que se
traduz no modo de fazer o prato. Tem toda uma
retórica que disciplina a ordem dos pratos à mesa", pondera
Cleodes.
Como a língua falada, todo o sistema alimentar contém e
expressa a cultura de
quem a pratica, incluídas suas tradições e funciona como
elemento de identidade
do grupo.
Ecirs
O trabalho que está sendo desenvolvido tem um
grande respaldo: a UCS, por meio do projeto Ecirs –
Elementos Culturais das Antigas Colônias Italianas do
Nordeste do Rio Grande do Sul, hoje integrado ao Instituto Memória Histórica e
Cultural, vem há 30 anos fazendo o registro e a
valorização do patrimônio cultural da imigração italiana do Rio Grande do Sul.
Como consequência desse trabalho, o Ecirs já foi, por
duas vezes, contemplado com o Prêmio
Rodrigo Melo Franco de Andrade (Iphan/MinC), por sua ação destacada
no campo de documentação
e análise.
Texto publicado no Atos & Fatos 805. Fotos: Aldo Toniazzi, Daiane Nardino e
Douglas Trancoso
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