UCS participa do desenvolvimento de tecnologia para obtenção do etanol a partir do bagaço da cana-de-açúcar.
O aprimoramento de um fungo que vem sendo desenvolvido
desde 1979 no
Instituto de Biotecnologia
poderá auxiliar no fomento à produção de etanol brasileiro,
considerado atualmente o combustível que menos contribui
para o efeito estufa, o principal causador do aquecimento
global. O acordo de colaboração que será assinado no
próximo dia 16 de dezembro entre a UCS e
o
Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE),
laboratório nacional ligado ao Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT), visa ao
desenvolvimento de um processo mais econômico para a
obtenção das enzimas responsáveis pela
quebra do bagaço e da palha de cana-de-açúcar
- e a consequente liberação de açúcares para a produção de
etanol por fermentação.
Três imagens do fungo mutante de Penicillium echinulatum
aprimorado pelos pesquisadores do Instituto de Biotecnologia: no
microscópio eletrônico, no microscópio óptico e em tubo de ensaio.
O CTBE, em parceria com a UCS, busca tornar econômica
a produção de etanol e, juntamente com pesquisas
desenvolvidas por outras universidades e institutos de pesquisa
públicos e privados, elevar a participação do Brasil na fabricação
mundial do combustível. O Programa do Etanol Brasileiro,
lançado inicialmente como forma alternativa ao petróleo,
hoje é visto como uma das principais formas de amenizar os
efeitos do aquecimento global, assunto em discussão na Conferência
Mundial do Clima, que ocorre até o dia 18 de dezembro em
Copenhague, na Dinamarca.
Participam da cerimônia de assinatura do acordo,
o reitor da UCS, professor Isidoro Zorzi, o diretor do
Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, Marco Aurélio Pinheiro Lima, e
o pesquisador do CTBE José Geraldo da Cruz Pradella. Durante o evento,
na próxima quarta-feira, às 14h, no auditório do Bloco 57,
ocorrerá também uma palestra sobre a inserção do CTBE no
Programa do Etanol Brasileiro.
As vantagens do etanol
O grande interesse pelo álcool proveniente do
bagaço da cana-de-açúcar pode ser facilmente explicado.
Segundo o coordenador do grupo de pesquisas sobre "Enzimas e
Biomassas" do Instituto de Biotecnologia,
professor
Aldo Dillon, com a produtividade da cana no Brasil chegando
a mais de 80 toneladas por hectare/ano, gera-se do
caldo, após a moagem, cerca de 6.400 litros de etanol
por fermentação. "Isso também resulta em aproximadamente
11,2 toneladas de bagaço de cana. Considerando-se que
cerca de 38% do bagaço é composto de celulose, haveria
um total de 4,25 toneladas de celulose que poderiam
ser quebradas por enzimas, gerando um adicional de
cerca de 2.690 litros de etanol", explica.
Dillon completa que o grande desafio que caberá a UCS
junto com o CTBE, nos próximos 18 meses, é baratear a
produção dessas enzimas, cujo alto custo ainda é
um desafio mundial, mesmo para países como o EUA ou
para as empresas líderes do mercado mundial.
Para se ter uma idéia dos volumes brasileiros de
etanol, o país produziu em 2008 cerca de 27 bilhões de
litros de etanol. Destes, um volume recorde 5,16 bilhões
foi exportado, correspondendo a um volume 45,7% superior
ao cerca de 3,5 bilhões de litros exportados em 2007.
"Pela análise do governo, esses mais de 5 bilhões de litros
equivalem a mais do que o dobro de exportações de
toda a gasolina exportada pela Petrobras em 2008", explica
Dillon.
Os pesquisadores Aldo Dillon e Marli Camassola, no laboratório de Enzimas, no Instituto de Biotecnologia.
Para a diretora do Escritório de Transferência de Tecnologia - ETT/UCS,
professora Rejane Rech, esse convênio coloca a
pesquisa desenvolvida pela Instituição no nível das
melhores universidades do país, provando
a maturidade dos estudos realizados aqui. "A parceria mostra
também a vinculação da UCS com as demandas da sociedade,
neste momento em que se têm buscado soluções para a
preservação do planeta", avalia Rejane. A diretora
completa que o CTBE reúne as melhores instituições
brasileiras que fazem pesquisa em bioetanol. "Isso permitirá
que, dentre as novas tecnologias dali derivadas e que
serão posteriormente licenciadas ao setor produtivo,
estarão importantes contribuições do
Programa de Pós-Graduação
em Biotecnologia da UCS", projeta.
O CTBE
Conforme o professor Aldo Dillon, a fundação do
CTBE teve sua origem na tentativa de responder a uma
pergunta formulada por um grupo de cientistas
brasileiros, liderados pelo físico Rogério Cézar de
Cerqueira Leite, em um estudo iniciado em 2005.
Dele participaram 16 instituições brasileiras, entre elas a
UCS. "O que é preciso ser feito para que o Brasil substitua
10% da gasolina utilizada no mundo por etanol de cana de açúcar?"
Mais: qual fonte de energia renovável que atinge eficiência
energética semelhante a do petróleo, mas não carrega seus
problemas? Para alguns países essa pode ser uma questão
complexa. Já para o Brasil a resposta é fácil: o etanol de
cana-de-açúcar e quem sabe também o bioetanol, como é
chamado o etanol proveniente de resíduos lignocelulósicos,
dentre os quais o bagaço e a palha de cana.
No país o etanol é utilizado como combustível automotivo em
duas versões: álcool hidratado (em carros a álcool ou flex fuel)
e álcool anidro (adicionado à gasolina na proporção de 25%).
O primeiro tipo possui 7% de água na mistura, enquanto o
segundo, no máximo, 0,7%. A produção dá-se através da
fermentação do caldo ou do melaço da cana, via ação
de leveduras da espécie Saccharomyces cerevisiae.
Outra fonte importante de obtenção de etanol é o milho,
como ocorre nos EUA, que juntamente com o Brasil responde
por cerca de 70% do etanol produzido mundialmente.
Outras fontes bem menos expressivas são a sacarose da
beterraba (União Européia), a mandioca e o trigo, podendo
ser utilizada a própria uva.
A maioria desses vegetais (que são constituídos de amido),
entretanto, possui uma desvantagem em relação à cana.
É que para produzir etanol a partir deles é preciso
primeiro transformar o amido em açúcar, para depois
fermentá-lo em etanol. Esta etapa adicional diminui
ainda o rendimento do processo e aumenta os custos de
produção. Para se ter uma idéia, enquanto os EUA gastam
1 unidade de energia equivalente de combustível fóssil
para gerar 1,3 unidades de etanol, no Brasil, a mesma
unidade produz entre 8 e 9 unidades de etanol de caldo de cana.
A questão ambiental
Outro argumento em favor de etanol brasileiro é o
aumento da demanda mundial por energia ocorrido
nas últimas décadas. Isso fez com que países
industrializados e emergentes iniciassem uma série de
pesquisas sobre novas fontes energéticas, principalmente
de origem renovável. O professor Aldo Dillon esclarece que novamente
o etanol de cana sai na frente, pois possui uma
matéria-prima de baixo custo, tecnologia consolidada,
além de o Brasil dispor de grandes áreas que podem ser
utilizadas, sem comprometer espaços tradicionalmente
utilizados para a produção de alimentos ou mesmo a região
amazônica. O que precisa ser feito agora é estudar formas de
aproveitar industrialmente a biomassa integral da
cana-de-açúcar (e não apenas o caldo). "É aí que entra a
colaboração da pesquisa em enzimas desenvolvida na UCS",
completa Dillon.
Fotos: Jonas Ramos e imagens de Marli Camassola
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