Bolsas na graduação: "Estar em uma universidade é descobrir um mundo novo, pleno de possibilidades" - Franciele Becher
Franciele Becher, 24 anos.
Licenciada em História pela UCS. Bolsista do ProUni,
de 2007 a 2009. Bolsista PIBIC/CNPq, de 2008 a 2009.
Cursa o Mestrado em História da UFRGS com bolsa do CNPq,
desde março de 2010. Franciele colabora
com o Observatório de Educação da UCS.
Quando você soube que tinha
conseguido uma bolsa de estudos
na graduação, qual foi o seu primeiro sentimento e a
sua maior preocupação?
|
Consegui minha bolsa do ProUni quando já tinha completado
mais da metade dos créditos do curso de Licenciatura Plena em
História (fui selecionada no processo de
"bolsas remanescentes").
Lembro que vibrei muito quando soube que tinha sido uma
das duas contempladas com uma bolsa integral, no curso de
História. A bolsa veio num momento bem delicado, em que eu
estava desempregada. Mas, além disso, conseguir a bolsa
significava também poder traçar outros planos na minha
trajetória acadêmica. Poderia mudar minha área de atuação
profissional - que até então nada tinha a ver com a
profissão de pesquisadora/professora de História. A partir
do ProUni, consegui me candidatar a uma bolsa de iniciação
científica. Num primeiro momento, atuei como voluntária;
depois, fui bolsista CNPq. Essa experiencia com a pesquisa
foi decisiva em muitos aspectos. Além de ter conseguido
aliar muitos aprendizados teóricos do curso de História
à prática educativa (fui bolsista do Observatório de Educação
da UCS, sob orientação da prof. Dra. Nilda Stecanela),
consegui montar o projeto de mestrado que apresentei na
UFRGS e na UCS.
Meu projeto foi aprovado nos dois programas, mas optei por
cursar na UFRGS, com bolsa integral do CNPq.
Como você se recorda hoje do seu primeiro dia de aula na
universidade?
|
Tudo era um mundo muito "novo". Sair com a pasta da UCS
escrito o nome do curso sempre me pareceu uma vitória,
já que poucos na minha família conseguiram chegar ao
Ensino Superior. Sabia que ia ser complicado pagar os
estudos, que teria que conciliá-los com um emprego, mas eu
sabia que daria conta disso. Meu primeiro dia de aula foi
numa terça-feira, numa disciplina introdutória que versava
sobre a Realidade Brasileira. Minha paixão pela História
começou desde as primeiras aulas, desde os primeiros
contatos com o conteúdo das disciplinas.
O que significa um diploma de curso superior para você e
de que maneira isso pode mudar o seu futuro?
|
Um diploma de Ensino Superior sempre foi um objetivo pra mim,
desde o início do Ensino Médio. Significa muitas coisas:
curiosidade; vontade de fazer algo diferente, pensando-me
enquanto cidadã (não foi por acaso que optei pela docência
precisamente na área de história); e, claro, a possibilidade
de conseguir ter um futuro mais estável.
O
que significa estar em uma universidade?
|
Significa estar em contato com o conhecimento, poder
refletir sobre os problemas que vivemos em sociedade,
apontando caminhos, possíveis soluções. Sempre encarei
com muita seriedade meus estudos, no Ensino Superior
isso se somou ao meu amadurecimento (pessoal e teórico).
Estar em uma universidade é descobrir um mundo novo, pleno de
possibilidades.
Costumo comentar com meus alunos, principalmente quando
eles vêm de contextos socieconômicos mais desfavorecidos, que
nós nunca devemos desistir dos nossos objetivos. Que, citando
Brecht, "nada é impossível de mudar". Há uns 7 anos atrás, não
via como realmente concreta a possibilidade de finalizar o
Ensino Superior. Hoje, estou fazendo mestrado em uma
universidade federal, mudei-me de cidade, pesquiso um tema
que julgo bastante importante. Acho que os passos pra isso
envolvem muita perseverança, ousadia, objetivos claros.
Tive sorte de encontrar no meu caminho muitas pessoas
que acreditaram que eu poderia ir em frente, isso também foi
imprescindível. Mas, de pouco vale se não tivermos em mente
o que realmente queremos ser, ou para que estamos escolhendo
uma profissão.
Por que você escolheu estudar História?
|
É difícil precisar o momento, mas
posso afirmar que esse processo teve a ver com um
certo sentimento de indignação: a história do século XX nos
mostra, em diversos momentos, o quanto o homem pode
descer à barbárie em busca de objetivos que nunca
contemplam a maioria. O mundo da docência me fascinou desde o
início do curso. Eu sempre senti uma vontade enorme de
problematizar junto com os meus alunos os problemas,
as mazelas da sociedade. É corrente um sentimento de
"anestesiamento crítico" de boa parte das pessoas, que
desconhecem a história recente de sua própria comunidade,
de seu país. Que ignoram que o mundo, infelizmente, cada vez mais,
volta-se para um recorrente desrespeito dos direitos humanos.
Acredito que devemos, sim, interferir nos destinos políticos de
nosso país e, nesse sentido, a História (e, precisamente, a
docência), nos proporciona uma análise mais refinada e crítica
sobre todas essas questões, que se distancia de uma observação
asséptica, indiferente.
|