Uso de subprodutos industriais na construção civil: pesquisadores apresentam resultados.
Estudos de pesquisadores do Centro de
Ciências Exatas e Tecnologia - CCET apontam para a viabilidade do
uso de subprodutos industriais na construção civil.
A preocupação de algumas empresas com os impactos ambientais
causados por resíduos de suas atividades vem crescendo.
Atentos a essa realidade, pesquisadores do CCET desenvolvem o
projeto "Estudo da Viabilidade de Utilização de Subprodutos
Industriais na Produção de Materiais Construtivos – Fase
Pré-Industrial", através do qual
pesquisaram, durante três anos, uma solução para o
reaproveitamento de dois tipos de resíduos industriais:
areias descartadas de fundição e cinzas pesadas de
carvão mineral.
Os subprodutos foram avaliados como possíveis substituintes
da areia quartzosa de rio (areia natural) na produção
de blocos para a construção civil, já que a extração
contínua dessa matéria-prima gera modificações ambientais.
A substituição da areia por subprodutos industriais é uma
maneira de diminuir o impacto ambiental, além de dar
uma destinação correta aos resíduos.
O projeto foi realizado através de um convênio entre a
UCS e as empresas caxienses Grupo Voges, Fundição Rio Branco
e Módulo 2. O estudo apontou que a utilização
das cinzas pesadas de carvão mineral e/ou areias descartadas
de fundição, em substituição à areia quartzosa na produção
de blocos de concreto, não modifica as características
técnicas nem altera a toxicidade dos produtos
quando confrontada com as de blocos produzidos com areia
quartzosa, ou seja, os blocos produzidos com os
subprodutos industriais não são tóxicos. Dessa forma, os
resultados do estudo indicam que a substituição da
areia quatzosa é viável tecnicamente, constituindo-se
numa alternativa para o aproveitamento dos subprodutos
industriais avaliados.
O projeto foi coordenado pelo professor José Luiz Piazza,
que pesquisa a utilização de subprodutos industriais desde a
década de 1980. Também participaram os professores Albano
Luiz Weber, Givanildo Garlet, Rosane Lanzer e os
bolsistas de iniciação científica Milena Gedoz e Mário
César Vebber. O projeto é gerenciado pela Coordenadoria de
Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, através da Agência de
Projetos.
Para o professor Piazza, o projeto contempla três
importantes aspectos: "a preservação dos recursos naturais,
a contribuição para se minimizar as áreas de armazenamento
dos rejeitos industriais e, ainda,
uma alternativa viável para a construção civil".
Sobre os subprodutos industriais
As areias descartadas de fundição, repassadas para a
pesquisa pelas empresas caxienses Fundição Rio Branco e Grupo
Voges, constituem-se como o principal resíduo sólido das
empresas de fundição, sendo geradas na etapa de confecção e
desmoldagem de peças metálicas. Segundo dados da Associação
Brasileira de Fundição (ABIFA), no ano de 2007, a
utilização de areias de fundição alcançou três milhões de
toneladas. Essas areias apresentam metais e,
eventualmente, fenóis (material proveniente da resina
utilizada para aglomeração dos grãos)
que são poluentes para o meio ambiente.
Já as cinzas pesadas de carvão mineral apresentam, na sua
composição, metais e não podem ser dispostas no
meio ambiente sem que cuidados especiais sejam tomados.
Um dos motivos da inclusão do uso dessas cinzas ocorreu porque,
ao contrário das cinzas leves, seu
aproveitamento é bastante restrito, segundo informam os
pesquisadores do projeto. A empresa Tractebel, através de
sua Unidade Termelétrica de Charqueadas (RS), doou as cinzas
que foram utilizadas no projeto.
Confecção dos blocos e construção de protótipos
A confecção dos blocos utilizados na pesquisa
(com medidas de 14 x 19 x 39 cm) foi realizada pela
empresa Módulo 2, sob a supervisão dos
técnicos do projeto, que primeiro produziu as amostras
para testes e, depois, os blocos que foram utilizados
na construção de cinco diferentes protótipos de ensaio.
Esses protótipos, de 12m² cada, foram construídos em
uma área de 150m², localizada na Cidade Universitária.
Nas fotos de Jonas Ramos, detalhes dos protótipos
de ensaio construídos com os subprodutos estudados.
Além do protótipo de referência, produzido com areia
quartzosa, foram construídos outros quatro,
com o uso de diferentes composições de
areias descartadas de fundição e cinzas pesadas de carvão.
Esses protótipos foram monitorados durante onze meses e as
águas coletadas passaram por diversas análises.
Cada protótipo possui um sistema de armazenamento de
água da chuva, que possibilita a verificação da
presença de resíduos e de substâncias tóxicas
nas águas coletadas.
Constatou-se, mediante análises das águas coletadas,
a presença de resíduos de metais e fenóis consideravelmente
abaixo do limite dos padrões do Conselho Estadual
do Meio Ambiente (CONSEMA). Em relação à
resistência mecânica, os blocos, independentemente de
sua composição, apresentaram propriedades situadas
dentro dos limites estabelecidos pelas normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Fotos: Jonas Ramos
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