EDUCS lança "Vivências de gestantes e mães com HIV" em simpósio sobre a saúde da mulher e o HIV.
O livro "Vivências de gestantes e mães com HIV" parece,
à primeira vista, uma cartilha. Daquelas que vêm com
perguntas e respostas e têm a pretensão de esgotar um
determinado assunto. Mas, logo nas primeiras páginas, a
impressão é outra e o que se vê é uma multidão de vozes
que se sobrepõem ao texto claro, didático e emocionado das
autoras, pesquisadoras na área da saúde.
Vozes que vão conduzindo o leitor para uma realidade que não
costuma aparecer nas novelas nem nos telejornais: a vida das mulheres
-mães e gestantes- que vivem com o vírus do HIV, sigla que
vem do inglês e significa Síndrome da Imunodeficiência Humana.
Ao mesmo tempo em que se dirige a elas, o livro também as acolhe e
lhes dá a palavra. O texto tem assim um tom de roda de conversa,
onde se está entre amigas e se pode "abrir o coração" para falar
de coisas mais íntimas e pessoais. A intimidade do universo feminino
já se manifesta no projeto gráfico da capa e nas ilustrações
internas feitas especialmente para o livro pela artista Márcia Marostega, de Santa Cruz do Sul. Logo se percebe que um
tema sério como a AIDS também pode ser tratado com leveza,
como nos mostra esta mãe HIV positivo, com 24 anos e um filho
de 4 meses:
"Comecei de novo a me divertir, vou em baile, festa,
churrasco com os amigos. Agora já tem sexta-feira lá em Passo fundo.
Luan Santana espera por nós".
VIDA REAL
Denominadas apenas como "Gestante HIV +" ou "Mãe HIV +",
as mulheres ouvidas pelas autoras participam de grupos de
discussão e de entrevistas nas cidades de Caxias do Sul e de
Porto Alegre. Fazem parte, portanto, de um microcosmo. Mas, é como se
cada uma delas falasse em nome de tantas outras ainda sem voz,
pontuando o texto com suas dúvidas, com suas angústias e
perplexidades, mas também com suas certezas, sonhos e esperanças.
Com estas falas, o texto não apenas transcende o aspecto didático
como se transforma numa narrativa emocionada, identificando o leitor
com as histórias de vida que podem ser vislumbradas entre uma fala e
outra.
Em pouco mais de 100 páginas, as autoras conversam sobre as
inúmeras questões que angustiam a gestante ou mãe que vive com o HIV.
Estão ali o diagnóstico que ninguém espera, o medo de contar ao
parceiro, o sentimento de culpa, a busca pelo atendimento, o
tratamento, o medo e o desejo da maternidade, os cuidados com a
gravidez, o parto, a amamentação e os cuidados com os filhos, os
serviços de atendimento. Entre cada definição, explicação ou
orientação, uma fala
vem nos lembrar que se trata de vidas e pessoas reais, como esta
gestante HIV +, de 29 anos, no 9º mês de gestação:
"Quando eu engravidei, pensei: Tenho que ficar viva. Eu tomo
os remédios - para a saúde da criança, tanto que meu HIV tá dando
indetectável. Agora eu me informei, tomei o remédio, já posso
fazer planos tendo uma expectativa melhor para o futuro. E eu
tenho novas atitudes - é mais fácil de se defender do preconceito, tu
tá mais informada, fica mais preparada psicologicamente. A AIDS já foi
um bicho de sete cabeças, agora não é mais, hoje tem tratamento".
Ao final, uma lista de palavras importantes e seus significados
assim como uma relação de endereços onde se pode buscar orientação e
apoio, nos lembra que ainda há muito a fazer no que se refere às
estratégias de prevenção, atendimento e melhora na qualidade de vida
das mulheres
HIV positivo. O livro é assim uma contribuição de pesquisadores
da Universidade de Caxias do Sul e do Johns Hopkins University (EUA)
para que a informação e o conhecimento chegue a um
número maior de mulheres, ajudando-as a "transpor os muros
invisíveis a que estão arraigadas nos seus imaginários, acobertadas
por anos de cúmplices silêncios", como preconiza a assistente social
Joana Jobim no texto que encerra o livro.
AS AUTORAS
As autoras são pesquisadoras
da área da saúde e participam do projeto de pesquisa "Depressão
Perinatal" realizada em parceria pela
Johns Hopkins University e o Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS da UCS, com finaciamento
do US National Institutes of Health através do Fogarty Internacional
Center, dos Estados Unidos.
Claudia Bisol é psicóloga clínica e professora do curso de
Psicologia da UCS. É doutora em Psicologia pela UFRGS. Suas pesquisas,
na interface da Psicologia/Educação, visam compreender os processos de
inclusão e grupos especiais; na interface Psicologia/Saúde
atua no Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS da UCS.
Andrea Vazzano é mestranda em Saúde Pública pela Johns
Hopkins University. Trabalha em pesquisa sobre gestantes brasileiras
HIV positivo e estuda o stress perinatal e seus efeitos sobre o parto e
pós-parto em mulheres e adolescentes no Centro Médico da Columbia
University (EUA) Tem especial interesse em pesquisas sobre
desigualdades no atendimento à saúde.
Judith Bass é professora do Departamento de Saúde Mental
da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health. Doutora em
Epidemiologia Psiquiátrica pela Johns Hopkins University, Judith
tem interesse em aprender com as populações locais
sobre saúde mental e seus problemas psicossociais, usando esses
conhecimentos para planejar, monitorar e avaliar serviços de saúde.
Já realizou pesquisas na Uganda, República Democrática do Congo,
Indonésia, Colômbia e, atualmente, no Brasil.
LANÇAMENTO
Publicado pela Editora da Universidade de Caxias do Sul -
EDUCS em parceria com Johns Hopkins University e financiamento do
US National Institutes of Health/Fogarty International Center,
"Vivências de gestantes e mães com HIV" terá distribuição gratuita
em entidades e organizações de todo o país que atuam no apoio e
orientação a mulheres e gestantes.
Será lançado com a presença das autoras, no dia 23 de março,
às 17 horas, durante
o Simpósio - A Saúde
da Mulher e o HIV,
a realizar-se pelo Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS
e o Johns Hopkins University, no auditório do Bloco J, na
Cidade Universitária. Sua primeira edição tem 3 mil exemplares.
Imagens: Márcia Marostega
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