Mulheres transformam comunidades de 50 bairros de Vacaria em territórios de paz.

"Eu queria ajudar as pessoas". Esse era o desejo de Rosinha Córdova de Moraes ao se inscrever para participar do Projeto Mulheres da Paz, uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Vacaria e a UCS, por meio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça. Porém, a necessidade de ajudar de Rosinha esbarrava na sua falta de informação. "Precisava fazer algo pra melhorar a vida das pessoas, mas não sabia como. Foi no Mulheres da Paz que vi a chance de buscar alternativas pra isso".

As alternativas vieram com um curso de capacitação somente para mulheres, desenvolvido e realizado pelo Campus Universitário de Vacaria, no qual as participantes estudaram temas como Direitos Humanos, Acesso à Justiça, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Maria da Penha, entre outros. A partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas, o grupo de mulheres passou a atuar em duplas nos seus bairros, divulgando e implementando ações de orientação para prevenir e reduzir a violência. Hoje Rosinha atende a famílias no Bairro Barcelos, na zona leste do município.

No Projeto Mulheres da Paz, Rosinha (foto à direita) encontrou meios para auxiliar as pessoas.

O desejo de ajudar a sua comunidade é compartilhado pelas outras 85 mulheres que hoje integram o projeto. Maira Dal Ponte e Maria do Carmo Borges participam do projeto e atuam no Bairro Fátima, região central de Vacaria. Há 14 anos como voluntária em um programa de apoio e orientação a dependentes químicos e seus familiares, Maira resolveu fazer mais pelo próximo. "Ajudar nunca é demais, é uma satisfação. E é bom pra nós que fazemos as visitas e pra quem nos recebe em suas casas". Já Maria do Carmo sentiu, nos momentos de solidão, a necessidade de fazer a diferença no mundo e o Projeto deu-lhe essa chance. "Viúva, aposentada e com os filhos criados, resolvi cuidar de mim mesma ao cuidar dos outros".

No dia em que conversamos com Rosinha, a sua companheira de dupla não pôde comparecer à entrevista. Ana Paula Artuzo estava se preparando para dar à luz. Ketlyn foi o nome escolhido para a menina que nasceu na quarta-feira, dia 21 de março, em um mundo menos violento e mais humano, que a sua mãe, Rosinha, Maira, Maria do Carmo e todas as outras "mulheres da paz" ajudaram a construir para ela.

Para Maira e Maria do Carmo ajudar o próximo é uma via de mão dupla.

Equipe multidisciplinar
Nas visitas que fazem, as mulheres dão orientações aos moradores e diagnosticam situações de vulnerabilidade envolvendo, principalmente, crianças e jovens. Para dar os encaminhamentos necessários à cada situação, elas contam com o apoio de uma equipe multidisciplinar formada por psicólogas, assistentes sociais e psicopedagogas. Para a coordenadora do Projeto, professora Maria Beloni Toledo Rodrigues, "o trabalho é um grande desafio, mas que se mostra muito gratificante, tanto pelos resultados que estamos conseguindo, quanto pela comunidade que se sente mais valorizada".

De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Social e Habitação, Valdecir Panisson, os mais de 60 mil moradores da cidade só têm a ganhar com o trabalho realizado pelas mulheres capacitadas pelo Projeto. "O município sempre esteve atento às necessidades das suas comunidades e o trabalho das mulheres como mediadoras de conflitos vai nos dar subsídios para fortalecer e implantar políticas públicas. O Projeto Mulheres da Paz abrange 50 dos 52 bairros de Vacaria.

Encerramento
Em 21 de maio, as mulheres integrantes do Projeto se reúnem para receber seus certificados de participação. A cerimônia inicia-se às 15 horas, no Centro Socioeducativo Dom Orlando Dotti, e vai contar com a presença da secretária nacional de Segurança Pública, Regina Mikki. Após a entrega dos certificados, as mulheres continuarão visitando, de forma voluntária, as famílias das comunidades de Vacaria, até que uma próxima turma do projeto inicie sua capacitação.

Fotos: Daniela Schiavo