Primeira Defesa de Dissertação no Mestrado Profissional em Biotecnologia e Gestão Vitivinícola.
João Carlos Taffarel estudou o perfil da vitivinicultura realizada no município de Farroupilha, visando
melhorar a produção das vinícolas que compõem a AFAVIN.
A evolução tecnológica da cadeia produtiva da uva e do vinho é
um dos desafios enfrentados pelo setor vitivinícola brasileiro,
majoritariamente concentrado no Rio Grande do Sul, mais
especificamente na região
da Serra Gaúcha. Este foi um dos aspectos que justificaram a
criação pela Universidade de Caxias do Sul do
Mestrado
Profissional em Biotecnologia e Gestão Vitivinícola, vinculado ao
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia . Iniciado em 2011, com conceito 4 da
CAPES, esse mestrado,
com ênfase em enologia,
viticultura e gestão vitivinícola, foi criado para
qualificar os profissionais do setor, fazendo a interrelação entre a
investigação, o ensino, a produção e a indústria.
"O Brasil é um país emergente na área vitivinícola,
consolidando-se progressivamente na produção de sucos,
espumantes e vinhos finos. A interação entre conhecimento,
inovação e setor produtivo é a chave para tornar
o setor vitivinícola competitivo em nível nacional e internacional", explica o coordenador do Mestrado,
professor Sergio Echeverrigaray Laguna.
Estudos em sintonia com uma demanda do setor produtivo
Nesta quinta-feira, 18 de julho, João Carlos Taffarel
defendeu a primeira dissertação do Mestrado Profissional
em Biotecnologia e Gestão Vitivinícola, evento acadêmico
onde o mestrando apresenta perante uma banca
examinadora o resultado de dois anos de estudos. A dissertação
recebeu a nota máxima e foi avaliada pelos pesquisadores: Dr. Jorge Tonietto (EMBRAPA Uva e Vinho),
Dr. Alexandre Hoffmann (EMBRAPA Uva e Vinho) e o professor Dr.
Gabriel Fernandes Pauletti (UCS). A orientação da
pesquisa foi realizada pela professora Dra. Ivanira Falcade.
João Carlos Taffarel é analista da
Embrapa Uva e Vinho,
de Bento Gonçalves, onde ocupa o cargo de supervisor
do Setor de Gestão, Prospecção e Avaliação de Tecnologias,
com a participação direta em projetos
ligados à vitivinicultura, zoneamento e transferência de
tecnologia. Além da sua atuação na Embrapa
Uva e Vinho, João Carlos também é viticultor e diretor
técnico da Cave Antiga Vitivinícola Ltda.,
uma das quinze vinícolas que integram a Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos Espumantes,
Sucos e Derivados – AFAVIN. Licenciado em Ciências pela
UCS (1991) com especialização em Vitivinicultura
(2005), João Carlos trouxe para o Mestrado a sua experiência
profissional na Embrapa Uva e Vinho e na vitivinicultura, além
das
suas demandas como empresário do setor vitivinícola, o que está
bem de
acordo com a configuração de um mestrado profissional, modalidade de
curso de pós-graduação stricto sensu concebida pelo MEC
para incentivar a formação de mestres habilitados no
desenvolvimento de atividades e trabalhos técnico-científicos
em temas de interesse essencialmente tecnológico,
estreitando as relações entre a universidade e o setor
empresarial.
"A Embrapa sempre nos motivou a realizar diversos
treinamentos e aperfeiçoamentos profissionais, só que estudar
conciliando com o trabalho é bastante difícil, mas desta vez
os moldes de curso oferecido pela UCS interessaram-me muito e eu decidi enfrentar o novo desafio. O mestrado profissional permitiu-me essa
alternativa de aperfeiçoamento profissional e, o que é mais
importante, permitiu-me conciliá-lo com o
meu dia a dia profissional, diferentemente do que acontece com
outros cursos de pós-graduação com dedicação
exclusiva. Este é o primeiro mestrado profissional no Brasil
neste segmento, onde existe uma carência de
aperfeiçoamento profissional de enólogos e profissionais que
atuam diretamente com a cadeia produtiva."
O perfil da vitivinicultura realizada em
Farroupilha
No mestrado, João Carlos estudou o perfil da vitivinicultura vinculada à Associação Farroupilhense de
Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (AFAVIN) e
a identificação de gargalos como subsídio
para a definição de demandas e transferência de tecnologia.
O recém mestre explica de que maneira essa pesquisa pode
contribuir para a qualificação das vinícolas associadas à
AFAVIN.
"A Embrapa Uva e Vinho em parceria com a Universidade de
Caxias do Sul vem desenvolvendo, em parceria com
a AFAVIN, a "Indicação de Procedência Farroupilha" e a minha
pesquisa vem contribuir no sentido de identificar
o perfil dos agentes envolvidos, tanto os produtores de uvas
como as vinícolas vinculadas ao projeto. A partir
desse perfil foi possível identificar gargalos tecnológicos da
produção de uvas e das vinícolas.
A minha contribuição é propor mecanismos de transferência de
tecnologia para superar alguns desses gargalos e
identificar demandas de pesquisa e desenvolvimento, bem como
ações de políticas públicas que não dependem de
transferência de tecnologias nem de pesquisa e desenvolvimento".
Segundo a professora Ivanira Falcade, orientadora de
João Carlos no Mestrado, as indicações geográficas (IG’s)
são formas de distinguir um produto, de referir um local ou uma
região onde uma mercadoria foi produzida, que, por sua vez,
apresenta características
originadas dos fatores naturais e humanos da sua produção.
No Brasil, além de produtos, as IG’s também podem
ser de serviços. As IG’s são de dois tipos: indicação de
procedência e denominação de origem. Neste momento,
a AFAVIN busca conseguir para seus produtos o signo distintivo de
Indicação de Procedência, registro que é feito
pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI.
Uma tradição que valoriza o produto e
conquista o consumidor
"Referir o lugar de produção é uma tradição antiga no
mundo do vinho". A professora Ivanira Falcade revela
que a UCS possui professores/pesquisadores especialistas em
diversas áreas relacionadas ao setor vitivinícola
que colaboram na elaboração dos processos visando à
certificação dos produtos de uma determinada região.
"No Brasil, o uso dos signos distintivos das IG’s é um processo
em construção que, para vinhos finos tranquilos e espumantes,
se iniciou com o Vale dos Vinhedos, depois em Pinto Bandeira e
Altos Montes. Na região da Serra Gaúcha, desde a
década de 1990, muitos produtores de vinhos finos e espumantes
têm se organizado em associações em cujos
objetivos também se inclui a implementação de uma Indicação
Geográfica. Para isso, as associações, como a
AFAVIN, buscam o apoio técnico da Universidade de Caxias do Sul,
da Embrapa Uva e Vinho, da Embrapa Clima
Temperado e da UFRGS, que, em parceria e com apoio financeiro de
agências de fomento como FINEP e FAPERGS,
desenvolvem pesquisas que resultam em documentos técnicos
(por exemplo, o mapa da delimitação da região, a
definição dos vinhos e espumantes, o regulamento de uso e as
normas de controle, entre outros) que serão
usados pelas associações nos pedidos de registro no INPI".
A pesquisadora acrescenta ainda que as Indicações Geográficas,
além de estimular a produção com qualidade e agregar
valor aos produtos,
podem ser usadas como uma forma de comunicação estratégica
para diferenciar um produto e conquistar
consumidores e mercados exigentes.
Para João Carlos, as estratégias de competitividade do
setor vitivinícola precisam ser revisadas, com
uma nova postura no aspecto produtivo e mercadológico. Ele
acredita que programas de modernização e
capacitação profissional tornam-se cada vez mais
necessários para tornar o Brasil reconhecido mundialmente
como produtor de vinhos. "As Indicações Geográficas vêm
contribuindo para esse incremento na produção e o
papel da Embrapa e da UCS é importantíssimo nesse processo, pois
elas são interlocutoras do desenvolvimento
e do reconhecimento da produção vitivinícola regional".
Em busca da inovação tecnológica
O Mestrado Profissional em Biotecnologia e Gestão Vitivinícola e
as pesquisas na área da Vitivinicultura
desenvolvidas na UCS visam aumentar o potencial interno de
geração, difusão e utilização de conhecimentos
científicos no processo produtivo da cadeia da uva e do vinho,
conforme a política industrial em vigor.
No caso da AFAVIN, a UCS participa da pesquisa para o
desenvolvimento da Indicação de Procedência
Farroupilha para vinhos moscatéis, coordenada pela Embrapa Uva e
Vinho, com a participação direta dos professores Ivanira
Falcade e Siclério Ahler, que atuam principalmente, na delimitação e a caracterização ambiental da
região, incluindo o mapeamento, além da comprovação do reconhecimento da região e da elaboração do
regulamento de uso, num trabalho em parceria com pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho e produtores da
AFAVIN. A professora Ivanira acrescenta que para a delimitação
da região, por exemplo, estão sendo usadas
informações do Cadastro Vitícola e para o mapeamento são usadas
imagens de satélite em sistemas de
informação geográfica (SIG).
É nesse contexto de interação entre a Universidade e o setor
produtivo que se desenvolveram os estudos
de mestrado de João Carlos. A partir de agora, além do título
de mestre, ele leva para a sua vida
profissional o conhecimento que possibilita inovar e crescer.
Sua orientadora comemora este marco do Mestrado
e elogia o novo mestre: "A participação do nosso mestrando
tem sido muito importante no desenvolvimento da
IP Farroupilha, pois ele está integrado no grupo não só como
técnico da Embrapa Uva e Vinho, mas também como
produtor de vinhos finos tranquilos
e espumantes da região. Certamente, sua dissertação
contribuirá com um conhecimento
específico e detalhado da vitivinicultura da região, o que
permitirá a tomada de decisões, quer no âmbito do
sistema de pesquisa, quer no âmbito do sistema produtivo".
Fotos: Daniela Schiavo e AFAVIN/Rovana Del Salvio.
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