INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
BIOTECNOLOGIA: INPI concede à FUCS Patente de Invenção para processo de biorremediação utilizando-se fungos Pleurotus spp.
Carta-Patente concedida pelo Instituto
Nacional de
Propriedade Intelectual (INPI) à Fundação Universidade de
Caxias do
Sul, em junho deste ano, tem como base o trabalho de
Doutorado, da
professora Stela Maris da Silva, a
primeira profissional a defender Tese de Doutorado no Programa
de Pós-Graduação em Biotecnologia da UCS.
Pesquisadores e gestores da Instituição
falam sobre a importância da concessão da Carta-Patente.
Em 2002, quando Stela Maris da Silva, então professora do
ensino
médio de uma escola de São Lepoldo, ingressou no Mestrado em
Biotecnologia da UCS, ela não imaginava até onde aquela decisão
poderia levá-la. Logo após a conclusão do Mestrado, onde
estudou a
"Otimização das condições de cultivo sólido de Pleurotus
sajor-caju
em meio constituído de serragem de Pinus spp", com a
orientação do professor Aldo J.P.Dillon, Stela deu continuidade à sua formação
de pós-graduação, ingressando no Doutorado em Biotecnologia
da UCS, que acabara de ser autorizado pela CAPES. Com o auxílio de uma bolsa de 50% do
CNPq/CAPES e, contando novamente com a orientação do professor
Aldo, Stela foi estudar o
"Crescimento e capacidade de biosorção de metais por
Pleurotus sajor-caju, em cultivo líquido e em cultivo
sólido". Como pós-graduanda, teve
a possibilidade de participar, pelo Programa
Alfa, de estágios na Escola Superior de Engenharia da
Universidade de Poitiers, na França, e no Departamento de
Engenharia da Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza,
Argentina. E, naturalmente, antes mesmo de concluir o
Doutorado, já tinha um convite para ingressar no quadro
docente da Universidade Nacional de Cuyo, onde hoje
se destaca como professora e
pesquisadora, tendo em seu currículo projetos premiados de
formação de empresas de base tecnológica (EBTs) na cidade de Mendoza,
como a
BIOPRO e a BIOCROM.
Resumo da Carta-Patente |
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Processo patenteado permite a
remoção de metais pesados de líquidos e/ou águas contaminadas,
a partir da utilização de uma
biomassas composta de fungos
Pleurotus spp para a remoção de cobre, ferro, alumínio,
zinco, níquel e cromo pela bioadsorção.
Os metais pesados estão entre os poluentes mais comuns
encontrados
em efluentes industriais e podem ser tóxicos, carciogênicos ou
mutagênicos, mesmo em baixas concentrações.
Este processo
constitui-se em um tratamento
biológico alternativo e economicamente viável tanto para
recuperação do efluente como para recuperação de bens metálicos. |
Ciência aplicada ou aplicação da Ciência?
Realizado em tempo recorde - menos de três anos - o projeto
de Doutorado de Stela foi a base da pesquisa que
deu origem a dois pedidos de
registro de patente, um deles concedido pelo
INPI no início de junho, tendo como autores, os pesquisadores
Aldo J. P. Dillon, Stela Maris da Silva, Letícia Osório da Rosa,
Johnny Ferraz Dias (UFRGS) e Maria Lúcia Yoneama (UFRGS).
"Ter uma patente ou o pedido de duas patentes no currículo é
como
uma marca genética, que demonstra que no meu DNA estava o
gene da tecnologia que, creio,
foi despertado pelo contato com o professor Aldo e pela
visão que
ele tem de Ciência. Na época, ele era um dos poucos
pesquisadores da UCS que tinha a visão tecnológica e que
buscava esse tipo de desenvolvimento nem sempre entendido como
Ciência verdadeira. Hoje, ele e todos nós estamos
colhendo os
frutos dessa visão inovadora".
Para o professor Mauricio Silveira, que, em 2007, era o
coordenador
de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade, a história desta
patente, iniciada há cerca de 10 anos, "é mais uma evidência
que
atesta
claramente a competência do grupo de pesquisa coordenado pelo
professor Aldo Dillon, que, é interessante destacar,
tem reconhecimento nacional em linha de pesquisa
diferente daquela que gerou esta patente. De fato, o sucesso
do momento não é um fato isolado,
mas sim uma consequência de anos de atividades do grupo,
que
sempre realizou, com qualidade, tudo o que envolve a pesquisa e
o desenvolvimento tecnológico no ambiente universitário". E,
relembrando uma citação antológica de Louis Pasteur,
um dos pais da Biotecnologia, Mauricio
coloca um pouco mais de luz no
debate sobre Ciência, Ciência aplicada e desenvolvimento
tecnológico, que complementa a fala de Stela: "não há
Ciência aplicada, existem sim aplicações da Ciência".
Inovação e Geração de Receita
"Uma patente é um direito
cedido pelo Estado que dá ao seu titular a
exclusividade temporária da exploração de sua invenção".
O professor
Matheus Parmegiani Jahn, do Escritório de Transferência
de Tecnologia (ETT/UCS), considera que a concessão de uma
Carta-Patente é de vital importância para o desenvolvimento
tecnológico, pois "além de estimular a inovação também
possibilita, aos interessados na invenção, o acesso ao seu
conteúdo. O depósito de um Pedido de Patente já confere uma
expectativa de direito para seu titular, isto é, a criação
intelectual já está protegida, mas é a Carta-Patente que
assegura
oficialmente a seu titular os direitos de exclusividade
sobre a
exploração econômica da invenção".
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Laboratório de Enzimas e Biomassas do IB/UCS |
Para o vice-reitor e pró-reitor de Inovação e Desenvolvimento
Tecnológico, professor Odacir Deonísio Graciolli, "a Instituição
entende que este resultado acadêmico pode também gerar
resultados econômicos de forma a fomentar a própria pesquisa".
Titular de uma pró-reitoria que vem atuando no sentido
de dar uma maior visibilidade aos programas e ações voltadas
para a inovação e o empreendedorismo,
o professor Odacir esclarece que a Universidade tem contrato com um escritório que permite encontrar
empresas interessadas em negociar as patentes de propriedade da
UCS.
Em 2014, a FUCS já recebeu duas
Cartas-Patentes de pedidos depositados anos atrás. "Isso advém
de uma estratégia da
Universidade, iniciada anos atrás, de incentivar a proteção,
através de patentes, das tecnologias desenvolvidas dentro da
Instituição, promovendo também a capacitação dos pesquisadores
quanto ao
registro dos produtos e processos gerados por suas pesquisas na
Instituição. Esses dados também se refletem no bom
posicionamento da UCS
no ranking das universidades brasileiras, como uma Universidade
Inovadora", conclui o professor Matheus, que também atua
como pesquisador na área das Ciências Biológicas.
Instituto de Biotecnologia: onde
nasceu a pesquisa com base tecnológica na UCS.
Stela Maris da Silva desenvolveu seus estudos de Mestrado e
Doutorado
no Laboratório de
Enzimas e Biomassas, do Instituto de Biotecnologia da UCS. Foi
nesse Instituto que se formou,
em meados da década de 1970, o primeiro núcleo de
pesquisadores em Biotecnologia, com um projeto de pesquisa,
financiado pela FAPERGS, para desenvolver uma tecnologia
microbiana capaz de controlar a acidez málica dos vinhos. Foi essa pesquisa
que originou o primeiro
registro de patente - no Brasil e nos
EUA - de um processo desenvolvido por pesquisadores da
Universidade de Caxias do Sul, processo que hoje já
é de domínio público.
O professor Aldo J.P. Dillon (na foto à direita),
juntamente com
Juan Luis Carrau Bonomi, Luciana
Atti Serafini e Mirian Salvador são os autores da primeira
patente da UCS. Trinta anos depois, ele continua - agora no
oitavo
ano na função de
coordenador do Programa de Prós-Graduação em Biotecnologia - a
colaborar para a concretização da missão institucional, de
produzir e socializar conhecimento relevante para o avanço da
sociedade. "O conceito 5 do Programa de Pós-Graduação em
Biotecnologia resulta
da produção científica e tecnológica dos docentes e
pós-graduandos do nosso Programa, que está entre os melhores
avaliados na área de Biotecnologia da CAPES. A patente
recém-concedida
deve contribuir favoravelmente para a pontuação do
PPGBIO/UCS na CAPES, visto que uma patente concedida
na área da Biotecnologia recebe o mesmo valor de um artigo
A1 (índice de impacto ≥ 4,3), somando 100 pontos.
Caso ocorra licenciamento da patente este valor sobe para
5 A1, somando 500 pontos na avaliação do Programa.
Compartilhando com o pró-reitor de Inovação e
Desenvolvimento Tecnológico as preocupações quanto à
transformação do conhecimento em soluções que façam
avançar os níveis de desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico, o
professor Aldo ressalta a importância social da
Universidade de Caxias do Sul para a comunidade na qual está inserida há quase 50 anos.
"A concessão desta patente está
perfeitamente enquadrada no contexto de uma região que é o
segundo polo metalmecânico do Brasil e que apresenta um
grande passivo ambiental, decorrente das cargas liberadas de
efluentes, ricos em metais pesados tóxicos ao meio ambiente".
Ele destaca que o Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da UCS
cumpre seus objetivos de formar pessoal altamente qualificado
e gerar produção técnico-científica de qualidade. A grande
expectativa agora é que ela venha a ser licenciada".
Da iniciação científica ao doutorado,
estudando os macrofungos.
Foi na condição de estudante de Ciências Biológicas e
bolsista
de Iniciação Científica (BIC/UCS) que Letícia Osório da
Rosa (foto à esquerda) ingressou, em 2005,
no Laboratório de
Enzimas e Biomassas, onde permaneceu até 2010, sempre
estudando macrofungos
(cogumelos e orelhas de pau). E, por um tempo, suas atividades
de pesquisa com Pleurotus spp
forneceram importantes subsídios para
projeto de Doutorado de Stela Maris da Silva. Aqui, vale
enfatizar que, a
interação entre
estudantes de graduação e pós-graduação em atividades de
Pesquisa é uma condição que, nos últimos anos, tem colaborado
para os bons resultados da avaliação do MEC sobre as
condições de oferta dos cursos da
UCS. Ao concluir a graduação em Ciências Biológicas (Bacharelado e Licenciatura), Letícia já
tinha no currículo
publicações e a co-autoria em três pedidos de
registro de patente junto ao INPI, em processos envolvendo
macrofungos.
O ingresso no Mestrado em Biotecnologia, com uma bolsa do CNPq,
foi um processo
natural e, em 2013, ela obteve o título de Mestre em
Biotecnologia, com a
dissertação "Levantamento de
macrofungos (filo Basidiomycota, subfilo Agaricomycotina) do
nordeste do Rio Grande do Sul e avaliação do seu potencial
ligninolítico" desenvolvida com a orientação dos professores
Aldo J.P. Dillon e
Ronaldo Adelfo Wasum. Hoje, como estudante do
Doutorado em Biotecnologia, orientada pela professora Marli
Camassola, ela continua no Laboratório de Enzimas e Biomassas e
dá continuidade, em níveis
bem mais avançados, aos estudos com macrofungos. "Este ano estou
tendo a oportunidade de dar sequência ao trabalho da doutora
Stela Maris da Silva, que eu acompanhei durante o meu início na
pesquisa cientifica, no Laboratório de Enzimas e Biomassas
e é muito gratificante poder tratar deste assunto novamente".
Fotos: Daniela Schiavo, Letícia Osório da Rosa, Jênifer Ambrozini da Silva e Rahyssa Chagas.
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