Medicina Veterinária: um Zoológico como laboratório.
Com objetivo de ampliar a compreensão
sobre espécies silvestres, o Zoológico da
Universidade passa a funcionar como espaço acadêmico do
curso de Medicina Veterinária.
Alvejada por um tiro que a atingiu de raspão no peito,
a Curicaca caiu de um pinheiro no interior de Caxias do Sul.
Capturada pela fiscalização, foi levada ao Jardim Zoológico da
UCS. Ali recebeu os primeiros cuidados,
ficou em observação por um tempo, e já exibia uma boa
recuperação quando cerca de 23 acadêmicos do curso
de Medicina Veterinária observavam os ferimentos da ave,
durante o encontro de Ornitopatologia, na tarde da última
terça-feira, dia 19.
Oferecida aos alunos do 7º semestre, a disciplina é um dos
diferenciais da própria Universidade, uma das únicas
instituições do Estado a contar com Zoo no seu
Campus-Sede. Nesse espaço acadêmico, os estudantes entram
em contato direto com espécies silvestres de aves, acabam
tendo maior
amplitude de conhecimentos sobre a vida animal e, por
consequência, melhor preparo caso sejam exigidos durante a
vida profissional.
"Os animais silvestres têm uma característica diferenciada em
relação às demais espécies: não apresentam sintomas.
Caso eles fiquem apáticos na natureza, podem ser capturados
por predadores. Por isso, eles acabam usando todos os
recursos do organismo para se manter vivos", explica a
professora Juliana Aquino Pletsch, que ministra a disciplina e
atua como veterinária no Zoo da UCS há 18 anos.
As aulas se dividem em encontros teóricos e práticos.
Durante as atividades, os alunos aprendem técnicas de
contenção dos bichos, observação clínica e também administração
de fármacos. Conforme a professora, nos casos dos animais
silvestres, o trabalho de nutrição e os cuidados
higiênico-sanitários são muito importantes. "Os acadêmicos
precisam diferenciar o que é normal ou não na ave,
já que ela não apresenta um quadro sintomático", explica.
Durante a aula, Juliana utilizou a Curicaca para demonstrar
como deve ser contido um animal e quais os cuidados
necessários na hora de examiná-lo. Além disso, pela mudança de
habitat – necessário para efetivação do tratamento –
os animais podem estranhar o espaço e acabam evitando os
alimentos. Juliana apresentou aos alunos técnicas de
alimentação forçada do bicho, por meio da administração de
vitaminas, para que o animal não morra por inanição. "É preciso
dedicar atenção aos detalhes para que a ave não seja
machucada", observa.
Com olhares atentos, os acadêmicos observavam com atenção a
cada novo ensinamento. Normalmente acostumados aos trabalhos
com animais de produção, como bovinos e equinos, ou com
espécies domésticas, como gatos e cachorros, os estudantes se
deparam com uma nova realidade no Zoo.
"É um universo completamente diferente ao que se
tem até então. Por serem silvestres, precisam ser
contidos para o tratamento, em vista do temperamento das
espécies”, avalia a acadêmica Barbara Guzzon, de 24 anos.
Colega de Bárbara, Daniel Fantinel era um dos mais atentos
durante as aulas. Além do entendimento sobre as espécies
silvestres, ele demonstrava atenção especial às aves.
"Os mamíferos, por exemplo, são mais fáceis de associar.
Já com aves essa relação é mais complexa",
descreve o rapaz ao lembrar que entre as aves os organismos
variam bastante de características entre as espécies.
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Barbara, Daniel e Elisa durante aula de Ornitopatologia no Jardim Zoológico. |
Para a acadêmica Elisa Biasin, de 22 anos, a diversidade
de conteúdos aprendidos ao longo do curso, indo de espécies
silvestres a animais domésticos, passando pelo controle de
zoonoses, demonstra a importância do médico veterinário para a
sociedade. "As pessoas talvez não conheçam a importância de
um veterinário, mas a atuação dele é necessária para toda a
sociedade", ressalta a jovem, sem esquecer que é indispensável
também para a saúde de todas as espécies. Sejam silvestres
ou não.
De acordo com a professora Juliana, a ideia é ampliar a
atuação do Jardim Zoológico no
curso de Medicina Veterinária. Além da Ornitopatologia,
nos próximos semestres, mais uma disciplina deve ser
ministrada naquele espaço: Medicina de Animais Silvestres,
em que além dos estudos sobre as diferentes espécies, os
alunos poderão avaliar as principais situações clínicas na
rotina de jardins zoológicos.
Fotos: Claudia Velho.
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